O que vai ser este DocLisboa 21? Miguel Ribeiro- Vai ser uma celebração. Preparámo-lo como quem prepara uma festa. No fundo, vai ser um regresso a uma intensidade, a uma forma de estar e de circulação de ideia e de pessoas. Trata-se de uma surpresa feliz saber que o festival vai poder realmente acontecer de modo coletivo e presente. Desta vez nem vai ser híbrido, a ideia é mesmo recuperar o cinema como espaço físico, tal qual como era. Claro que mostramos filmes mas interessa-nos sobretudo que esses filmes sejam ponto de partida para outros filmes e para certas conversas. Joana Sousa- Nestes dois últimos anos aprendemos imenso e, por isso, vamos fazer com que as atividades de indústria sejam híbridas - o online possibilita coisas que o presencial não possibilita e vice-versa: são coisas que se complementam... Seja como for, para além do saudosismo, percebemos que é na sala onde queremos estar..Mas vão sair correntes, tendências desta vossa seleção? JS- É sempre engraçado sentir ecos entre os filmes de secção entre secção, mas reparámos que é possível encontrar uma visão de movimento, entre olhar o passado e construir o futuro, passando pelas migrações até aos movimentos pessoais através de relatos de viagem, mudanças de casa, etc. Movimentos tão macro como micro. Passámos confinados este tempo todo e agora lá vamos nós viajar... MR- Numa altura em que o mundo se fechou sentimos que se trabalhou muito essa ideia do lá fora. Sente-se um sentido de expansão de filme para filme. É uma sensação interessante. JS- Óbvio que temos filmes que foram atravessado pela pandemia, mas mesmo aí não se nota uma claustrofobia, enfim, filmes que não são fechados em si próprios. MR- Trata-se de cinema consciente de que o mundo não se fechou..São três diretores jovens, nomeados após a saída de Cíntia Gil - vamos sentir essa vossa juventude na programação? MR- Se a juventude no cinema corresponder a curiosidade, então vamos ter filmes muito jovens. JS- Sim, filmes com questionamento e com desejo de transgressão e risco. MR- Mas essa sempre foi uma característica deste festival. O cinema documental - o que quer que isso seja - parte de uma curiosidade e de querer pensar o mundo à nossa volta e essas são características habitualmente associadas à juventude. Joana Gusmão- Além da irreverência e da rebeldia, há também um olhar atento ao que se passou. Os nossos programadores são muito ecléticos e têm todos idades diferentes. É importante referir que não somos apenas três pessoas. Toda a programação é feita e pensada em conjunto..Sentem que pode ser um óbice para as pessoas saber que o DocLisboa regressa no mesmo ano em que terminou a edição do ano passado? A nível de comunicação não será algo confuso? JG- Sentimos que as pessoas estavam à espera destes onze dias. Está toda a gente sedenta por isto... MR- Na verdade, é um tempo bem diferente. A cidade está diferente, estamos diferentes. O formato anterior esteve de acordo com o tempo que estávamos a viver. Todos sentimos que já passámos o ano. Parece que houve um reveillón algures..A programação do cinema do real do Indielisboa é vista por vocês como concorrência? Pergunto isto porque este ano o Indie foi mais tarde e aproxima-se do DocLisboa... JG- Não, o Indie não nos roubou filmes e nunca achámos isso. Somos festivais tão distintos e há filmes para todos. MR- Quando estamos a programar o festival nem pensamos nisso, programamos a tentar construir relações que se estabelecem entre filmes e encontrar linhas programáticas e respetivos percursos. Estamos muito contentes com a nossa programação. JG- E temos também uma ligação forte com os realizadores. Vemos na competição portuguesa essa relação que vai sendo construída ao longo dos anos. Mas também acontece com cineastas internacionais que vamos acompanhando..Mas não há festivais a mais em Lisboa? Nesta altura, todas as semanas começa um... JG- Ai, como é se responde a isso?! Há uma necessidade de haver muitos festivais porque as salas de cinema não mostram certos filmes. Seja como for, acho que há lugar para todos. MR- Importa é perceber aqui em Lisboa como cada festival contribui para a programação cultural da cidade. E perceber também a importância daquilo que vai acontecer nestes onze dias e que não acontece no resto do ano. No DocLisboa o importante não é apenas mostrar um filme, mas sim a sua pertinência de estar a ser mostrado juntamente com outros. JG- Ao longo destes 19 anos criámos uma identidade e já somos um lugar familiar para muitos..dnot@dn.pt