O presidente russo, Vladimir Putin, faz nesta quarta-feira o discurso anual do Estado da Nação diante da Assembleia Federal - que junta ambas as câmaras do Parlamento, ministros e governadores - e de 450 jornalistas. Numa altura de crescente confronto com o Ocidente, por causa da escalada de tensão na fronteira com a Ucrânia e do opositor Alexei Navalny (que está detido, em greve de fome, sem acesso aos médicos particulares), o discurso deve contudo centrar-se nas políticas internas. Nas ruas, os apoiantes de Navalny prometem o maior protesto que a Rússia alguma vez viu, apesar de Moscovo ter proibido as manifestações..Numa conversa por videoconferência com vários responsáveis, para concluir o rascunho do discurso, Putin defendeu "resultados máximos" no que diz respeito ao desenvolvimento económico do país e ao "apoio para as empresas e para as pessoas". Além disso, pediu uma "abordagem cuidadosa às finanças do estado para que cada rublo seja efetivamente usado e beneficie o desenvolvimento económico e cada indivíduo a quem esses fundos são alocados". E lembrou a importância de projetos sociais e de infraestruturas.."Temos de admitir de forma honesta e direta no que não conseguimos alcançar até agora, onde os nossos esforços ainda estão estagnados e onde continuamos a enfrentar dificuldades", acrescentou. "Tendo em conta o objetivo, temos de ajudar as ações que não são efetivas ou sugerir uma solução diferente, mais efetiva, para um problema. Isso é o que o nosso povo, os cidadãos da Rússia, esperam de nós", referiu o presidente russo..Um discurso virado para dentro, como é habitual - em 2020 discutiu a crise demográfica ou o nível de pobreza, além de anunciar um referendo à reforma constitucional - mas que surge numa altura em que a tensão com o Ocidente está na ordem do dia. No domingo, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, avisou Moscovo que "haverá consequências" se Navalny morrer na prisão..O opositor russo, que acusou o Kremlin de estar por detrás do seu envenenamento com um gás tóxico no passado mês de agosto, está em greve de fome desde 31 de março. Na semana passada, a sua médica pessoal, que não tem sido autorizada a visitá-lo na colónia penal onde se encontra detido, alertou que Navalny, de 44 anos, podia entrar em paragem cardíaca a qualquer momento, porque os seus rins estarão a ponto de falhar..Diante da pressão, o opositor foi transferido na segunda-feira para um hospital, onde a sua médica pessoal, Anastasia Vasilieva, foi mais uma vez impedida de entrar. A advogada foi contudo autorizada a vê-lo. "Está muito fraco, quase não se consegue sentar ou falar", disse Olga Mikhailova à imprensa, explicando que "ele não recebe ajuda médica" adequada no hospital da prisão, onde está a soro, e exigindo a sua transferência. Navalny, que recuperou do envenenamento na Alemanha e voltou à Rússia em janeiro, cumpre uma pena de dois anos e meio de prisão por ter violado a liberdade condicional num processo por fraude, que considera ser apenas político..Face ao estado de saúde de Navalny, os seus apoiantes organizaram um protesto para coincidir com o discurso de Putin, nesta quarta-feira. Mas tanto o Ministério do Interior como as autoridades de Moscovo rejeitaram os pedidos para a realização da manifestação. O governo pediu na segunda-feira aos russos que se abstenham de participar em atividades não autorizadas e que não compareçam nos pontos de encontro designados. Além disso, avisou que tomará "todas as medidas" para manter a lei e a ordem. As autoridades disseram que, caso a manifestação se realize, os seus organizadores e participantes poderão ser objeto de processos administrativos ou criminais..Além do caso de Navalny, a relação tensa com o Ocidente agravou-se com a situação na fronteira com a Ucrânia - com ambos os lados a reforçarem a presença militar. Moscovo alega que está a fazer exercícios militares, incluindo no mar Negro, como resposta às ações provocatórias da NATO. Entretanto, Kiev disse ontem que há "progressos significativos" nas negociações para uma nova trégua com os separatistas pró-russos do leste..A somar à situação na Ucrânia, as relações com o Ocidente deterioraram-se com o anúncio de novas sanções da parte dos EUA. Na semana passada, a administração norte-americana anunciou uma nova ronda de sanções e a expulsão de dez diplomatas russos por causa da alegada interferência nas eleições presidenciais de 2020, dos ataques informáticos a várias agências governamentais dos EUA e da anexação da Crimeia, em 2014..Em resposta, o Kremlin expulsou outros tantos diplomatas norte-americanos, incentivando o embaixador John Sullivan a voltar para Washington. Este confirmou ontem que regressará para "consultas". O embaixador russo, Anatoli Antonov, foi chamado a Moscovo ainda em março, depois de o presidente norte-americano, Joe Biden, ter respondido "sim" à pergunta sobre se considerava Putin um assassino. Apesar da tensão, os dois países estão em discussões para uma cimeira entre os dois líderes..Mas as expulsões de diplomatas não são exclusivas dos EUA. A República Checa também anunciou na semana passada a expulsão de 18 diplomatas russos, acusados de espionagem, depois de culpar a Rússia pela explosão de um depósito de armas em 2014, que fez dois mortos. Os responsáveis terão sido os mesmos dois agentes que os britânicos acusam de estar por detrás do envenenamento, com o gás nervoso Novitchok, do ex-espião Sergei Skripal e da sua filha, na cidade inglesa de Salisbury, em 2018..Autoridades britânicas suspeitam de dois russos no ataque a ex-espião Skripal.Moscovo retaliou expulsando 20 diplomatas checos, considerando este caso uma "provocação", mas Praga insiste e já decidiu que a empresa russa Rosatom não poderá licitar num projeto para ampliar uma central nuclear checa e anunciou que não comprará a vacina russa Sputnik-V contra a covid-19..susana.f.salvador@dn.pt
O presidente russo, Vladimir Putin, faz nesta quarta-feira o discurso anual do Estado da Nação diante da Assembleia Federal - que junta ambas as câmaras do Parlamento, ministros e governadores - e de 450 jornalistas. Numa altura de crescente confronto com o Ocidente, por causa da escalada de tensão na fronteira com a Ucrânia e do opositor Alexei Navalny (que está detido, em greve de fome, sem acesso aos médicos particulares), o discurso deve contudo centrar-se nas políticas internas. Nas ruas, os apoiantes de Navalny prometem o maior protesto que a Rússia alguma vez viu, apesar de Moscovo ter proibido as manifestações..Numa conversa por videoconferência com vários responsáveis, para concluir o rascunho do discurso, Putin defendeu "resultados máximos" no que diz respeito ao desenvolvimento económico do país e ao "apoio para as empresas e para as pessoas". Além disso, pediu uma "abordagem cuidadosa às finanças do estado para que cada rublo seja efetivamente usado e beneficie o desenvolvimento económico e cada indivíduo a quem esses fundos são alocados". E lembrou a importância de projetos sociais e de infraestruturas.."Temos de admitir de forma honesta e direta no que não conseguimos alcançar até agora, onde os nossos esforços ainda estão estagnados e onde continuamos a enfrentar dificuldades", acrescentou. "Tendo em conta o objetivo, temos de ajudar as ações que não são efetivas ou sugerir uma solução diferente, mais efetiva, para um problema. Isso é o que o nosso povo, os cidadãos da Rússia, esperam de nós", referiu o presidente russo..Um discurso virado para dentro, como é habitual - em 2020 discutiu a crise demográfica ou o nível de pobreza, além de anunciar um referendo à reforma constitucional - mas que surge numa altura em que a tensão com o Ocidente está na ordem do dia. No domingo, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, avisou Moscovo que "haverá consequências" se Navalny morrer na prisão..O opositor russo, que acusou o Kremlin de estar por detrás do seu envenenamento com um gás tóxico no passado mês de agosto, está em greve de fome desde 31 de março. Na semana passada, a sua médica pessoal, que não tem sido autorizada a visitá-lo na colónia penal onde se encontra detido, alertou que Navalny, de 44 anos, podia entrar em paragem cardíaca a qualquer momento, porque os seus rins estarão a ponto de falhar..Diante da pressão, o opositor foi transferido na segunda-feira para um hospital, onde a sua médica pessoal, Anastasia Vasilieva, foi mais uma vez impedida de entrar. A advogada foi contudo autorizada a vê-lo. "Está muito fraco, quase não se consegue sentar ou falar", disse Olga Mikhailova à imprensa, explicando que "ele não recebe ajuda médica" adequada no hospital da prisão, onde está a soro, e exigindo a sua transferência. Navalny, que recuperou do envenenamento na Alemanha e voltou à Rússia em janeiro, cumpre uma pena de dois anos e meio de prisão por ter violado a liberdade condicional num processo por fraude, que considera ser apenas político..Face ao estado de saúde de Navalny, os seus apoiantes organizaram um protesto para coincidir com o discurso de Putin, nesta quarta-feira. Mas tanto o Ministério do Interior como as autoridades de Moscovo rejeitaram os pedidos para a realização da manifestação. O governo pediu na segunda-feira aos russos que se abstenham de participar em atividades não autorizadas e que não compareçam nos pontos de encontro designados. Além disso, avisou que tomará "todas as medidas" para manter a lei e a ordem. As autoridades disseram que, caso a manifestação se realize, os seus organizadores e participantes poderão ser objeto de processos administrativos ou criminais..Além do caso de Navalny, a relação tensa com o Ocidente agravou-se com a situação na fronteira com a Ucrânia - com ambos os lados a reforçarem a presença militar. Moscovo alega que está a fazer exercícios militares, incluindo no mar Negro, como resposta às ações provocatórias da NATO. Entretanto, Kiev disse ontem que há "progressos significativos" nas negociações para uma nova trégua com os separatistas pró-russos do leste..A somar à situação na Ucrânia, as relações com o Ocidente deterioraram-se com o anúncio de novas sanções da parte dos EUA. Na semana passada, a administração norte-americana anunciou uma nova ronda de sanções e a expulsão de dez diplomatas russos por causa da alegada interferência nas eleições presidenciais de 2020, dos ataques informáticos a várias agências governamentais dos EUA e da anexação da Crimeia, em 2014..Em resposta, o Kremlin expulsou outros tantos diplomatas norte-americanos, incentivando o embaixador John Sullivan a voltar para Washington. Este confirmou ontem que regressará para "consultas". O embaixador russo, Anatoli Antonov, foi chamado a Moscovo ainda em março, depois de o presidente norte-americano, Joe Biden, ter respondido "sim" à pergunta sobre se considerava Putin um assassino. Apesar da tensão, os dois países estão em discussões para uma cimeira entre os dois líderes..Mas as expulsões de diplomatas não são exclusivas dos EUA. A República Checa também anunciou na semana passada a expulsão de 18 diplomatas russos, acusados de espionagem, depois de culpar a Rússia pela explosão de um depósito de armas em 2014, que fez dois mortos. Os responsáveis terão sido os mesmos dois agentes que os britânicos acusam de estar por detrás do envenenamento, com o gás nervoso Novitchok, do ex-espião Sergei Skripal e da sua filha, na cidade inglesa de Salisbury, em 2018..Autoridades britânicas suspeitam de dois russos no ataque a ex-espião Skripal.Moscovo retaliou expulsando 20 diplomatas checos, considerando este caso uma "provocação", mas Praga insiste e já decidiu que a empresa russa Rosatom não poderá licitar num projeto para ampliar uma central nuclear checa e anunciou que não comprará a vacina russa Sputnik-V contra a covid-19..susana.f.salvador@dn.pt