Costa pediu desculpa por João Soares. Este diz ter sido "queirosiano"

Primeiro-ministro diz ter lembrado ao membros do seu governo que "nem à mesa de café" deixam de ser governantes
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O primeiro-ministro, António Costa, reagiu esta noite à polémica das declarações do seu ministro da Cultura, João Soares, que prometeu umas "salutares bofetadas" a dois cronistas do Público, afirmando que ele próprio pediu desculpas aos visados e que fez questão de lembrar os seus ministros que "nem à mesa do café" deixam de ser governantes.

"Tanto quanto sei, o dr João Soares já pediu desculpa aos visados pela forma como se expressou. Eu pessoalmente quero expressar publicamente desculpas [às] duas pessoas, uma, o Augusto M. Seabra, por quem tenho especial estima, e a outra, Vasco Pulido valente, por quem tenho consideração", começou por declarar o chefe do Governo à RTP3 (veja o vídeo a partir do 50'17'').

"Obviamente já recordei aos membros do Governo que enquanto membros do governo nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do governo e portanto devem ser contidos na forma como expressam as suas emoções", acrescentou. "E se é assim à mesa do café, quanto mais nestes novos espaços comunicacionais [como as redes sociais] que se tornam naturalmente públicos".

Costa sublinhou ainda que as declarações de João Soares "obviamente não traduzem a forma como o governo se quer relacionar".

"A minha intenção não foi ofender. Se ofendi alguém peço desculpa".

Após estas declarações, João Soares emitiu um comunicado onde afirma que o seu post no Facebook foi reação a um "ataque pessoal insultuoso", mas pediu desculpa caso tenha ofendido alguém.

No comunicado enviado à Lusa, o ministro da Cultura refere que lutou pela liberdade, "antes e depois do 25 de Abril", acrescentando: "Sou um homem pacífico, nunca bati em ninguém. Penso que a liberdade de opinião não pode ser confundida com insultos e calúnias pessoais, atentatórias da honra e do bom nome de cada um".

Na mesma nota, Soares diz que reagiu a um "ataque pessoal insultuoso, com uma figura de estilo de tradições queirosianas".

"Tenho 66 anos. Ao longo da minha vida defendi sempre a liberdade de expressão".

O ministro da Cultura, João Soares, reagiu hoje na rede social Facebook prometendo "salutares bofetadas" ao sociólogo Augusto M. Seabra pelas críticas de falta de linha de ação política e "estilo de compadrio, prepotência e grosseria" que este lhe fez.

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O crítico e programador cultural Augusto M. Seabra publicou na quarta-feira um artigo de opinião na edição 'online' do jornal Público considerando uma surpresa "inexplicável" a nomeação de João Soares para a tutela cultural do Governo.

No artigo de opinião "Tempo velho na cultura", M. Seabra considera que "o setor vive uma situação de emergência" pela sistemática desorçamentação e critica a falta de um aumento de dotação, "como mesmo acrescido desinvestimento na Direção-Geral do Património e no Fundo de Fomento Cultural".

"Que um governante se rodeie de pessoas de confiança é óbvio. Mas no caso do gabinete de Soares trata-se de uma confraria de socialistas e maçons", escreve o programador cultural, criticando várias decisões de João Soares, nomeadamente a nomeação de "um velho apparatchik, Elísio Summavielle, para o CCB, em lugar de António Lamas".

Por seu turno, João Soares reagiu hoje na página pessoal na rede social Facebook escrevendo que em 1999 prometera a Augusto M. Seabra "publicamente um par de bofetadas", acrescentando: "Foi uma promessa que ainda não pude cumprir".

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"Não me cruzei com a personagem, Augusto M. Seabra, ao longo de todos estes anos. Mas continuo a esperar ter essa sorte. Lá chegará o dia. Ele tinha, então, bolçado sobre mim umas aleivosias e calúnias", reagiu o ministro.

João Soares remata, na publicação: "Estou a ver que tenho de o procurar a ele e, já agora, ao Vasco Pulido Valente, para as salutares bofetadas. Só lhes podem fazer bem. A mim também".

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