Diretor do Museu da Presidência é suspeito de falsificar despesas pessoais

Ao longo dos últimos anos, Diogo Gaspar terá falsificado documentos de despesas em proveito próprio, assim como terá colocado viaturas da Presidência ao serviço de empresas ligadas a amigos
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Detido nesta quarta-feira pela Polícia Judiciária, Diogo Gaspar ouviu, ontem, o Ministério Público a desfiar uma série de suspeitas de ilegalidades por si cometidas durante os 12 anos em que está à frente do Museu da Presidência da República. Além do desvio de mobiliário, como o DN avançou ontem, há ainda suspeitas de que o gestor daquela instituição da Presidência tenha falsificado despesas pessoais a fim de obter o respetivo reembolso. O detido começou a ser ouvido, ontem, no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.

De acordo com informações recolhidas pelo DN, a autonomia de Diogo Gaspar enquanto diretor-geral do Museu da Presidência ter--lhe-á dado condições para também colocar veículos afetos à instituição ao seu serviço, assim como para empresas de amigos. Estas, por sua vez, seriam sempre selecionadas nos contratos com o museu, desde a organização de eventos à produção de folhetos alusivos a exposições.

No rol de crimes imputados, além dos relativos estritamente ao exercício de funções - peculato, peculato de uso, falsificação de documentos, participação económica em negócio e abuso de poder -, há ainda um sexto: tráfico de influências. Segundo a investigação do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa (DIAP) e da Unidade Nacional contra a Corrupção da PJ (UNCC), Diogo Gaspar terá usado a sua influência junto de outros decisores públicos para que um grupo restrito de empresas conseguisse contratos, recebendo, consequentemente, uma comissão.

Tal como o DN adiantou ontem, o diretor do Museu da Presidência é ainda suspeito de desviar móveis dos séculos XVIII e XIX do Palácio da Cidadela, em Cascais, que também pertence à Presidência. Em causa estão suspeitas de falsificação de documentos, de forma a simular um abate dos móveis, os quais terão sido deslocados para duas casas de Diogo Gaspar, uma em Lisboa, a segunda em Portalegre. É também naquela cidade alentejana que está outra das suspeitas do processo: a compra de tapeçarias a uma empresa que terá ligações familiares a Diogo Gaspar. Estas situações terão sido, ontem, colocadas a Diogo Gaspar durante o seu interrogatório no TIC, onde esteve representado pelo advogado Raul Soares da Veiga.

O Museu da Presidência da República, situado no Palácio de Belém (Lisboa), foi criado por iniciativa do antigo Presidente da República Jorge Sampaio e era dirigido desde a sua fundação pelo historiador Diogo Gaspar. Em fevereiro deste ano, o diretor-geral foi condecorado pelo ex-presidente da República Cavaco Silva com o grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago, numa cerimónia de imposição de insígnias. Daí o nome escolhido pela Judiciária para este caso: Operação Cavaleiro.

O museu, onde se pode conhecer a história dos chefes do Estado portugueses, foi inaugurado a 5 de outubro de 2004, com um espólio de cerca de um milhão de peças, cedidas por ex-presidentes e pelas respetivas famílias, que ajudam a traçar a história dos três períodos da República - I República, Estado Novo e Democracia.

Há uma semana a Presidência da República anunciou ter aberto uma auditoria às contas da secretaria--geral, entidade que tutela o Museu da Presidência. Iniciativa que Marcelo separou do caso de Diogo Gaspar - são "realidades complementares", ainda que "separadas", afirmou. Numa nota emitida já depois da detenção, o Palácio de Belém declarou que "desde o início do seu mandato o Presidente da República deu instruções para o reforço das medidas de fiscalização, controlo e auditoria permanente dos mecanismos de gestão orçamental".

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