Eduardo Camavinga. Do campo de refugiados em Angola ao Real Madrid

Jovem de 18 anos assinou contrato com os <em>merengues </em>no último dia do mercado de transferências. Filho de pais congoleses que fugiram da guerra, viu um incêndio destruir a casa onde morava quando era criança. Fez história no Rennes e na seleção francesa.
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Eduardo Camavinga é galáctico! O médio francês de 18 anos foi uma das novidades do último dia de mercado de transferências ao trocar o Rennes pelo Real Madrid por 31 milhões de euros.

A nova pérola do futebol francês tem uma história de vida marcada pela fuga à guerra no Congo, o refugio num campo de refugiados em Angola e um incêndio que lhe destruiu a casa antes de crescer para o futebol em França.

Os pais, Sofia e Celestino, fugiram da guerra na República Democrática do Congo e encontraram ajuda num campo de refugiados, em Miconje, no norte de Angola. Foi lá que Eduardo nasceu (10-11-2002) e viveu até os pais conseguirem ir para Lille (França), quando o agora jogador do Real Madrid tinha dois anos.

Foi em Fougeres, a 50 quilómetros de Rennes, que Eduardo (e os quatro irmãos) descobriu o desporto. Começou pelo judo, mas por vontade da mãe acabou por jogar futebol. Há quem diga que Sofia estava farta de coisas partidas lá em casa por via dos combates de judo improvisados por Eduardo e os irmãos e convenceu-o a dar chutos numa bola... mas na rua.

O novo desporto também era divertido e acabou por ir jogar para o clube da terra, o Drapeau de Fougeres, onde o pai jogava. Tinha apenas sete anos e o destino ainda teria mais privações. A casa onde moravam pegou fogo e a família ficou sem nada. Tiveram de ser realojados e recorrer ao apoio social. O clube onde jogava deu ajuda financeira ao pai e organizou um evento solidário para angariar roupa, móveis e brinquedos para as crianças

"Lembro-me do incêndio como se fosse ontem. Eu estava na escola e vi os bombeiros passar. No final da aula, os professores abordaram a minha irmã mais nova e contaram-nos sobre o incêndio. O meu foi procurar-nos à escola e levou-nos ao local. Tudo destruído, tudo queimado", contou o jovem à plataforma para os Refugiados da ONU, lembrando as palavras do pai: "Não te preocupes, vais ser um grande futebolista e reconstruiremos esta casa."

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O enorme talento chamou a atenção do Rennes, mas foi preciso convencer os pais a deixá-lo ir, vendo a mudança como forma de apostar no talento de Camavinga. "O futebol permitiu fugir à minha realidade", confessou Eduardo numa entrevista.

Segundo Landry Chauvin, antigo diretor da academia do Rennes, La pépite (a pepita) de Fougères tinha uma habilidade com a bola muito superior às crianças da sua idade, principalmente no drible e em termos de talento, inteligência e maturidade. Ainda hoje, os antigos treinadores brincam ao recordar que eram constantemente obrigados a criar novos treinos para conseguir desafiá-lo. E para quem o define como médio defensivo, eles dizem: "Se queres defender o resultado mete-o a médio defensivo, se queres vencer o jogo mete-o a médio ofensivo."

Em cinco anos chegou à elite do futebol francês. Com apenas 16 anos e quatro meses estreou-se na Ligue 1 e passou a ser o mais jovem de sempre a jogar pelo Rennes no campeonato. Assinou o primeiro contrato profissional e fechou um contrato milionário com a Nike logo depois.

Visto como o novo Pogba, em setembro de 2020 fez história na seleção francesa. Aos 17 anos, 9 meses e 29 dias tornou-se o jogador de futebol mais jovem a estrear-se pelos bleus desde 1914. Uma estreia que podia não ter acontecido. O jogador teve dificuldade em certificar a nacionalidade francesa, devido a documentos que desapareceram com o incêndio que destruiu a casa da família.

Visto como a maior promessa do futebol mundial era cobiçado por meio mundo, mas há muito que era dado como reforço do Real Madrid. O namoro com os merengues deu em casamento no último dia do mercado. O clube espanhol pagou 31 milhões de euros pelo passe do jovem médio aos Rennes, num negócio que pode chegar aos 47 milhões por objetivos.

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