Esta foi a semana com mais casos diários desde o desconfinamento

Segunda-feira fará quatro semanas desde que começou a terceira e última fase do plano de desconfinamento nacional. Para muitos o mês de junho significou um regresso ao trabalho e à rua. Com ou sem ligação comprovada, o número de novos infetados diários aumentou neste período, sendo preciso recuar à penúltima semana de abril para encontrar sete dias consecutivos com mais casos.
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O diagnóstico de novos casos de covid-19 em Portugal aumentou o ritmo de crescimento no último mês e registou o pior resultado desde a penúltima semana de abril - quando foram encontrados 3658 infetados com o novo coronavírus. Se nos primeiros sete dias de junho - que correspondem à fase final do desconfinamento com a abertura de mais estabelecimentos e o regresso ao trabalho presencial para muitos portugueses - se registaram 2193 infeções, entre a última segunda-feira e este domingo o mesmo indicador ascendeu aos 2513 casos. O que significa uma média diária de 359 notificações, destacando-se este domingo, como o dia com mais casos (457).

Face à semana anterior, estes números representam um crescimento de 2,8% nos novos infetados. Um aumento que tem sido aliás constante. Na segunda semana de junho (período de férias ou folgas para muitos, uma vez que a semana teve dois feriados) contabilizaram-se 1997 casos (em média, 285 casos por dia). Mas na terceira, confirmaram-se 2443 casos. Em média, 349 registos diários.

Vinte dias de diferença separam o dia com menos casos do mês (192 infeções a 8 de junho) daquele em que se registaram mais - este domingo (mais 457).

Apesar das autoridades de saúde e do governo nunca terem feito uma ligação direta entre o aumento de novos casos e o processo de desconfinamento, se recuarmos a maio a confirmação do crescimento torna-se ainda mais clara. Na última semana desse mês houve mais 1877 infetados e na penúltima 1661.

A maioria dos novos casos surgem ligados à região de Lisboa e Vale do Tejo, que hoje tem 86% dos novos infetados e duas das três vítimas mortais do país. Estes resultados levaram o executivo a impor medidas mais restritivas na zona e a manter em estado de calamidade 19 freguesias da Grande Lisboa, quando o resto do país passou ao estado de alerta (o mais "suave" dos estabelecidos na Lei de Bases da Proteção Civil e que o primeiro-ministro já disse que durará tanto quanto a pandemia).

Os estabelecimentos comerciais passam a ter de fechar às 20 horas (com exceção dos restaurantes, que podem ficar abertos, mas só para refeições). E os ajuntamentos com mais de dez pessoas foram também novamente proibidos na região e quem violar a regra pode ser multado, desde este sábado.

A necessidade de dar passos atrás e endurecer regras não é exclusiva da capital portuguesa. Um pouco por toda a Europa surge a necessidade de recuar depois da aceleração do desconfinamento e à medida que novos surtos vão aparecendo.

Na quinta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançava o alerta: "a Europa viu um aumento em casos semanais pela primeira vez em meses", e continuam a ser comunicados cerca de 20 000 novos casos e 700 mortes por dia, apesar do velho continente apresentar "uma proporção cada vez menor dos casos globais".

No que toca aos casos novos em fábricas de produção de carne, como aconteceu na Alemanha, a OMS está a investigar se os surtos se devem às baixas temperaturas que facilitam a propagação do vírus ou à falta de condições para distanciamento físico entre os trabalhadores.

Pior dia desde 8 de maio. Pior domingo desde 19 de abril

Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais três pessoas e foram confirmados mais 457 casos de covid-19 (um aumento de 1,1% em relação ao dia anterior). Trata-se do pior registo do país praticamente desde o início do plano de desconfinamento, que começou a 4 de maio e terminou a 1 de junho. É preciso recuar ao dia 8 de maio para encontrar um valor mais elevado (553 infetados).

É visível ainda que o dia de hoje é o pior domingo desde 19 de abril, quando foram confirmados 521 infetados. A tendência mostra que aos fins de semana a notificação é inferior, mas este domingo foi a exceção.

Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS), no total, desde que a pandemia começou registaram-se 41646 infetados, 27066 recuperados (mais 202) e 1564 vítimas mortais no país. Ou seja, há, neste momento, 13 016 doentes portugueses ativos.

No entanto, o aumento dos casos não se tem refletido na taxa de letalidade do país, que se mantém constante, nos 3,8% e mesmo os internamentos - com oscilações - estão abaixo das 500 hospitalizações desde o dia 31 de maio. Este domingo, estão internados 458 doentes (mais 16 que ontem), sendo que destes 75 encontram-se nos cuidados intensivos (mais cinco).

António Costa: "Mesmo numa situação controlada há sempre o risco de novos surtos"

O primeiro-ministro português moderou o otimismo nos últimos dias e numa conversa com o jornal espanhol "La Vanguardia", publicada este domingo, mostrou-se cauteloso quanto à situação epidemiológica portuguesa. Numa altura em que o país continua a registar um aumento dos casos de covid diários em relação ao período de confinamento, António Costa diz que "ainda é cedo para conclusões" e fala na possibilidade de uma alteração na "realidade estatística" nacional.

"Mesmo numa situação controlada há sempre o risco de novos surtos, que podem alterar a realidade estatística, como vimos esta semana", lembra o governante que não se alargou perante um elogio à capacidade portuguesa de lidar com a pandemia refletida na taxa de letalidade. "Devemos ser muito pudentes com as comparações internacionais, porque os critérios seguidos são muito diversos".

Posta de parte ficou também a ideia de que Lisboa e Vale do Tejo poderia estar a sofrer já com uma segunda onda da pandemia. O primeiro-ministro rejeitou a possibilidade de "agravamento" na zona, insistindo antes numa exceção "à redução generalizada registada em todo o território".

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