Dez chefes de equipa de urgência do Hospital Garcia de Orta demitem-se

Apresentaram ainda a demissão dez médicos internos em protesto com o Conselho de Administração do hospital de Almada. Diretor clínico reconhece constrangimentos mas diz que escalas de urgências foram sempre preenchidas
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Dez chefes de equipa de urgência e outros tantos médicos internos do Hospital Garcia de Orta, em Almada, apresentaram a demissão ao Conselho de Administração daquela unidade hospitalar.

Em comunicado assinado por João Araújo Correia, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, são justificadas estas demissões com o facto de a administração do hospital ter "retirado a cirurgia geral da presença física no Serviço de Urgência", o que de acordo com esta nota vai "pôr em perigo os doentes do foro cirúrgico, que ficam dispersos numa amálgama de doentes ainda maior".

O diretor clínico daquela unidade hospitalar, Nuno Marques, garante que as escalas na urgência estiveram sempre preenchidas, mas reconhece constrangimentos no último mês na cirurgia geral, com ausência inesperada de cinco profissionais,

"Nunca esteve em cima da mesa e em momento algum a direção clínica ou o Conselho de Administração deu indicações para a cirurgia geral deixar de ter presença física nas 24 horas do serviço de urgência na composição das escalas", disse à Lusa Nuno Marques, sublinhando que a prestação de cuidados de saúde à população não foi nunca posta em causa.

Sublinhando que os chefes de serviço que entregaram na quinta-feira uma carta de demissão à administração se mantêm em funções, o responsável disse que os motivos elencados por estes profissionais não são novos e têm vindo a ser alvo de diálogo.

"Os motivos elencados são motivos que se arrastam há vários anos, são situações de constrangimentos quer da estrutura organizacional do serviço de urgência quer da composição das escalas e, de facto, não são uma questão de motivo recente", disse o diretor clínico.

Sobre a alegada retirada da cirurgia geral da presença física no serviço de urgência, que segundo a Sociedade portuguesa de Medicina Interna tinha sido um dos motivos dos protestos dos internistas do Garcia de Orta, o responsável garante: "Nunca esteve em cima da mesa e em momento algum a direção clínica ou a administração deram indicações para a cirurgia geral deixar de ter presença física nas 24 horas do serviço de urgência na composição das escalas".

"Houve alguns constrangimentos no último mês, pois tivemos a ausência não esperada de cinco [profissionais da cirurgia geral], que por motivos de saúde e licenças de maternidade deixaram de integrar escalas. Mas temos conseguido colmatar o défice desses cirurgiões e as escalas têm tido a composição habitual com urgência aberta", explicou.

Depois de a carta ter sido enviada, o diretor clínico reuniu-se com os profissionais em causa, tendo ficado acordado que se manteriam em funções

Eis o comunicado na íntegra das chefias clínicas:

"Hoje, 12 de setembro de 2019, demitiram-se 10 Chefes de Equipa de Urgência do Hospital Garcia de Orta e outros tantos Internistas que exercem funções no Serviço de Urgência demitiram-se em bloco, em carta enviada ao Conselho de Administração.

Esta atitude da Medicina Interna no Hospital Garcia de Orta deve merecer uma atenção especial, porque no Hospital Garcia de Orta a Medicina Interna tem dado provas de enorme capacidade de trabalho e iniciativa, sendo considerada como exemplo no caso da Hospitalização Domiciliária. Este protesto dos Internistas do Hospital Garcia de Orta deve-se à decisão do Conselho de Administração de retirar a Cirurgia Geral da presença física no Serviço de Urgência. É evidente que isso levará a um esgotamento ainda maior dos Internistas na Urgência, para além de pôr em perigo os doentes do foro cirúrgico, que ficam dispersos numa amálgama de doentes ainda maior!

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna expressa aqui toda a sua solidariedade aos Internistas do Hospital Garcia de Orta, esperando que o Conselho de Administração reveja rapidamente a decisão tomada, porque estão em causa o desrespeito pelos especialistas de Medicina Interna e, mais do que tudo, a assistência médica segura a que todos temos direito."

Com Lusa

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