Crítica de Le Pen é estrela em ascensão no Parlamento Europeu
É descrita pelos media como uma "estrela em ascensão" no Parlamento Europeu e uma atípica presidente de comissão, os seus amigos dizem que é uma "ativista alegre" que reivindica "novas formas de fazer" política. Karima Delli, francesa de origem argelina de 37 anos, ocupa o único cargo de liderança que Os Verdes possuem em Estrasburgo.
"Ao elegerem uma mulher estão a mandar um forte sinal aos cidadãos europeus", disse Delli quando o seu nome foi confirmado, após uma votação renhida, para a presidência da Comissão dos Transportes e do Turismo do Parlamento Europeu a 25 de janeiro. Substitui no cargo o alemão Michael Cramer, também de Os Verdes, que pretende abandonar Estrasburgo em 2019.
Entre as suas prioridades no cargo, a ecologista francesa quer chamar a atenção para os temas sociais e estender o combate contra as alterações climáticas aos transportes. Mas também, segundo fontes próximas, imprimir um estilo diferente à liderança de uma comissão.
Karima Delli não é o membro mais novo do Parlamento Europeu, mas é a pessoa mais nova a presidir a uma comissão. Posição que estaria longe de imaginar que chegaria quando nasceu a 4 de março de 1979, em Roubaix, no Norte de França, no seio de uma família de imigrantes argelinos com 13 filhos. Karima é a número nove. "No futebol seria atacante!", brincou numa entrevista ao Le Monde. O pai era operário têxtil, a mãe doméstica. "Nasci ecologista. Nunca me faltou nada, mas, como em todas as famílias grandes, controlávamos tudo: água, eletricidade, aquecimento, comida...", disse ao mesmo jornal. Gosta de Céline Dion, de piadas e crepes.
Estudou Ciências Políticas no Instituto de Estudos Políticos de Lille e foi lá que conheceu a senadora Marie-Christine Blandin, de Os Verdes, tendo-se tornado sua assistente parlamentar em 2004. Karima fala dela como um modelo.
No ano seguinte, a jovem aderiu ao partido Os Verdes, tendo em 2007 sido candidata, como suplente, às legislativas. O grande salto deu-se em 2009, quando, sem ninguém esperar, conseguiu ser eleita para o Parlamento Europeu - Delli era apenas a quarta da lista do partido em Paris. "Ela tem um entusiasmo contagiante, é muito positiva e construtiva", declarou, na altura da eleição, Manuel Domergue, cofundador, a par de Delli, do movimento Salvar os Ricos, que pretende estabelecer um teto máximo salarial em França. Já Jean-Marc Brûlé, um alto-responsável dos ecologistas franceses, definiu-a como sendo "feroz, interessante e surpreendente".
Primárias ecologistas
No primeiro mandato chamou a atenção pelo seu empenho na luta contra a pobreza, tendo conseguido fazer passar uma resolução que visa estabelecer um "rendimento mínimo" na Europa, algo que considera ser "uma ferramenta indispensável" para concretizar o objetivo da Comissão de tirar 20 milhões de pessoas da pobreza até 2020. "Para lutar contra a pobreza não basta fazer belos discursos sobre o crescimento e a competitividade porque, com mais de 8% dos trabalhadores pobres na UE, ter emprego já não protege ninguém da pobreza", declarou em 2011.
Karima defendeu também uma política comum de habitação social, através da adoção pelo Parlamento Europeu do chamado "relatório Delli", e o estabelecimento de um fundo de investimento europeu para a habitação sustentável.
Já com créditos firmados, Karima foi a cabeça-de-lista do partido nas europeias de 2014, desta vez por Hauts-de-France, a região da sua cidade natal. Como concorrente direta estava Marine Le Pen, líder da Frente Nacional - foram reeleitas.
"Durante o meu primeiro mandato fazíamos as duas parte da comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais do Parlamento Europeu, mas Marine Le Pen nunca apareceu! Nunca a vi!", lembrou Delli ao DN. "Mais tarde, na campanha para as europeias em 2014, ela teve dificuldades em ser convincente quando debatia temas económicos e sociais porque não sabia o que a comissão, da qual fazia parte, tinha feito nos cinco anos anteriores... Ela finge defender os pobres, mas isso não é verdade. No entanto, não podemos negar que ela é uma ameaça real", acrescentou a eurodeputada.
Neste segundo mandato, a sua aproximação da área dos transportes deu-se com a resposta do Parlamento Europeu ao Dieselgate (o escândalo das emissões Volkswagem), tendo Delli ajudado a recolher as 150 mil assinaturas necessárias para o plenário lançar uma investigação. Atualmente, ocupa a vice-presidência desta comissão de inquérito.
A sua intensa atividade no Parlamento Europeu não a tem afastado da política francesa. A 23 de agosto, anunciou que iria concorrer às primárias ecologistas para escolher o candidato do partido às presidenciais francesas de abril. Aventura na qual não teve tanto sucesso - foi a menos votada dos quatro candidatos, com 9,82% dos votos.
Mas para já, e no futuro a médio prazo, a sua carreira deverá continuar em Estrasburgo. "Porque não um terceiro mandato no Parlamento Europeu. Segundo os alemães, o terceiro é da maturidade", revelou após as primárias ecologistas.