Cromos, puzzles, recortes e colagens: a história de Lisboa é uma grande brincadeira

Das Avenidas Novas à Expo'98, passando pela Brasileira e pelo Largo do Carmo, "LX Joga: Lisboa como nunca a viu" é um livro que conta várias histórias do século XX lisboeta de forma divertida e com vários jogos.
Publicado a
Atualizado a

Recortar uma máscara de Amália e de Eusébio e poder efetivamente usá-la no nosso rosto. Unir os pontos e "construir" algumas casas de Lisboa. Reescrever o "Manifesto Anti-Dantas". Encontrar o caminho do labirinto e permitir o encontro entre Sá Carneiro e Snu Abecassis. Descobrir "quem é quem" no Parque Mayer. Brincar ao "quantos-queres" com os programas de televisão mais populares. Colecionar os cromos dos melhores jogadores do Sporting e do Benfica. Estes são alguns dos jogos que encontramos em LX Joga - Lisboa como nunca a viu, o novo livro da jornalista Joana Stichini Vilela e do designer Pedro Fernandes, e que nos propõe uma viagem em tom de brincadeira pelo século XX lisboeta.

Este livro surge na sequência dos volumes LX60, LX70 e LX80, todos de autoria de Joana Stichini Vilela e os dois últimos em parceria com o diretor de arte do DN, Pedro Fernandes, que recordavam algumas das histórias e das imagens mais marcantes de cada década do século XX. "Assim que lançámos o LX80 [há três anos] as pessoas começaram a perguntar-nos pelos anos 90 mas eu achei que ainda era muito cedo. Ainda nem 20 anos tinham passado desde o final da década de 90", explica Joana Stichini Vilela. No entanto, também era verdade que fazer aqueles três livros tinha-lhes dado tanto gozo e havia ainda tanto por explorar na história que seria uma pena não continuar: "Queríamos continuar dentro deste universo, do século XX e das pequenas histórias da nossa História, mas queríamos avançar para coisas diferentes, mudar um bocadinho o conceito para não nos estarmos a repetir".

Nos livros anteriores, havia duas ideias principais: por um lado, a ligação ao universo das revistas que contam as histórias do nosso tempo e que têm uma grande preocupação gráfica; por outro lado, o olhar "com irreverência para a história recente". "Era uma coisa muito para as pessoas da nossa idade", admite Joana Stichini Vilela, que tem 39 anos. Geracional quer pela referência às newsmagazines ainda publicadas periodicamente em papel, quer por uma certa nostalgia dos anos 60, 70 e 80. Neste novo livro, essas duas premissas mantêm-se, mas os autores procuram "expandir" um pouco o seu alcance e chegar talvez a um público mais novo.

Foi assim que chegaram à ideia dos jogos. O jogo apela à interatividade a que os miúdos estão habituados (mas que não costumam encontrar nos livros) mas ao mesmo tempo leva-nos a viajar no tempo, porque em vez de botões para clicar temos desenhos para recortar, jogos de palavras, labirintos e outras propostas que parecem tiradas dos livros de passatempos da nossa infância.

O livro atravessa todo o século XX, começando com o plano de Ressano Garcia para as Avenidas Novas (1900) e terminando com a Expo'98. "Curiosamente, começa e acaba com dois momentos de expansão da cidade", diz Joana Stichini Vilela. "Essa foi, aliás, uma característica de Lisboa ao longo de todo o século XX, foi sempre crescendo." Pelo meio, aproveitamos a inauguração do primeiro cinema de Lisboa (o Ideal, em 1904) para falar desses primeiros tempos da "imagem em movimento", recorda-se o primeiro dérbi de Lisboa (que o Sporting ganhou por 1-0), fala-se do Regicídio e da Implantação da República, entramos no Bristol, o nightclub mais popular dos anos 20, passamos pelo Café Gelo e pela Brasileira, ouvimos um fado de Amália Rodrigues, fazemos a Revolução de Abril e vamos às compras no Grandella.

Entre os acontecimentos políticos incontornáveis e as histórias da cultura, do desporto e da vida da cidade, vai-se contando não só a história de Lisboa como do país. Os textos poderiam perfeitamente estar em algum dos outros livros LX pois mantêm o tom divertido, mas a cada um deles junta-se um jogo. "Em cada caso, tentámos perceber que jogo é que teria uma dinâmica mais próxima do texto e poderia até ajudar as pessoas a perceber melhor aquele acontecimento. O jogo é uma segunda narrativa", explica a autora.

A ideia é sempre "des-sacralizar a história" e tentar mostrar que "as coisas são muito mais próximas de nós do que imaginávamos". "Quisemos sintetizar os assuntos e ao mesmo tempo brincar, contar as histórias de forma divertida."

E se há uma certa irreverência no modo como olhamos a história, desta vez há também uma dose de rebeldia em relação ao objeto-livro, uma vez que a proposta é para que não só se risque como que se escortinhem algumas páginas. Alguém terá efetivamente coragem para estragar um livro tão bonito? "Assim que viram os livros, os nossos filhos quiseram logo ir buscar as tesouras", conta Joana, satisfeita porque esse é efetivamente o efeito pretendido. "Por um lado dá uma certa pena, mas o livro está pensado para isso. Se as pessoas não quiserem cortar podem tirar fotocópias..."

A pensar nisso, alguns exemplares editados terão como brinde um conjunto dos jogos que estão do livro: as máscaras de Variações, Eusébio e Amália, o avião do Sacadura Cabral para construir, o "quantos queres do programa" de TV. Segundo a editora Leya, o livro custa o mesmo preço e esse caderno vai incorporado em alguns dos exemplares distribuídos a nível nacional.

LX Joga: Lisboa como nunca a viu
De Joana Stichini Vilela e Pedro Fernandes
Editora Leya
Preço: 19,90 euros

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt