Corte de gás é mais uma "medida unilateral agressiva" da Rússia
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, considerou esta quarta-feira que a decisão do grupo Gazprom de cortar o fornecimento de gás à Polónia e Bulgária constitui mais uma "medida unilateral agressiva" da Rússia e prometeu solidariedade entre os 27.
"A decisão da Gazprom de cortar o fornecimento de gás a alguns Estados-membros da União Europeia (UE) é outra medida unilateral agressiva da Rússia", escreveu Charles Michel na sua conta oficial na rede social Twitter.
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Apontando que está em contacto com os primeiros-ministros polaco, Mateusz Morawiecki, e búlgaro, Kiril Petkov, o presidente do Conselho Europeu garante que os Estados-membros da UE manter-se-ão solidários enquanto não se libertarem totalmente da dependência da energia russa.
"Manter-nos-emos unidos e apoiar-nos-emos mutuamente ao mesmo tempo que eliminamos gradualmente as importações russas de energia", escreveu.
Esta quarta-feira de manhã, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já garantira que a UE "está preparada" para o corte de gás russo, pois tem trabalhado "para assegurar entregas alternativas e os melhores níveis de armazenamento possíveis em toda a UE", tendo os Estados-membros estabelecido planos de contingência.
"O anúncio pela Gazprom de que está a suspender unilateralmente a entrega de gás a clientes na Europa é mais uma tentativa da Rússia de utilizar o gás como instrumento de chantagem. Isto é injustificado e inaceitável e mostra mais uma vez a falta de fiabilidade da Rússia como fornecedor de gás, [mas] estamos preparados para este cenário", reagiu Von der Leyen.
O grupo russo Gazprom anunciou esta quarta-feira que suspendeu todas as suas entregas de gás à Bulgária e à Polónia, dois países membros do bloco europeu por não terem feito o pagamento em rublos.
Em comunicado, a Gazprom disse que notificou a empresa búlgara Bulgargaz e a empresa polaca PGNiG da "suspensão das entregas de gás a partir de 27 de abril e até que o pagamento seja feito em rublos".
A petrolífera estatal russa Gazprom já tinha avançado com a suspensão do fornecimento de gás à Bulgária a partir de hoje, no mesmo dia em que o primeiro-ministro búlgaro tem previsto um encontro com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em Kiev.
A Bulgária juntou-se assim à Polónia, que também tinha anunciado que a Rússia iria interromper o fornecimento de gás a partir desta quarta-feira perante a recusa em fazer os pagamentos em rublos, como exige a administração da Gazprom, controlada por Moscovo.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantiu esta quarta-feira que os pagamentos do gás russo em rublos é uma violação das sanções da União Europeia (UE) à Rússia, adotadas após a invasão da Ucrânia.
"Se não está previsto nos contratos [para compra de energia à Rússia] o pagamento em rublos, é uma violação das nossas sanções", disse Von der Leyen, em declarações à imprensa a propósito da suspensão de fornecimento de gás, anunciada esta quarta-feira pela petrolífera estatal russa Gazprom, à Bulgária e à Polónia, dois Estados-membros da UE.
"Noventa e sete por cento dos contratos estipulam especificamente o pagamento em euros ou dólares", sublinhou a líder do executivo comunitário.
A Alemanha afirmou esta quarta-feira que as suas empresas vão continuar a pagar pelo gás russo em euros ou dólares, depois de a gigante Gazprom ter cortado o fornecimento de Polónia e Bulgária por não terem pagado em rublos.
A intenção do executivo alemão foi expressa à Bloomberg pelo ministro da Economia, Robert Habeck, que garantiu que o fornecimento de gás para a Alemanha é "estável" e que o Governo está "a fazer tudo o que pode para que se mantenha assim".
"Os contratos legais privados estão a ser aplicados" para o gás russo, disse, garantindo que a Alemanha está a seguir as orientações publicadas pela União Europeia na semana passada, pelo que as empresas alemãs irão continuar a pagar em euros e dólares.
O Presidente russo, Vladimir Putin, estabeleceu que os compradores europeus de gás deverão abrir duas contas no Gazprombank -- uma em moeda estrangeira e outra em rublos. O banco seria então responsável pela conversão da moeda estrangeira para a russa e pela transferência do dinheiro para a Gazprom.
Habeck tinha já anunciado, na terça-feira, que a Alemanha poderá ficar independente do petróleo russo dentro de dias e não apenas no final do ano.
Em conferência de imprensa na Polónia, disse que a Alemanha tinha conseguido reduzir a sua dependência do petróleo russo de 35% de antes da invasão da Ucrânia para 12% na atualidade.
Os atuais 12% correspondem às importações realizadas, através de um oleoduto, para a refinaria de Schwedt, no leste do país.
O ministro, que é do partido Os Verdes, admitiu que nos próximos dias seja possível desenvolver uma alternativa de fornecimento a este oleoduto, gerido pela russa Rosneft.
No final de março, Putin tinha dito que os clientes estrangeiros da Gazprom, "hostis à Federação Russa", deveriam pagar o gás importado em rublos, mas a maioria dos países da União Europeia, incluindo a Polónia e a Alemanha, não aceitou essa exigência.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já assegurou que Bruxelas tem planos de contingência para contornar os cortes de gás da Rússia, sublinhando que a decisão "constitui um instrumento de chantagem".
Em resposta a Von der Leyen, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, considerou que o corte do fornecimento a Polónia e Bulgária "não é um instrumento de chantagem".
Os dois países atingidos - a Polónia e a Bulgária - garantiram esta quarta-feira que conseguem continuar a fornecer gás aos consumidores, assegurando que têm fornecedores alternativos, mas admitindo também que contam com a ajuda da União Europeia.