Fama, sapatos altos e ambição feminina à americana
A filha de Diana Ross a interpretar uma cantora superestrela? Sim, é isso que temos em A Nota Perfeita, de Nisha Ganatra. Tracee Ellis Ross veste a pele de uma daquelas divas pop que seduzem o cinema pelo pavonear de uma impaciência natural e estilo caprichoso que não perdoa o mínimo deslize dos lacaios. O seu nome é Grace Davis e a assistente que se amanha na tarefa de responder a todas as suas exigências tem o rosto angélico de Dakota Johnson.
Se a princípio é esta dinâmica simples e já muito estudada que se dá a ver, o filme quer falar-nos ainda de outra coisa: como é que as mulheres se mexem numa indústria - neste caso, da música - dominada pelos homens? Entre a comédia dramática ligeira e o comentário social, a realizadora de Programa da Noite parece ter assentado na temática da luta feminista em ambiente de trabalho.
De facto, esse filme anterior, protagonizado por uma Emma Thompson em modo anfitriã-de-talk-show-com-pozinhos-de-O-Diabo-Veste-Prada, não se distingue muito de A Nota Perfeita. Basicamente, a realizadora Nisha Ganatra transferiu o olhar sobre o meio laboral da comédia televisiva para os bastidores do universo do espetáculo e produção musical, dando margem para Tracee Ellis Ross explorar todo o glamour feminino e potência mediática da sua imagem (recorde-se que ela foi também modelo na vida real).
Já Dakota Johnson é a jovem azafamada que, afinal, tem sonhos mais altos do que ser apenas pau para toda a obra de uma cantora pop mega famosa... Não que ela desvalorize esta última, bem pelo contrário. É justamente por ver um genuíno talento a ser sugado pelos vampiros da indústria que a humilde assistente alimenta o desejo de se tornar produtora desse ícone chamado Grace Davis - presente em inúmeros outdoors de Hollywood. Mas para o conseguir é preciso saltar o muro masculino que resguarda os movimentos da estrela. Johnson não vai lá com punho cerrado; é a postura de boa alma que a safa num filme que assume esse mesmo tom simpático, com modesta ambição feminina.
Se é verdade que, por um lado, Ganatra desconstrói rapidamente o cliché da diva má, aproximando as narrativas geracionais das duas mulheres, por outro, o filme cai na dimensão romântica de "sábado à tarde" com extrema facilidade, sem dar tempo de se construir as bases sólidas de uma crítica à cultura da decisão masculina naquela indústria de entretenimento. Como se, apesar de alguns diálogos interessantes à volta de referências do firmamento da música americana, a nota perfeita do título fosse procurada nos detalhes mais triviais, como o brilhozinho nos olhos e os sonhos realizados.
Mais uma vez à semelhança de Emma Thompson em Programa da Noite, também a personagem de Tracee Ellis Ross está a atravessar a crise da idade da reforma, com os fantasmas do fim de carreira a fazerem-na descer à terra. Mas isso não constitui aqui um problema de gente grande. Para quase tudo em A Nota Perfeita o remédio pode ser um descapotável com o volume do rádio bem alto a passar um êxito das Destiny"s Child.
** Com interesse