Marcelo Rebelo de Sousa quer o primeiro-ministro preso ao cargo até ao final da legislatura (outubro de 2023) e recusa aceitar a ideia de que António Costa poderá estar a caminho de um cargo europeu..Falando no programa da Antena 1 "Geometria Variável", o Presidente da República considerou que as notícias dando conta dessa possibilidade são "uma especulação sem o mínimo de fundamento"..Questionado sobre se Costa se estará a preparar para ir embora, respondeu: "Vai para a Europa como?".."Não sei como é que vai para a Europa. O primeiro-ministro está a pleitear, a defender um plano plurianual, tem repetido como é importante o cumprimento da legislatura. É fundamental a estabilidade e o cumprimento da legislatura também por razões europeias e, portanto, não vejo. Todas as especulações podem ser feitas e imaginadas. Mas essa aí parece uma especulação sem o mínimo de fundamento", acrescentou..De acordo com o Presidente da República, Portugal tem mantido "uma influência europeia" com António Costa e com "vários outros primeiros-ministros" anteriores.."Sucessivos chefes de Governo têm sido protagonistas dessa influência, que decorre de um mérito natural nosso: que é, primeiro, sermos europeístas viscerais, haver um consenso que ainda é muito forte em Portugal em relação à Europa, mesmo em tempos de crise e de crítica. Depois, nós temos, de facto, quadros excelentes. Isso é uma coisa", apontou..Logo de seguida, porém, realçou o contexto nacional em que António Costa se encontra: "Outra coisa, como é evidente, o primeiro-ministro é protagonista cimeiro de um projeto que assumiu perante o país, por uma legislatura, que tem uma envolvente europeia fundamental. Deve assumi-lo. É bom que disponha dos instrumentos, e os orçamentos são instrumentos importantes"..Marcelo Rebelo de Sousa insistiu que "é fundamental que haja na área do poder mais diálogo entre os partidos que estão vocacionados para levar até ao fim a legislatura, para além das suas divergências, mas estão vocacionados para isso", e que à direita "a alternativa reforce a capacidade de o ser, de forma crescente, porque isso é bom para a democracia portuguesa"..Advertiu ainda que "a indiferenciação convida à radicalização" e "enfraquecimento dos moderados". No seu entender, "este vai ser o grande desafio até 2023"..Depois, "temos um contexto que é difícil, que é eleições todos os anos". Quanto ao seu papel, defendeu que lhe cabe criar "as condições de consensos quando isso é possível e desejável" e estimular "o aparecimento de alternativa onde isso é crucial a nível governativo", atuando "sem se deixar seduzir pela tentação dos segundos mandatos, que é de uma proatividade excessiva". Interrogado se já está quase lá, recusou essa leitura: "Não, não, não, não"..Segundo o chefe de Estado, os seus poderes constitucionais "chegam perfeitamente" e no exercício do cargo "tem de ter o equilíbrio de não lhe passar pela cabeça experiências partidárias, nem experiências parapartidárias, nem anti partidárias, e por aí adiante - é só manter o equilíbrio e o bom senso nos anos que faltam até ao fim do mandato, e são muitos"..Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que o fim dos mandatos presidenciais "deveria ser o período da despedida fraternal e calma", mas que "a prática tem mostrado que surgem factos que obrigam a intervenções intensas presidenciais, na pior altura para essas intervenções intensas". Dito de outra forma: "O Presidente ganha em preservar a sua intervenção o mais possível para não depreciar aquilo que possa ser uma intervenção acrescida, se for necessária, em momentos críticos.".O Presidente da República aproveitou também para defender que se deve repensar a perspetiva financeira e orçamental que no seu entender "dominou a Europa" e assumir "alguma governança económica" e também "uma visão social". É necessário "repensar a visão que dominou a Europa no domínio orçamental ou financeiro, e olhar mais para a realidade económica da Europa num mundo global, que é totalmente diferente daquele mundo de há dez anos"..Questionado se estava a referir-se aos critérios para o défice e para a dívida, o chefe de Estado respondeu: "Por exemplo. Não é só isso, é mais do que isso. É ter uma visão de alguma governança económica europeia". Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a atual presidente do Banco Central Europeu (BCE) e o seu antecessor, considerando que "Draghi teve" essa visão, assim como "Lagarde tem". Contudo, segundo o PR, "conviria que fosse partilhada claramente pelas várias instâncias europeias e instâncias nacionais decisivas a nível europeu, isto é muito importante, porque o mundo mudou"..joao.p.henriques@dn.pt