Experience+Innocence. A digressão europeia dos U2 começa esta sexta-feira envolta em controvérsia
Os U2 iniciam uma nova digressão europeia esta sexta-feira, em Berlim, na Alemanha. Experience+Innocence, que apresenta o 14.º álbum de originais da banda irlandesa, passa por Portugal a 16 e 17 de setembro. Os concertos na Europa ainda não arrancaram mas o espetáculo tornou-se polémico depois de o vocalista ter publicado uma reflexão sobre o futuro da União Europeia no jornal alemão Frankfurter Allgemeine.
Experience+Innocence estreou-se a 2 de maio na cidade norte-americana de Tulsa. A digressão com 59 concertos de apresentação do álbum que lançaram em dezembro do ano passado, Songs of Experience, é a continuação de Innocence+Experience (2015). As semelhanças técnicas entre os dois espetáculos são nítidas, mas o sistema sonoro e os ecrãs foram melhorados. Há ainda uma experiência de "realidade aumentada" no início do concerto para quem descarregar a aplicação U2 Experience.
O alinhamento do espetáculo, que desiludiu muitos dos seguidores da banda no concerto de abertura, exclui vários hinos do grupo de Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen, como With or Without You, Where The Streets Have No Name (ou I Still Haven`t Found What I`m Looking For (todas de 1987). Os clássicos ficaram de fora pela proximidade temporal com a anterior digressão da banda - dos 30 anos do álbum The Joshua Tree - que, no ano passado, revisitou o alinhamento na íntegra do álbum que estava a comemorar três décadas.
No entanto, os irlandeses decidiram compensar os mais conhecedores da sua obra com a oportunidade de ouvir ao vivo Acrobat (1991). A canção do álbum Achtung Baby nunca tinha sido tocada antes em concerto. Juntam-se à lista I Will Follow (1980), Cedarwood Road (2014), Song for Someone (2014) ou Sunday Bloody Sunday (1983).
Prestes a iniciar a parte europeia da digressão, o vocalista dos U2 escreveu um artigo, esta semana, no diário alemão Frankfurter Allgemeine a defender o projeto europeu e a criticar as ameaças ao mesmo. "A Europa é um pensamento que precisa de se tornar um sentimento", afirmou Bono.
"Dizem-me que uma banda rock está no seu melhor quando é um pouco transgressiva: quando alarga as fronteiras daquilo que se considera bom gosto, quando choca, quando surpreende. Bom, os U2 começam uma digressão em Berlim esta semana e tivemos uma das nossas ideias mais provocadoras: durante o concerto, vamos agitar uma bandeira grande, luminosa, azul da União Europeia", escreveu.
Paul Hewson, o nome verdadeiro do vocalista dos U2, saúda ainda no texto a Alemanha pela sua política de ajuda aos refugiados, enquanto lamenta a atitude dos países que não se juntaram aos alemães. Esta não é a primeira vez que o músico critica a política de ajuda a quem se desloca do seu país por causa da guerra.
Bono é aliás conhecido pelo seu envolvimento em causas sociais e políticas. Colabora com várias organizações não governamentais, como a Amnistia Internacional. Há 15 anos fundou a organização One que se dedica à luta contra a pobreza extrema e ao combate à SIDA no continente africano. O cantor de 58 anos chegou mesmo a ser considerado, em 2003, 2005 e 2006, um candidato de peso ao Nobel da Paz.
As mudanças no mundo não preocupam só o vocalista da banda. O grupo desde sempre usou os seus concertos para passar mensagens políticas. Em The Joshua Tree, o ecrã panorâmico gigante projetou imagens de migrantes a caminharem no deserto numa referência à situação da Síria.
Esta digressão serviu aliás para marcar um compasso de espera até ao lançamento de Songs of Experience, uma vez que a banda quis refazer parte do álbum para incluir uma reflexão sobre a eleição de Trump e a saída do Reino Unido da União Europeia. "De repente, o mundo mudou. E nós pensámos, "calma lá, temos que parar um pouco para pensar neste disco e como ele se relaciona com o que se está a passar no mundo", explicou The Edge à revista americana Rolling Stone.
Experience+Innocence passa pela Altice Arena, em Lisboa, a 16 e 17 de setembro. Esta é a sexta vez que a banda irlandesa vem a Portugal. A última foi em 2010, quando trouxeram a 360º Tour ao estádio da cidade, em Coimbra.
A digressão termina em casa. O último concerto está marcado para 10 de novembro em Dublin, Irlanda.