Covid-19. Estudo diz que Portugal terá 14 casos por cada 100 em Itália
"Apesar de assistirmos nas últimas semanas a uma redução no aumento diário de novos casos em Portugal, o modelo matemático da Escola Nacional de Saúde Pública mostra que a curva portuguesa se afastou da espanhola, mas está mais próxima da italiana. Ao dia de hoje [2 de abril], por cada 100 novos casos em Itália são esperados 14 em Portugal", pode ler-se na análise do barómetro covid-19, um projeto da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Universidade Nova de Lisboa, que está a estudar a evolução da pandemia em Portugal.
Itália é o segundo país do mundo com o maior número de casos (115 242) e o que regista mais mortes (13 915, 760 nas últimas 24 horas). Espanha é o terceiro no que diz respeito ao número de infetados (110 238) e o segundo com mais mortes (10 003, mais 616 nas últimas 24 horas). No documento divulgado há duas semanas, os investigadores previam que haveria sete infetados portugueses por casa 100 italianos. Ou seja, metade do número que divulgam esta quinta-feira.
Estimam ainda que, por cada 100 novos doentes em Espanha, existam 20 em Portugal. Na semana passada, os analistas da ENSP observavam 22 casos portugueses por cada cem espanhóis.
Apesar disto, os investigadores da ENSP referem que o aumento percentual diário de novos casos tem vindo a diminuir. "Temos assistido a uma redução do aumento percentual diário de novos casos entre 7 a 20% (média de 15,7%), bem diferente dos valores das semanas anteriores, cujas percentagens com médias de 24,8% e 40,7%", diz Carla Nunes, investigadora e diretora da ENSP, que pede "cautela na interpretação destes dados". Isto porque "a análise da evolução das curvas espanhola e italiana também têm tido um abrandamento no aumento relativo de casos diários".
Portugal tem 9034 infetados com o novo coronavírus, 68 recuperados e 209 mortes, segundo o boletim epidemiológico desta quinta-feira da Direção-Geral da Saúde. Nas últimas 24 horas, foram confirmados mais 783 casos de infeção pelo novo coronavírus (um aumento de 9,5% face ao dia anterior) e mais 22 mortes.
Os especialistas em saúde pública acreditam que, apesar de existirem pontos em comum entre a curva epidemiológica portuguesa e as italiana e espanhola, o facto de Portugal ter tomado medidas de contenção do surto mais cedo pode fazer toda a diferença. E aproximar o país de outros como a Coreia do Sul ou Singapura, que, desde o início, implementaram ações de isolamento e de testes em massa para achatar a curva. "Já não falta muito para percebermos se foi suficientemente cedo para aplanar o pico da nossa curva e mudar a sua forma", continua Carla Nunes.
Um inquérito realizado pela mesma equipa, que contou com 15 6192 respostas, aponta que 76,5% dos portugueses estão em isolamento em casa, não saindo para ir trabalhar. 20,6% dos inquiridos afirmam continuar a deslocar-se até ao trabalho e 2% dizem que não estão a ir ao local de trabalho, mas que continuam a sair. Embora quase todas as pessoas deste último grupo (95%) reconheçam "as medidas veiculadas pelas autoridades de saúde como importantes ou muito importante, mas apesar disso não ficam em casa", indica a coordenadora científica do Opinião Social do Barómetro covid-19, Sónia Dias.
Em relação à saúde mental, 80% dos portugueses que reapoderam ao inquérito indicaram que já se sentiram deprimidos, agitados, ansiosos ou tristes por causa das medidas de distanciamento social, por terem receio de perder o rendimento (64,2%) ou temerem a falta de bens essenciais (45,4%).