A velocidade a que as diferentes economias europeias vão sair da crise causada pela pandemia vai depender das respetivas estruturas demográficas, avisa a Comissão Europeia no primeiro relatório europeu sobre a matéria. O documento antecipa progressos mais lentos para os países da União Europeia (UE) mais envelhecidos, como Portugal. É o terceiro estado da União mais envelhecido e está ainda entre os que mais envelheceram ao longo dos últimos anos..O relatório sobre o impacto das alterações demográfica, publicado esta quarta-feira (17 de junho), vem alertar para um agravamento, por efeito da pandemia, dos problemas preexistentes provocados pelo acelerado envelhecimento europeu: desde redução da população disponível para trabalhar e da criação de emprego, passando pela carga sobre sistemas de saúde, despesa pública e sistemas de pensões, e indo até uma maior empobrecimento relativo das populações.."A estrutura económica e demográfica de cada país vai ser um fator na velocidade e capacidade de recuperação", refere o relatório preparado pela comissária europeia Dubravka Šuica a partir do qual Bruxelas se propõe identificar as populações, regiões e comunidades mais afetadas pelo envelhecimento e despovoamento. O novo Fundo Europeu de Recuperação irá, de resto, alinhar também apoios também para preparar os territórios para um futuro com mais cabelos brancos, refere o documento..Portugal surge na comparação europeia como um dos países mais vulneráveis. Com uma mediana de idades nos 45,2 anos, o país é hoje o terceiro mais envelhecido da União, atrás de Itália (46,7 anos) e da Alemanha (46 anos). A média da EU a 27 está em 43,7 anos..Mas o país caminha rapidamente para o topo da lista dos mais envelhecidos. Nas últimas duas décadas, viu a mediana de idades aumentar 7,3 anos. Só houve um envelhecimento mais rápido na Roménia (8,1 anos) e na Lituânia (7,8 anos). Em média, o bloco envelheceu 5,3 anos..Para esta evolução, contribui a baixa natalidade em Portugal, o país da União Europeia onde mais prevalecem os filhos únicos. Os dados do Eurostat citados no documento da Comissão Europeia, relativos a 2019, mostram que seis em cada dez famílias portuguesas (58%) têm apenas um filho. Já a média dos 27 é de 47%, com Suécia, Irlanda, Holanda a terem das famílias mais numerosas onde o peso dos filhos únicos não vai além dos 40%..Um dos principais problemas europeus é a forte redução da população disponível para trabalhar, que deverá encolher 18% para apenas 220 milhões de indivíduos ao longo dos próximos 50 anos. E este é um cenário que a pandemia deve agravar. "Apesar de ser demasiado cedo para concluir se a crise atual alterará as projeções de longo prazo, as primeiras previsões após o início do surto estimam contrações significativas do emprego. Dependendo de como o vírus se espalhar, isso pode resultar em ainda menos pessoas ativas em simultâneo"..Combater o desemprego jovem e integrar pessoas no mercado de trabalho vai ser um desafio ainda maior, antecipa o relatório, sublinhando a necessidade de haver mais políticas de reconversão de mão-de-obra, de atração das mulheres e de indivíduos mais velhos para o trabalho. Digitalização, automação, energias limpas são, por outro lado, os caminhos que Bruxelas aponta agora para obter incrementos de produtividade com menos pessoas..Por outro lado ainda, expõe o relatório, a pandemia veio reforçar a necessidade de robustecer os sistemas de saúde para resposta a uma população mais velha e vulnerável perante o novo coronavírus..A Comissão Europeia antecipa, assim, aumentos da despesa pública decorrentes quer de uma população mais envelhecida, quer de um mercado de trabalho menor, ainda sem atualizar projeções. Antes da atual crise, a previsão era de que o custo da transição demográfica passasse a pesar 26,6% do PIB da UE até 2070..Jornalista do Dinheiro Vivo