Picos: casos: 86 | mortes: 1.Parecia demasiado longínquo, uma coisa da China, um novo coronavírus que matava pessoas sobretudo em Wuhan, na província de Hubei, desde o final de dezembro. Num mundo globalizado, era impossível que a doença se ficasse por ali e, de repente, Itália, em pleno continente europeu, via-se obrigada a anunciar a 21 de fevereiro o encerramento de espaços públicos em dez cidades. Depois foi um crescendo, em número de casos e de mortes. Os portugueses estavam mais atentos e mais atentos ficaram quando a vizinha Espanha, mesmo aqui ao lado, viu as infeções a aumentar em catadupa. Em Portugal, o primeiro caso foi anunciado a 2 de março: tratava-se de um médico de 60 anos que esteve no norte de Itália de férias. Seguiu-se um homem de 33 anos que foi a Valência, Espanha, em trabalho..Cidadãos e políticos começaram a ficar assustados. O dia da notícia da primeira vítima mortal, a 16 de março - Mário Veríssimo, 80 anos, antigo massagista do Estrela da Amadora e amigo de Jorge Jesus -, coincide com o dia do encerramento de escolas. Embora os portugueses já se tivessem preparado para o confinamento, e para o teletrabalho, nesse fim de semana..Picos casos: 1516 | internados UCI: 154 | mortes: 37.A notícia da segunda vítima mortal de covid-19, o presidente do conselho de administração do Santander Totta António Vieira Monteiro, chega a 18 de março, no mesmo dia da declaração do estado de emergência, que viria a ser renovado duas vezes. Ainda com as autoridades de saúde à nora quanto a este vírus que matava de forma inclemente - as notícias e imagens do colapso do sistema de saúde italiano eram um choque -, Portugal via, pela primeira vez na história da democracia, ser decretado o estado de emergência, que trouxe consigo uma série de restrições, como a obrigação de permanecer em casa e do teletrabalho, desde que possível..O comércio encerrou e só as superfícies que fornecem bens essenciais ficaram abertas, os restaurantes só podiam vender comida para fora, as aulas passaram a ser dadas online ou pela telescola, ficou suspenso o direito constitucional de manifestação... Perante a limitação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, o primeiro-ministro, António Costa, teve necessidade de dizer que "a democracia não está suspensa"..Foram cerca de dois meses em que as famílias não se viram nem se abraçaram, que muitos idosos em lares pensaram que tinham sido abandonados. As ruas estavam desertas, as imagens mostravam em Portugal, e no resto do mundo, um cenário digno de um filme apocalíptico..As notícias causavam medo. Foi também nestes dias que se assistiu à imposição do cerco sanitário a Ovar, que viria a durar um mês. Para travar o contágio, no período da Páscoa, o governo proibiu a deslocação para fora do concelho de residência, tal como acontece agora no fim de semana de Finados..Picos casos: 542 | internadoS UCI: 223 | mortes: 13.Em maio o país começou a desconfinar, com o pequeno comércio e os restaurantes a abrirem as portas, com regresso ao trabalho e das crianças às creches e infantários. O calendário de desconfinamento em três fases (4, 18 de maio e 1 de junho) devolveu a normalidade possível aos portugueses. Nessa altura, António Costa fez questão de deixar o aviso: "Nunca terei vergonha ou qualquer rebuço em dar um passo atrás." .O passo atrás foi dado em junho, na região de Lisboa, quando o número de casos começou a destoar dos do resto do país - a zona da capital chegou a ter mais de 90% das novas infeções diárias registados em junho. O país passou então a viver a três velocidades: estado de calamidade em 19 freguesias dos concelhos de Amadora, Odivelas, Sintra, Loures e Lisboa, estado de contingência na área metropolitana e estado de alerta no resto do país. As restrições para a AML passaram por proibir a venda de álcool a partir das 20.00, a proibição de ajuntamentos com mais de dez pessoas, o encerramento do comércio a partir das 20.00, exceto restaurantes. No resto do país, em estado de alerta, manteve-se o confinamento obrigatório para doentes e pessoas em vigilância ativa..Picos casos: 401 | internados i: 76 | mortes: 6.O resto do país relaxava e até já aproveitava para ir a banhos. Depois de dois meses fechados em casa, os portugueses queriam sol e praia. E até se indignavam com o facto de o Reino Unido ter tirado Portugal do corredor de países seguros..A situação mais drástica continuava a ser Lisboa. E começaram a surgir as notícias da intervenção das autoridades em festas que juntavam dezenas e até centenas de pessoas. Corriam nas redes sociais as imagens de ajuntamentos de jovens que não respeitavam o distanciamento social e tão-pouco usavam máscara. Ao mesmo tempo surgiam os alertas dos especialistas - os números mostravam uma alteração no perfil dos infetados, que passaram a ser pessoas mais novas e o risco de contaminarem familiares mais velhos é real. A interdição do consumo de álcool na via pública mantém-se..Picos casos: 3270 | internados UCI: 200 | mortes: 31.Em setembro, com o regresso ao trabalho e às aulas, os portugueses aproximaram-se do regresso à normalidade. E, como já se esperava, o número de novos casos explodiu - na passada quinta-feira ultrapassou os três mil. O país não pode voltar a fechar, a economia não pode parar, a crise já é demasiado grande, dizem o primeiro-ministro e o Presidente da República. Há setores que não conseguiram alavancar, como o turismo, um dos principais pilares do PIB; bares noturnos e discotecas, por exemplo, não reabriram. Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e as autoridades de saúde não se cansam de apelar à responsabilidade pessoal de cada um na contenção da transmissão do vírus.."Nunca pensei que ficaria em estado grave". São jovens e saudáveis, mas a covid levou-os para os cuidados intensivos .Mas os números não dão descanso. Portugal registou um aumento de 165% de novos casos nos últimos sete dias em relação à primeira semana de outubro, ou seja, 16 247 novas infeções, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE)..Esta sexta-feira, 23, foram anunciadas 31 vítimas mortais - não havia tantos mortos desde 3 de abril quando foram confirmados 37 óbitos. Um número que, de alguma forma, contraria o "consolo" de que a taxa de mortalidade estava a ser mais baixa, apesar do aumento de infeções..Perante a explosão de casos, o governo anunciou novas medidas. A mais emblemática é a proibição de circulação entre concelhos no período de Finados, uma altura em que muitas famílias se deslocam aos cemitérios para homenagear os seus mortos..Ao mesmo tempo também definiu medidas especiais para os concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, devido ao elevado número de casos. E que passam, nomeadamente, pelo dever de permanência no domicílio e a obrigação de teletrabalho..No país, o uso de máscara na via pública passa a ser obrigatório nos próximos três meses..As expectativas não são as melhores, tanto mais que se aproxima a época gripal e os sintomas podem confundir-se. Já se percebeu que um dos problemas são os assintomáticos, que podem espalhar involuntariamente a doença, sobretudo se não cumprirem as regras de higiene e distanciamento.."Tem de haver uma estratégia nacional para identificar assintomáticos. Eles são o grande desafio".A maior parte dos contágios está a dar-se em contexto familiar e o Presidente da República já veio dizer que é preciso repensar a forma como as famílias portuguesas vão comemorar o Natal - as decisões tomadas agora para o fim de semana de Finados já é vista como uma solução que pode ser replicada na época festiva, tal como aconteceu na Páscoa, quando foi proibida a circulação entre concelhos. Marcelo entretanto esclareceu que pretendia dizer que as famílias podem, por exemplo, repartir os encontros familiares por várias refeições..Até que seja descoberta e aprovada uma vacina para a covid-19, a pressão continua sobre a comunidade científica, a quem quase é exigida uma fórmula mágica para o contacto e o convívio com o novo vírus..Com a pandemia a não dar tréguas, os casos vão continuar a aumentar - no mundo são já 42 milhões de infetados e 1,145 milhões de vítimas mortais. Portugal regista 112 440 casos e 2276 vítimas mortais.