Covid-19. Tribos sioux recusam remover os postos de controlo nas reservas
Nem a ameaça de serem levados a tribunal demove os nativos do estado norte-americano do Dakota do Sul. As tribos sioux estão a recusar a entrada nas reservas e mantêm postos "fronteiriços" em atividade, apesar de não terem sustentação legal. Tudo para impedir que o novo coronavírus entre no seu território, alegam.
A governadora de Dakota do Sul, Kristi Noem, já escreveu a vários líderes tribais na semana passada e deixou claro que os postos de controlo eram ilegais.
Mas os sioux alegam que esta é a única forma de garantir que o vírus não entra nas reservas e apontam que as unidades de saúde limitadas de que dispõem não seriam capazes de lidar com um surto.
Atualmente as pessoas só conseguem entrar nas reservas para negócios essenciais e se não tiverem viajado de um local que seja um foco de Covid-19. Antes de acederem também devem preencher um questionário de saúde.
Kristi Noem está a ameaçar levar as duas tribos - Oglala Sioux e Cheyenne River Sioux - a tribunal federal se não cumprirem a legalidade. Numa carta enviada aos representantes na sexta-feira, a governadora exigiu que os postos de controlo fossem removidos.
"Os postos de controlo nas estradas estaduais e norte-americanas não são legais e, se não forem removidos, o estado levará o caso ao tribunal federal", escreveu a governadora na sua carta de sexta-feira, adiantou a consultora e diretora de políticas, Maggie Seidel , disse em email enviado ao jornal local Argus Leader no domingo.
As tribos têm de obter permissão das autoridades estaduais, se quiserem fechar ou restringir as viagens nas suas reservas.
O presidente da tribo Cheyenne River Sioux, Harold Frazier, emitiu uma declaração em resposta à governadora em que argumentou: "Não vamos desculpar-nos por ser uma ilha de segurança num mar de incertezas e mortes". Acusa Noem de continuar a "interferir nos esforços para fazer o que a ciência e os factos ditam" e prejudicar "seriamente a capacidade de proteger todos na reserva".
O presidente da Oglala Sioux, Julian Bear Runner, afirmou que a decisão de Noem "ameaçou o interesse soberano do povo de Oglala". "Devido à falta de julgamento no planeamento de medidas preventivas na resposta à pandemia, a tribo Oglala Sioux adotou medidas razoáveis e necessárias para proteger a saúde e a segurança dos membros tribais e outros residentes, disse, citado pelo Argus Leader.
Frazier diz que o principal objetivo dos postos de controlo é monitorizar e tentar rastrear o vírus. "Queremos garantir que as pessoas provenientes de 'hotspots' ou áreas altamente infetadas sejam impedidas de circular pela nossa terra", disse o líder tribal à CNN.
"Com a falta de recursos que temos em termos médicos, esta é a melhor ferramenta que temos agora para tentar impedir [a disseminação da Covid-19]", acrescentou. Explicou que as reservas estão mal equipadas para lidar com um surto de coronavírus, com as unidades de tratamento intensivo mais próximas a ficarem a três horas de distância.
O Dakota do Sul é um dos poucos estados dos EUA que não emitiram ordem de permanência em casa para os residentes. Houve 198 casos de Covid-19 entre os nativos no estado, segundo dados do departamento de saúde do estado citados pela CNN. O estado tem mais de 3.500 casos confirmados e pelo menos 34 mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins.