Em Moscovo, qualquer russo sabe apontar a Catedral do Cristo Redentor, na margem norte do rio que dá nome à cidade. Foi ali que, a 3 de março de 2012, a banda de punk feminista, que protesta contra o regime de Vladimir Putin, deu um concerto improvisado e não autorizado. As Pussy Riot decidiram realizar o protesto na catedral depois de o patriarca ortodoxo russo, Kirill, ter pedido o voto para Putin em vésperas de presidenciais, facto que indignou não só o grupo mas toda a oposição russa. Durante a atuação, conturbada, realizaram o que chamaram de oração punk em pleno altar. Nessa, pediram à Virgem Maria que livrasse a Rússia de Vladimir Putin. Tal não aconteceu. Ele foi, aliás, reeleito e continua no poder..As ativistas acabaram presas e, mais tarde, foram duas delas condenadas por vandalismo motivado por ódio religioso. Maria Alyokhina e Nadezhda Tolokonnikova cumpriram 21 meses de prisão por isto. Isso não impediu, porém, que o vídeo do concerto, ainda hoje disponível no YouTube, tivesse milhares de visualizações. As imagens do grupo de mulheres reacionárias de collants e capuzes às cores correram um pouco por todo o mundo..A detenção das ativistas suscitou uma vaga de indignação a nível mundial e foi denunciada por várias ONG e figuras públicas. Entre elas esteve Madonna, que num concerto em agosto de 2012, em Moscovo, interrompeu a sua atuação para dizer: "Como artista, como ser humano, como mulher, tenho liberdade para exprimir os meus pontos de vista. Mesmo se as pessoas não concordam comigo. Mesmo se o meu governo não concorda comigo.".Sobre as Pussy Riot, prosseguiu a cantora que atualmente vive em Lisboa, "quero então dizer que há muitos lados de uma mesma história. E com isto não quero desrespeitar a igreja ou o governo. Mas eu acho que estas raparigas fizeram uma coisa muito corajosa. Estão a pagar o preço das suas ações. Mas eu rezo pela sua libertação"..Ao longo do tempo o número de membros das Pussy Riot sempre foi variável. Em agosto de 2017, dois membros do grupo, Olga Borisova e - novamente - Maria Alyokhina, foram detidos num protesto em Yakutsk contra a prisão do realizador Oleg Sentsov. Este está detido numa prisão russa na Crimeia desde 2014. Este foi o ano em que a Rússia de Putin anexou este território à Ucrânia. Sentsov tem 42 anos e está em greve de fome. Está acusado de terrorismo.."A prisão é o espelho de como, num momento particular, o Estado interage com o seu povo. É um espelho muito preciso", disse Alyokhina, em setembro de 2017, numa entrevista ao jornal britânico Guardian..O protesto do grupo na final do Mundial de Futebol, entre a França e a Croácia, teve que ver com Sentsov. Quatro Pussy Riot, três mulheres e um homem, entraram no campo a correr, vestidos de polícia. Uma delas chegou mesmo a conseguir cumprimentar no relvado o jogador francês Kylian Mbappé. Que até retribuiu. De forma descontraída..Tratou-se de Nika Nikulshina, Olga Kurachyova, Olga Pakhtusova e Pyotr Verzilov. Este último é marido de Nadezhda Tolokonnikova, uma das Pussy Riot detidas em 2012, após o episódio da catedral. Levados pela polícia, aguardam para saber qual a penalização por terem invadido o campo de futebol e usarem ilegalmente uniformes da polícia..Num vídeo e na sua página de Twitter, o grupo explicou o porquê do que se passou no domingo em Moscovo. "Hoje faz 11 anos desde a morte do grande poeta russo, Dmitriy Prigov. Prigov criou uma imagem de um polícia, um portador da nacionalidade celestial, na cultura russa. O polícia celeste, de acordo com Prigov, fala sobre dois caminhos com o próprio Deus. O polícia terrestre prepara-se para dispersar comícios. O polícia celestial toca gentilmente numa flor num campo e desfruta as vitórias de equipas de futebol russos, enquanto o polícia terrestre se sente indiferente à greve de fome de Oleg Sentsov. O polícia celestial surge como um exemplo da nacionalidade, o polícia terrestre fere todos", diz o texto..No mesmo, as Pussy Riot prosseguem a sua explicação: "O Mundial de Futebol da FIFA fez-nos lembrar das possibilidades que poderia ter o polícia celestial na Grande Rússia do futuro. Mas o polícia terrestre, entrando no jogo sem regras, destrói o nosso mundo. Quando o polícia terrestre entra no jogo então nós exigimos: libertem todos os presos políticos, parem com as detenções ilegais em manifestações, permitam a concorrência política no nosso país, não fabriquem acusações criminais contra as pessoas e não as deixem na prisão só porque sim, transformem o polícia da terra no polícia celestial.".Com uma vontade profunda de ir para além do entretenimento, como já demonstraram em todas estas e outras ocasiões, as Pussy Riot vão estar, a 17 de agosto, no festival de música Vodafone Paredes de Coura, que se realiza na Praia Fluvial do Taboão. E apesar de ser contra Vladimir Putin que protestam, um dos seus temas musicais, do álbum XXX, tem o nome do slogan de campanha de Donald Trump: Make America Great again.