Empresas de autocarros turísticos pedem ao Governo "a salvação do setor"
"Pedimos que o governo nos receba e nos ouça, e que tenha sensibilidade para a nossa especificidade. Neste momento não temos nem 10% dos autocarros na rua". João Coelho, proprietário de uma empresa de autocarros turísticos, foi o porta-voz dos 55 empresários do setor que estiveram reunidos em Pombal, esta terça-feira, reivindicando apoio por parte do Governo, numa altura em que "está tudo parado" por causa das medidas de contingência ao coronavírus.
"Esta era a nossa época alta, depois de termos estado meses parados. Mas infelizmente desde o final de janeiro que começámos a notar esta crise, que agora se acentua", disse ao DN Ana Gonçalves, também ela proprietária de uma empresa turística, no final da reunião. Já no sábado mais de 80 empresas assinaram um comunicado que intitulavam de "apelo à salvação do setor". Entretanto, na reunião de Pombal, que juntou empresas de todo o país, os transportadores deixaram nota do que pedem ao Ministério da Economia: "também queremos ser considerados em todas as negociações que possam vir a ocorrer".
"Medidas como o 'lay off' simplificado não são a solução. Não são ajustáveis à nossa realidade", sublinhou João Coelho. "Há necessidade do governo nos ouvir, criar junto da banca uma posição de conforto para não perdermos todos os investimentos que são avultadíssimos - milhões de euros em viaturas, prejuízos que neste momento preocupam empresários e financiadores", considera o porta-voz das transportadoras, enfatizando que se assiste a uma (in)esperada união no setor. "Se este era um setor que podia ter alguma divisão até hoje, porque era altamente concorrencial, a partir de agora estamos todos no mesmo barco, na dificuldade em enfrentar um cenário sem precedentes e nunca previsível", disse.
O setor tem cerca de 2.000 motoristas e todos os postos de trabalho "estão em perigo". Na verdade, os empresários não conseguem identificar "se estaremos um mês, dois ou seis meses sem serviço. Não temos qualquer previsão de quando será retomada a normalidade", adianta João Coelho, sublinhando que estamos perante um cenário em que a maioria das empresas são negócios familiares, e que "terão nesses apoios a salvação de que neste momento tão precisam".
É o caso da empresa Arunca, Viagens e Turismo, de que Ana Gonçalves é proprietária, com sede em Pombal. Ao todo, são seis pessoas que compõem o quadro de pessoal (ela e o irmão, mais quatro funcionários). A empresa comemora 14 anos esta sexta-feira e "nunca atravessou uma crise assim". Os seis autocarros estão parados desde há semanas. Ana conta ao DN que começou a sentir a crise já no final de janeiro, logo a seguir aos festejos do novo ano chinês. Depois vieram as indicações dos operadores turísticos com quem trabalha "para dotar os autocarros de gel desinfetante, luvas, máscaras e termómetros digitais". Fez o investimento, reforçou os produtos de limpeza e desinfeção, mas de nada valeu. Os contratos começaram a ser cancelados em catadupa.
"Se tivermos um motorista a fazer um trabalho põe em causa todo o cenário de 'lay off' dentro da empresa, que só é aplicável a toda a empresa e não apenas a uma parte dos trabalhadores. Nos termos normais, não é possível recorremos [a esta medida]", referiu João Coelho. O porta-voz propõe por isso que o Governo português faça o mesmo "que os franceses têm, que é a suspensão dos contratos de trabalho suportada pela Segurança Social, para permitir um regresso ao trabalho".
"Nós temos sido a pedra basilar do turismo em Portugal", aponta João Coelho, enquanto apela ao Governo que permita "a salvação do setor".
E se nesta altura nem 10% da frota de autocarros está nas ruas, para abril o cenário piora, com anulações e cancelamentos. "A nossa perspetiva para os próximos dois ou três meses é de que o impacto seja fortíssimo", afirmou o porta-voz das 55 empresas.
Durante a conferência de imprensa, João Coelho apelou a todas as empresas no sentido de se unirem e reunirem a identificação de todos os trabalhadores e viaturas afetados, para que essa informação seja entregue na segunda-feira, junto do Ministério do Trabalho e do Ministério da Economia.
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.000 mortos. Cerca de 114 mil pessoas foram infetadas em mais de uma centena de países, e mais de 63 mil recuperaram, segundo a agência Lusa. Nos últimos dias, a Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China, com 463 mortos e mais de 9.100 contaminados pelo novo coronavírus, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia.
O Governo português decidiu suspender todos os voos com destino ou origem nas zonas mais afetadas em Itália, recomendando também a suspensão de eventos em espaços abertos com mais de 5.000 pessoas. Portugal regista 41 casos confirmados de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde.