Regressar porquê e para quê? Muitos jogadores em final de carreira optam por voltar a casa, ou seja, ao clube que os formou ou onde jogaram muitos anos e foram felizes. Uns por gratidão, outros para recuperar o brilho perdido. No caso de Eduardo, que está de volta ao Sp. Braga, dez anos depois de sair, foi juntar o útil ao agradável. "Queria voltar para estar perto da minha filha e sentia que ainda não estava pronto para o fim da carreira, e o Sp. Braga foi a oportunidade perfeita para regressar e continuar a jogar", disse o guarda-redes ao DN..Regressa aos 36 anos e como campeão da Europa. "O presidente [António Salvador] ligou-me a perguntar pela minha situação, eu tinha contrato com o Chelsea e a oportunidade de ficar mais um ano, mas disse-lhe que estava a ouvir propostas. Ele abriu-me as portas do Sp. Braga e falou-me da possibilidade de voltar ao clube onde me formei e cresci como jogador e como homem. E ainda bem que se reuniram as condições para eu poder voltar ao clube onde cresci", disse ao DN, após ser oficializado como reforço dos bracarenses até 2021..Eduardo chegou a Braga em 1999 vindo do Mirandela. Foi sob o símbolo dos guerreiros do Minho que se formou como jogador e passou grande parte da vida até chegar à equipa principal, em 2008-09, depois de passagens por Aveiro (Beira-Mar) e Setúbal. Para muito jogadores voltar a casa significa que o fim da carreira está perto. E Eduardo não é exceção, mas o guardião garante que não pensa no adeus aos relvados. "Não. Eu sei o que quero fazer após o futebol [ser treinador de guarda-redes], mas ainda não estou nessa fase. Acho que tenho condições para continuar a jogar, sinto-me capaz de lutar pelo lugar em qualquer equipa, se calhar é por isso que as pessoas continuam a acreditar em mim, e se o presidente me deu um contrato de dois anos, é porque acredita que posso acrescentar algo. Estou bem, sinto-me bem e no dia em que não conseguir ser o Eduardo motivado todos os dias, a ter vontade todos os dias de ir para o treino...".E que desafios o Sp. Braga tem para oferecer ao Eduardo? "Todos. O Sp. Braga é um grande clube, ambicioso... e eu também sou ambicioso. Atingi marcas histórias, mas faltaram títulos no Sp. Braga. O clube tem agora uma academia fabulosa, uma maior dimensão nacional e europeia, níveis de exigência ainda maiores, e eu espero estar à altura", respondeu o guarda-redes, que espera encontrar um Sp. Braga "muito diferente" daquele que encontrou quando chegou com 15 anos vindo do Mirandela..Quanto a ele, espera oferecer "a experiência" que adquiriu ao longo destes anos: "Tive a oportunidade de trabalhar com os melhores treinadores do mundo. Posso dar a minha motivação, a minha vontade de treinar e de jogar e contribuir ao máximo para ajudar a equipa a atingir os nossos objetivos. Tenho muito para dar ainda e espero estar à altura da confiança que depositaram em mim."."Estar a prometer algo tão grande como o título é prematuro. É um objetivo difícil, toda a gente sabe disso. Estivemos perto uma vez... é um sonho de todos os bracarenses e do presidente, que incute esse espírito, mas é difícil. Tem mesmo de ser jogo a jogo e deixar a onda crescer ao longo do ano. Não é fácil lutar com o investimento dos três grandes, mas queremos estar na luta, estar perto da decisão", garantiu o guardião..Eduardo é apenas mais um jogador a voltar ao clube que o formou. Na época passada aconteceu o mesmo com Danny. O extremo chegou a ser falado no verão de 2017, mas acabou por rumar ao Sparta de Praga, da República Checa. Um ano depois o regresso foi consumado, Danny foi reforço do Marítimo para a temporada 2018-19, mas acabou por dizer adeus antes do final da temporada. "Voltar a casa e ao Marítimo é algo que eu sempre sonhei. A única equipa em Portugal em que podia jogar era o Marítimo. É a equipa do meu coração, a que me lançou no campeonato português (...) Estou bastante feliz e superorgulhoso de voltar a uma casa que conheço bem. Fui bem recebido pelos meus colegas, pelo presidente, pela direção. Espero ajudar a equipa a concretizar os objetivos para este ano e venho com toda a vontade e humildade de ajudar", confessou o português na apresentação. Aos 35 anos ainda não anunciou o fim da carreira..O médio ofensivo iniciou a carreira no Marítimo e fez a estreia no plantel principal em 2001-02, tendo-se transferido depois para o Sporting na época 2002-03. Não se conseguiu impor na equipa treinada por László Bölöni e voltou aos verdes rubros, por empréstimo, ainda nessa temporada e depois em 2003-04. Após um curto regresso ao Sporting, em 2004-05, mudou-se para a Rússia, onde ficou 12 anos, três no Dínamo de Moscovo e nove no Zenit de São Petersburgo, antes de voltar ao seu Marítimo..Carlos Xavier arrependeu-se de ter voltado.Para muitos, Carlos Xavier só tem um clube, o Sporting. Mas não. À beira dos 30 anos, o então campeão nacional pelos leões aventurou-se fora de Alvalade em 1991 e rumou à Real Sociedad, clube onde ficou três temporadas. Foi no País Basco que, segundo o próprio, passou pelo "melhor período da carreira", porque "jogava onde queria, a seu bel-prazer". A passagem foi de tal forma boa que Carlos Xavier confessou que se soubesse que iria acabar da maneira como acabou no Sporting, tinha ficado em Espanha..Terminou a carreira em 1996 em Alvalade aos 34 anos e em boa forma. Fez uma época muito boa, marcou oito golos, e chegou à final da Taça de Portugal. "Estava para fazer mais um ano de contrato, mas depois arranjaram ali um enredo em que todos foram culpados, mas ninguém teve culpa. Arranjaram maneira de eu acabar a carreira aos 34 anos. Foi um fim precipitado. Garantidamente, podia ter feito mais um ou dois anos. Se tivesse ficado em Espanha teria jogado até aos 36 anos", assumiu o antigo médio e lateral do Sporting numa entrevista..O regresso do maestro Rui Costa.Assinar de olhos vendados, sem saber o que estava no contrato, foi a forma figurada que Rui Costa encontrou para dizer o quanto estava contente por regressar ao seu Benfica, de onde tinha saído para ir para a Fiorentina em 1994. "O Rui disse-me para meter o contrato à frente e que o assinaria sem lá estar o valor que iria ganhar. O Rui só soube quanto ia ganhar depois de assinar. Isto revela o seu carácter. É um grande homem além de um grande futebolista", revelou Luís Filipe Vieira em 2006, por ocasião da apresentação oficial do maestro como reforço do Benfica para a temporada 2006-07..Rui Costa voltou a uma casa onde já tinha sido feliz, mas não conseguiu alcançar o título de campeão nacional com que deixou a Luz. Em 2007-08 deu-se o adeus. Participou em 45 jogos e fez dez golos, mas o Benfica acabou em quarto lugar na I Liga a uma distância de dezassete pontos para o campeão FC Porto. Hoje é administrador da SAD encarnada..O rapto do filho pródigo Domingos.Quando Domingos Paciência deixou o Tenerife, em 1999, não lhe passava pela cabeça voltar logo ao Dragão. Tinha tudo acertado com o Sporting depois de duas temporadas na liga espanhola, mas uma chamada telefónica de Pinto da Costa, quando seguia a caminho de Lisboa, desviou-o para casa. "Estava a conduzir, já estava na autoestrada, ali perto da Exponor, quando o meu telefone tocou. Era o presidente Pinto da Costa a perguntar onde é que eu estava. Disse-lhe que estava a caminho de Lisboa e ele, de imediato, disse-me para não ir e que ia ter comigo para assinar pelo FC Porto (...) Desde que decidi deixar Espanha, a minha vontade sempre fora regressar ao FC Porto, queria voltar a casa. Eu queria era voltar ao clube do meu coração, e assim foi", assumiu ao DN, lembrando que a oferta dos leões até era superior..O avançado terminaria a carreira em 2001, ano em que os portistas terminaram na segunda posição da liga portuguesa e na qual conquistou uma Taça de Portugal..Domingos não foi o único a voltar ao Dragão. Vítor Baía também regressou ao clube que o formou, depois de uma experiência menos conseguida no Barcelona, mas ainda estava longe do final da carreira. O guarda-redes não aguentou a pressão e acusou Van Gaal de discriminação. Como castigo, o treinador holandês deixou de o convocar, afastando-o do grupo e ajudando-o assim a regressar ao FC Porto, a título de empréstimo, em janeiro de 1999. Conquistou o pentacampeonato cedido pelo Barça. Ficaria mais uma época por cedência, mas os problemas no joelho direito obrigaram-no a parar e a quebrar o contrato com os catalães. Um mês depois de rescindir assinou pelos dragões depois de se falar do interesse do Sporting, do Newcastle e de clubes italianos. Chegou em 1998-99 e conquistou tudo o que havia para conquistar, campeonatos, Taças, Liga Europa, Liga dos Campeões e Taça Intercontinental (Mundial de Clubes)..Outros exemplos no estrangeiro.Tomás Rosicky (Sparta Praga) Cumpriu toda a formação no Sparta Praga e depois de duas épocas e meia como sénior no clube de sempre transferiu-se para o Borussia Dortmund, e daqui para o Arsenal, onde esteve nove anos. Depois decidiu que estava na hora de voltar a casa, mas as coisas não lhe correram bem no Sparta Praga, tendo realizado apenas 13 jogos em duas épocas até dizer adeus aos 37 anos..Jesús Navas (Sevilha FC) Jesús Navas é considerado um dos melhores jogadores de sempre do Sevilha, clube onde cumpriu quase toda a formação e cujas cores defendeu até aos 27 anos, altura em que se transferiu para o Manchester City. Depois de 183 jogos em quatro épocas acabou por regressar a Sevilha, onde ainda jogou na época passada e fez um golo..Pablo Aimar (River Plate) Afirmou-se na primeira equipa dos "milionários" na época de 1997-98 e por lá ficou durante mais duas temporadas até que o Valência o foi buscar. Jogou ainda no Saragoça antes de chegar ao Benfica, onde esteve cinco épocas. E depois de uma estranha passagem pelo Johor FC, da Malásia, surgiu o tão esperado regresso ao River Plate (as lesões só o deixaram fazer um jogo)..Frank Rijkaard (Ajax) Frank Rijkaard tinha apenas 18 anos quando surgiu em grande na primeira equipa do Ajax. Esteve com um pé no Sporting, mas acabou por ir para Saragoça, de onde saiu para jogar no AC Milan. Foi lá que brilhou a grande altura, ao lado dos compatriotas Gullit e Van Basten, tendo regressado ao seu Ajax para terminar a carreira (ainda fez 37 partidas em cada uma dessas duas temporadas)..Riquelme (Argentino Juniors) Em 1986-87, Riquelme despontava na equipa principal do Boca Juniors depois de ter começado no Argentino Juniors. O jogador que ganhou a alcunha de "novo Maradona" assinou depois pelo Barcelona, mas acabou por ir para o modesto Villarreal ao longo de três temporadas. Depois de entrar em desgraça no clube, voltou ao Boca Juniors e depois de oito épocas fez uma última temporada ao serviço do Argentino Juniors, curiosamente o clube onde começou a jogar, ao cumprir três anos na formação.