Especialistas da OMS afirmam que a investigação urgente sobre as origens da Covid está "paralisada"

Cientistas avisam que o tempo está a esgotar-se
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A busca pelas origens da pandemia de Covid-19, que já matou milhões de pessoas e prejudicou economias em todo o mundo, está paralisada e o tempo está a esgotar-se, alertaram esta quarta-feira os cientistas encarregados dessa missão pela ONU.

Um relatório inicial da equipa da Organização Mundial de Saúde (OMS) com base numa visita de trabalho de janeiro a Wuhan, China - o território zero da pandemia global - concluiu que o vírus SARS-CoV-2 provavelmente saltou de morcegos para humanos por meio de um animal intermediário .

Uma outra hipótese que tem alimentado diversas teorias, a de que o vírus pode ter escapado de um laboratório especializado em virologia em Wuhan, foi então considerada como "extremamente improvável".

Mas num artigo publicado esta quarta-feira na revista Nature, os cientistas esclarecem que a missão era apenas uma "primeira etapa de um processo que está paralisado". "A busca pelas origens do SARS-CoV-2 está num momento crítico", escrevem. "A janela de oportunidade para conduzir esta investigação crucial está a fechar-se rapidamente." Rastrear o trilho biológico até aos primeiros focos da doença torna-se mais difícil à medida que as evidências desaparecem ou se corrompem.

A declaração veio menos de duas semanas depois de a OMS, numa tentativa de reacender a investigação, ter pedido à China que entregasse informações sobre os primeiros casos do Covid-19. Isso deveria incluir dados da Covid para 174 infeções identificadas em dezembro de 2019 que a China não compartilhou durante a investigação inicial, disseram os especialistas da OMS.

Os investigadores da OMS disseram que "foi acordado" na altura que uma segunda fase de investigação iria colmatar esta lacuna. Mas entretanto a China reagiu contra o pedido da OMS no início deste mês, dizendo que a investigação de janeiro deveria ser suficiente e que os pedidos por mais dados eram motivados por razões políticas, não por ciência.

Pequim refreou a sua colaboração especialmente desde a insistência em considerar a hipótese de o vírus ter escapado do laboratório de virologia de Wuhan.

Na terça-feira, as agências de inteligência dos EUA apresentaram ao presidente Joe Biden um relatório sobre as origens da Covid-19 analisando os cenários da hipótese de transmissão animal e da "fuga de laboratório". Os resultados foram descritos como inconclusivos.

No artigo publicado esta quarta-feira na Nature, a equipa da OMS observa que os dados atuais não suportam o cenário de o vírus ter-se escapado de um laboratório. E nenhuma das seis prioridades para investigações futuras alude a essa possibilidade.

Em vez disso, os cientistas enfatizaram a necessidade de rastrear os primeiros casos de Covid através de relatórios de doença e pesquisas de anticorpos, dentro e fora da China.

Também pediram uma investigação mais aprofundada de explorações de animais selvagens e morcegos selvagens.

"À medida que os anticorpos contra SARS-CoV-2 diminuem, recolher mais amostras e testar pessoas que possam ter sido expostas antes de dezembro de 2019 terá resultados decrescentes", alertam, acrescentando que muitas das explorações de animais selvagens de interesse para estudo foram já fechadas e os respetivos animais mortos.

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