Democratas debatem, mas o palco é dominado por Trump (e o impeachment)

Joe Biden, Bernie Sanders e Elizabeth Warren voltam à televisão em debate para as primárias democratas, num momento em que a destituição de Trump continua na ordem do dia - e a polarizar os EUA.
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Um país dividido com a presidência de Donald Trump mais dividido ficou com o processo de destituição, aprovado pela Câmara dos Representantes na quarta-feira. Se o trabalho do empresário nova-iorquino mantém-se mal visto pela maioria da população desde a segunda semana do mandato, a média das sondagens, realizada pela Real Clear Politics, demonstra que tem recuperado algum terreno. No dia em que os representantes o condenaram por abuso de poder e obstrução ao Congresso, 52% estão insatisfeitos com Trump e 44,5% satisfeitos, embora a sondagem da NBC, já publicada na quinta-feira, coloca a diferença em dez pontos negativos.

Já no que se refere à destituição do presidente, a mesma sondagem da NBC dá um empate de 48% entre quem apoia e quem está contra. A média das sondagens dá uma inversão da perceção dos norte-americanos. Se há dois meses havia uma maioria de quase 5% a favor do impeachment, a diferença foi esbatendo ao ponto de nos últimos dias ter virado. A média das sondagens realizada pela Real Clear Politics indica agora que 47,2% apoia o voto da Câmara e 48% está contra.

A campanha dos democratas foi ofuscada nas últimas semanas pelas audições e pelos procedimentos da Câmara dos Representantes, controlada pelos democratas, que levaram ao impeachment. A votação abre caminho para julgamento do 45.º presidente no Senado onde, apoiado pela maioria republicana, deverá ser absolvido.

É neste contexto que os candidatos às primárias democratas voltam a receber as atenções com mais um debate a decorrer na quinta-feira à noite (madrugada de sexta-feira em Portugal). É o sexto debate na corrida para escolher um candidato democrata para enfrentar o terceiro presidente da história dos EUA a ser destituído pela Câmara, nas eleições de novembro de 2020. E é o debate que apresenta o menor número de participantes, sete, desde que começaram no verão.

Candidatos e jurados no julgamento de Trump

Após um dia dominado pelo debate e votação dos artigos do impeachment e a poucos dias do Natal, o momento pode não ser o melhor para os candidatos apresentarem as suas propostas, ou antes, que os espectadores estejam virados para aí, entre uma sobredosagem de política e a atenção virada para a quadra natalícia. O tema da destituição de Trump, aliás, não poderá deixar de contaminar o debate.

Todos os candidatos democratas mostraram apoio ao processo de destituição. Cinco deles são senadores, pelo que irão ser jurados no julgamento. Presentes no debate estarão Amy Klobuchar, Bernie Sanders e Elizabeth Warren. Dois outros senadores, Cory Booker e Michael Bennet, não se qualificaram para o debate segundo as regras do Comité Nacional Democrata, o órgão que gere o Partido Democrata.

Para se qualificar para o debate, os candidatos tiveram de chegar a 4% em quatro sondagens estaduais ou nacionais, ou a 6% em duas sondagens estaduais, entre 16 de outubro e 12 de dezembro, além de conseguir 200 mil doadores únicos, 800 dos quais de 20 estados diferentes. Ainda há 15 democratas candidatos à presidência, mas menos da metade acabou por alcançar esses valores de referência.

Além de Klobuchar, Sanders e Warren participam no debate Pete Buttigieg, Andrew Yang -- o único candidato de uma minoria -- e Tom Steyer. A senadora Kamala Harris havia conseguido qualificar-se, mas desistiu da candidatura por falta de financiamento.

Uma ausência de peso é do ex-mayor de Nova Iorque Michael Bloomberg. O milionário, que já investiu 100 milhões de dólares em publicidade, só anunciou a candidatura no mês passado. Está em quinto lugar, com 5%, e aposta nos 15 estados que votam a partir de março, entre os quais o Texas e a Califórnia.

A corrida democrata da Casa Branca continua a ser disputada sete semanas antes dos primeiros votos em Iowa, com uma batalha a três no topo das sondagens nacionais entre Biden, Sanders e Warren, e Buttigieg a liderar algumas sondagens nos primeiros estados em que decorrem as primárias.

Joe Biden, que esteve no centro do processo de destituição de Trump -- este pediu ao presidente ucraniano para anunciar uma investigação ao ex-vice-presidente para disso beneficiar politicamente, em troca da libertação de fundos para ajuda militar -- continua a ser o líder das sondagens. Isto apesar de ser alvo de dúvidas sobre o estado de saúde e a capacidade para assumir a Casa Branca.

Para tentar acabar com dúvidas, Biden, de 77 anos, publicou na terça-feira um boletim médico, no qual o seu médico o considerava "saudável" e "apto para ser presidente dos Estados Unidos", apesar de ter um batimento cardíaco irregular.

Biden foi alvo de críticas ao mostrar-se agressivo num comício no Iowa, quando chamou de "maldito mentiroso" e "gordo" a um cidadão que o acusou de ter "enviado" o filho Hunter Biden para Ucrânia para facilitar o "acesso" ao presidente.

Ainda assim este centrista que promete um regresso à normalidade após a polarização da era Trump continua no topo das sondagens, com 27,8% de média, segundo a Real Clear Politics.

Segue-se um candidato ainda mais velho. Bernie Sanders, de 78 anos, que foi operado ao coração em outubro, recebe 19,3%. No último lugar do pódio, com 15,2%, Elizabeth Warren, de 70 anos, está a disputar o mesmo campo progressista de Sanders.

Warren e Buttigieg em confronto

Em quarto, com 8,3%, encontra-se o moderado Pete Buttigieg, autarca de South Bend, que deverá ser alvo de ataques no debate porque lidera as sondagens do Iowa e está em segundo em New Hampshire, onde decorrem as segundas eleições primárias.

Warren, que luta para recuperar os números que teve entre agosto e novembro (esteve em segundo e chegou a tocar na liderança das sondagens), exigiu que Buttigieg divulgasse quem são os maiores doadores, que desse acesso aos jornalistas aos eventos de arrecadação de fundos e que divulgasse quem são os seus clientes na empresa de consultoria McKinsey. Buttigieg acedeu às exigências, mas exigiu em contrapartida que Warren, que recusa grandes doadores, a mostrar as declarações de impostos quando foi consultora jurídica de grandes empresas. Warren também acedeu.

Ao debate de Los Angeles seguem-se ainda mais quatro: 14 de janeiro no Iowa, 7 de fevereiro no New Hampshire, 19 de fevereiro no Nevada e 25 de fevereiro na Carolina do Sul.

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