Direção-Geral da Educação vai retirar inquérito racista. SOS Racismo já fez queixa

Inquérito perguntava se pais eram ciganos, africanos ou chineses. Fundação Belmiro de Azevedo condena teor das questões e retirou apoio à investigação. Investigadora garante que foi lapso e que ia retirar a questão
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A Direção-Geral da Educação (DGE) vai retirar das escolas o inquérito que perguntava aos pais se eram ciganos, africanos ou chineses. Segundo o JN, o questionário estava a ser distribuído em escolas do primeiro ciclo do Grande Porto e da Grande Lisboa.

De acordo com o organismo do Ministério da Educação que tem de dar autorização para a distribuição de estudos nas escolas, este documento não tinha autorização para ser realizado. A realização de estudos em escolas está dependente da autorização de duas entidades: a Comissão Nacional de Proteção de Dados e a DGE. Ora a primeira terá dado autorização para que fosse distribuído, mas apenas se fossem eliminadas algumas questões, entre as quais a que se referia à origem dos pais. Um parecer com que a DGE concordou.

Apesar das alterações pedidas, o inquérito que chegou às escolas será o original, de acordo com as imagens partilhadas nas redes sociais.

De acordo com o JN entre as perguntas estavam ainda algumas que visavam o comportamento dos pais, devendo estes responder verdadeiro ou falso a questões como "às vezes, gosto de fofocar", "já senti inveja da sorte de outras pessoas" ou "houve ocasiões em que me aproveitei de alguém".

O estudo é organizado pela CLOO, uma empresa de consultadoria em economia comportamental, em parceria com a Fundação Belmiro de Azevedo. Teria como objetivo a promoção de momentos de leitura entre pais e filhos fora do contexto escolar ao longo do ano letivo, "algo crucial para o desenvolvimento cognitivo dos alunos", uma forma de melhorar o sucesso escolar.

Em esclarecimentos enviados durante a tarde aos jornalistas, a CLOO, empresa responsável pela investigação garante que se tratou de um lapso. "O referido estudo foi previamente colocado à apreciação da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) e da Direção-Geral da Educação (DGE), que determinaram a exclusão da pergunta em questão", refere o comunicado. Porém, "por lapso, a versão impressa e distribuída não corresponde à versão final, devidamente alterada pela equipa de investigação".

A autora do estudo sublinha ainda que "sempre pautou as suas ações dentro dos valores éticos e científicos e que defende a mais absoluta igualdade entre todas as pessoas". Agora garante estar a tomar todas as deligências para perceber o que originou esta falha.

SOS Racismo apresentou queixa

A SOS Racismo lamenta a distribuição deste inquérito tendo já apresentado queixas no Alto Comissariado para as Migrações, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial. Além disso, Piménio Ferreira considera "curioso" que se esteja "a fazer um levantamento de sujeitos racializados e que os próprios não saibam de nada, que entreguem a brancos este levantamento, sem que os sujeitos racializados não tenham palavra a dizer".

Acrescentando que "perguntar a uma pessoa se ela é portuguesa ou cigana faz com que ela tenha de excluir uma opção em detrimento da outra. A questão é como a pergunta é feita".

Fundação retira apoio

A Fundação Belmiro de Azevedo explica que não tinha conhecimento do teor das questões que faziam parte do inquérito. "Obviamente a Fundação não tinha qualquer conhecimento da forma como as questões estavam formuladas já que existe independência científica", refere fonte oficial da instituição, sublinhando que "não pode tolerar que possam ser postos em causa princípios da igualdade".

O teor das questões de um estudo que visava perceber, "no primeiro ciclo, de que forma os pais dedicarem alguns minutos à leitura com os filhos tinha impacto na aprendizagem deles", levou a Fundação Belmiro de Azevedo a terminar o contrato com a equipa de investigação. "Não concordamos de todo e não podemos patrocinar um estudo desta natureza."

Notícia atualizada às 18:53 para incluir os esclarecimentos da CLOO.

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