Crocs com cristais Swarovski ao dar os primeiros passos na passarela
A Egonlab é uma marca francesa de moda que tem um pé no mundo virtual e outro no mundo real. A dupla formada por Florentin Glémarec e Kévin Nompeix faz versões das suas propostas para o mundo digital e acabou de dar os primeiros passos numa passarela física, em plena semana da moda masculina de Paris, com umas crocs feitas de cristais Swarovski.
Os criadores, ainda na casa dos 20, apresentaram um desfile com ares góticos, no Louvre, com os modelos a circular entre velas, com roupas pretas. E mostraram pela primeira vez, ainda que apenas virtualmente, o resultado da parceria com a Crocs. As sandálias de plástico já estão há 20 anos no mercado, são muito usadas por profissionais de saúde e, apesar da simplicidade do modelo e do material de fabrico, já por várias vezes foram apresentadas como acessório de moda irreverente. Já as vimos em passadeiras vermelhas e até num desfile da Balenciaga em 2018.
Agora, a Egonlab aplica cristais Swarovski às crocs. "Tornámo-las sublimes para mostrar que são um tesouro nacional", explicou Kévin Nompeix à agência AFP. "Uma piscadela para homenagear os profissionais de saúde", nos tempos de pandemia, garante.
Cinco modelos virtuais de Crocs serão vendidos num leilão no metaverso e parte dos lucros irá para associações que facilitam o acesso ao mundo digital para a população mais desfavorecida.
É neste mundo que a Egonlab se tem movido. A dupla, que nasceu há dois anos - tal como a pandemia -, causou sensação com uma série de apresentações virtuais. Quando a moda se viu obrigada a viver exclusivamente online, Florentin Glémarec e Kévin Nompeix souberam aproveitar o momento com apresentações ousadas e campanhas inteligentes nas redes sociais.
Uma das iniciativas mais populares da dupla foi incluir os avós de um deles na marca, tornando-os modelos ocasionais e não oficiais. Volta não volta lá apareciam eles no Instagram da Egonlab a vestir casacos de ombros largos ou a calçar botas de cano alto. Uma brincadeira da qual não pensam abdicar. "Agora não conseguimos imaginar o ADN da marca sem eles", diz o neto, Florentin Glémarec.
"Usamos as redes sociais para nos distanciarmos dos outros", diz Kévin Nompeix à AFP. Mas admite: "O ecrã foi uma boa alternativa, mas as pessoas não querem passar o tempo todo num casulo virtual. As pessoas querem voltar ao físico". Daí o salto para o mundo real e para um desfile tradicional na passarela. "A moda é uma arte que está viva, não é apenas algo para se olhar. É preciso sentir o movimento das roupas, o peso do tecido", defende.
O desfile em Paris foi "uma consagração", antecipou à AFP o outro elemento da dupla, Florentin Glémarec. "Agora todos querem fazer desfiles e ser aceite no calendário oficial foi extremamente importante para nós".
A dupla também criou o Egonimati, uma espécie de sociedade secreta para os fãs explorarem toda a gama de produtos digitais, incluindo NFTs (non-fungible tokens, uma espécie de certificado digital único), um mercado que atingiu um volume de vendas global de 24,9 mil milhões de dólares em 2021. A visão da marca é olhar em várias direções ao mesmo tempo, garante Kévin Nompeix: "Criamos portais para o passado e construiremos portais para o futuro, para a próxima geração que ainda não conhecemos necessariamente".
A moda está à voltar às passarelas, apesar da incerteza sanitária resultante da variante Ómicron. Na semana da moda masculina de Paris as atenções estão voltadas para a Louis Vuitton, que fará esta quinta-feira dois desfiles para a última coleção de Virgil Abloh, que foi o primeiro designer negro a liderar uma marca de luxo, e que morreu de cancro, aos 41 anos, em novembro. E também para o desfile da Kenzo, agora com o japonês Nigo como novo diretor artístico. A partir de domingo as passarelas recebem a alta costura, ainda sem Armani, que na semana passada causou grande surpresa quando cancelou os seus desfiles em Milão e Paris po causa da pandemia.