PAN defende os animais, mas diz que eles "não podem nem devem ser humanizados"

Líder do partido animalista quer aumentar para dois o número de deputados da AR e considera apoiar uma solução governativa, mas com condições: "Não estamos disponíveis para ser um penacho do governo."
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O deputado único do PAN, André Silva, garante que o partido não coloca os animais acima das pessoas, mas admite que tem "uma mensagem de tal forma progressista e inovadora que choca com algumas mentalidades".

Em entrevista à agência Lusa, o deputado do Pessoas-Animais-Natureza assume-se como o único partido com representação parlamentar que dá prioridade às questões ambientais e de combate às alterações climáticas e alega que a notícia da ligação do partido ao grupo autodesignado Intervenção e Resgate Animal (IRA), que tem práticas alegadamente violentas, foi fake news, uma "peça de desinformação" que "não teve qualquer tipo de repercussão".

"A empatia que nós temos e devemos ao nosso semelhante, penso que a devemos estender a outras formas de vida. Isso não significa que estejamos a colocar os animais acima das pessoas ou no mesmo patamar, pelo contrário", sublinha.

"Nós somos os primeiros a dizer que os animais não podem nem devem ser humanizados", acrescenta André Silva, salientando que "um animal que é humanizado pode, em última análise, estar a ser deturpado da sua natureza e podem ser postos em causa as suas necessidades, o seu bem-estar e a sua proteção porque as necessidades dos animais não são as necessidades das pessoas".

André Silva admite, contudo, que o PAN trouxe ao debate político uma "mensagem nova" que "pode chocar as pessoas". "Nós trazemos uma mensagem de tal forma progressista e inovadora que choca com a mentalidade de algumas pessoas", argumenta.

O dirigente do PAN aponta com exemplo "a mensagem de que nunca o ser humano olhou para as outras formas de vida utilitarista, estratificada" à sua semelhança e daí as reações, que "não têm que ver com um choque civilizacional, mas com interesses económicos".

André Silva justifica assim o "discurso propositadamente veiculado por quem não tem interesse em alargar esses direitos às outras formas de vida por questões de interesse económico". E a mensagem provoca a "reação de algumas mentalidades que não conseguem acompanhar este alargamento que temos de fazer a outras formas de vida, ao planeta e aos ecossistemas", salienta.

PAN quer estar no Parlamento Europeu

O porta-voz do PAN assume o objetivo de eleger um eurodeputado nas eleições europeias deste mês para "sentar o planeta em Bruxelas". André Silva sabe que a eleição não "é um dado adquirido", mas considera que esta meta eleitoral é um "objetivo realista" apesar de todas as dificuldades que não ignora.

Para André Silva "não é muito fácil em Portugal e nas eleições europeias falar-se da Europa". "Aquilo que nós temos assistido quer nas outras campanhas quer agora é que se fala de tudo, menos de Europa. Nós temos feito um esforço para não entrar no debate da espuma dos dias, das manchetes, dos casos a nível nacional através do Francisco Guerreiro [cabeça de lista do PAN]. Tem havido muito esforço para nos focarmos naquelas que são as nossas prioridades, as nossas mensagens para a Europa", distingue.

Ciente das dificuldades que representa conseguir um lugar no Parlamento Europeu - em 2014 o partido obteve 1,72% dos votos -, o deputado único do PAN critica a divisão do espaço mediático entre os partidos uma vez que "não é propriamente a mais justa e a mais correta". "É no mínimo estranho que as televisões façam debates com candidatos ditos principais, em que um deles é o cabeça-de-lista do PDR, que eu diria que, na melhor das hipóteses, teria de ter o mesmo tratamento que tem o PAN, isto é, não tem um representante neste momento no Parlamento Europeu", condena, referindo-se a Marinho e Pinto.

E aumentar para dois o número de deputados na AR

Eleger pelo menos dois deputados e conseguir o estatuto de grupo parlamentar é a meta do PAN para a próxima legislatura. André Silva faz um balanço "extremamente positivo" da primeira legislatura do partido na Assembleia da República, não só pelas conquistas legislativas mas também por ter "conseguido introduzir no debate político e social vários temas" que até então não tinham visibilidade.

Questionado sobre a possibilidade de vir a integrar uma solução governativa como a que atualmente vigora - ou seja, de apoio parlamentar a um governo minoritário -, André Silva destaca que "os partidos políticos servem e são criados para ocupar poder ou governo ou para o influenciar". "O PAN está ainda na fase de influenciar os governos, de influenciar quem está no poder e vemo-nos, se for caso disso, a apoiar uma solução governativa, não estando no governo, mas a apoiar uma solução governativa", assume.

No entanto, o deputado único assegura que "o PAN não está disponível para ser um penacho de um qualquer governo e, portanto, um mero apontamento". "Ou há de facto a assunção por parte de quem está no governo de que é preciso tomar medidas mais progressistas na área ambiental, fazer mudanças e assumir compromissos profundos, ou então, de facto, não estamos disponíveis para ser um penacho, para sermos um mero apontamento de uma solução governativa", clarifica.

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