Conselho Europeu. Merkel prevê negociações "muito difíceis". Há "divergências muito grandes"
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse esta sexta-feira esperar negociações "muito difíceis" no Conselho Europeu, em Bruxelas, dadas as "divergências muito grandes" ainda existentes entre os líderes europeus sobre a resposta à crise gerada pela covid-19.
"Chegámos às negociações com muita dinâmica, mas devo dizer que as diferenças ainda são muito grandes e não consigo prever se teremos já um acordo", embora isso fosse "o desejável", afirmou Angela Merkel, em declarações prestadas na chegada ao Conselho Europeu extraordinário, o primeiro presencial em Bruxelas desde o início do surto de covid-19.
A responsável admitiu, por isso, esperar "negociações muito difíceis", apelando ao "trabalho árduo" dos chefes de Governo e de Estado da UE.
Para a chanceler alemã, é necessário "muito empenho de todos para alcançar algo que seja bom para a Europa e para os cidadãos europeus, tendo em conta a pandemia, e para responder às dificuldades económicas".
O primeiro-ministro, António Costa, reiterou o desejo num "acordo rápido" em torno da proposta de relançamento da economia europeia, fazendo votos para que o Conselho não perca tempo, até porque a proposta sobre a mesa é "excelente".
"Nós temos uma excelente proposta da Comissão. O presidente do Conselho fez um grande trabalho para acomodar as diferentes críticas dos diferentes Estados-membros. Agora, cabe ao Conselho não adiar, não perder tempo, e tomar as decisões que rapidamente são necessárias para responder àquilo que é a urgência para a economia, para o emprego, para a recuperação económica da Europa", declarou.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, admitiu não estar otimista sobre a cimeira de líderes europeus, estimando que a possibilidade de chegar a acordo é inferior a 50%.
"De momento, não estou otimista, mas nunca se sabe. Ninguém está interessado em se reunir para outra [cimeira de líderes]", disse Mark Rutte, em declarações prestadas antes do Conselho Europeu extraordinário, o primeiro presencial em Bruxelas desde o início do surto de covid-19.
Naquela que foi a intervenção mais pessimista no arranque da cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), o primeiro-ministro holandês indicou estimar que "a possibilidade de chegar a acordo este fim de semana é inferior a 50%".
Ainda assim, argumentou que, "no final, o conteúdo é mais importante do que a velocidade", observando que "um compromisso fraco não vai levar a Europa mais longe".
Já falando sobre a questão do Estado de direito, Mark Rutte, que falava aos jornalistas junto à Representação Permanente holandesa em Bruxelas, defendeu a existência de uma cláusula para o salvaguardar no orçamento da UE a longo a longo prazo.
O responsável holandês disse, mesmo, que se países como a Hungria insistirem na exclusão desta cláusula, então haverá "um problema muito grande".
O presidente francês afirmou que o Conselho Europeu é um "momento de verdade e de ambição para a Europa", garantindo que tudo fará para contribuir para um compromisso sobre o plano de relançamento da UE.
Emmanuel Macron reiterou que esta "crise inédita, no plano sanitário mas também a nível socioeconómico, exige muito mais solidariedade e ambição", advertindo que, para muitos, "é o projeto europeu que está em jogo".
Lembrando a proposta franco-alemã avançada a 18 de maio, de um Fundo de Recuperação de 500 mil milhões em subvenções, "que serviu de base à proposta da Comissão Europeia de um plano de relançamento", o presidente francês, que na quinta-feira à noite reuniu-se em Bruxelas com o primeiro-ministro António Costa, considerou que "as próximas horas são absolutamente decisivas" para a UE estar à altura da ambição que o momento exige.
Macron garantiu que, "em conjunto com a chanceler [alemã] Angela Merkel, e ao lado do presidente [do Conselho Europeu] Charles Michel", tudo fará "para que seja alcançado um acordo".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considerou que o futuro da União Europeia não podia estar mais em jogo.
"Não poderia haver mais em jogo. Se correr bem, podemos sair desta crise mais fortes", sublinhou a líder do executivo comunitário, em declarações à entrada da primeira reunião presencial do Conselho Europeu desde o início da pandemia do coronavírus SARS-Cov-2.
Von der Leyen adiantou ainda acreditar que "é possível uma solução" para as divergências entre líderes, acrescentando que, com a proposta de orçamento europeu e de fundo de recuperação, a UE tem "não só a oportunidade de ultrapassar a crise, mas também de modernizar o mercado interno e de levar por diante o nosso pacto verde europeu e a digitalização".
O chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez, disse que os líderes europeus estão "obrigados" a 'fechar' um acordo sobre o plano de recuperação face a uma crise "inédita".
"Estamos perante um Conselho muito importante, eu diria que histórico para o conjunto de países europeus, porque inédita é também a situação que estamos a atravessar", com a pandemia mais grave que sofreu a humanidade nos últimos 100 anos, apontou Sánchez, numa declaração à chegada à cimeira.
"Como consequência, todos os Estados-membros, todos os lideres europeus, estamos hoje e amanhã convocados para conseguir um bom acordo [...] creio que estamos obrigados todos a chegar a um acordo", enfatizou, garantindo que, pelo seu lado, parte para as discussões com um "espírito construtivo".
Para o líder socialista espanhol, um bom acordo passa por um fundo de recuperação que transforme as economias europeias "em economias muito mais resilientes, verdes, digitais e inclusivas", sendo que a inclusão "deve ser não só territorial mas também social".
No primeiro Conselho Europeu presencial dos últimos cinco meses -- a anterior cimeira "física" teve lugar em fevereiro, antes da chegada da pandemia da covid-19 à Europa --, e que deverá prolongar-se pelo menos até sábado, os 27 terão de ultrapassar as muitas diferenças que ainda os separam relativamente às propostas de um Fundo de Recuperação e do orçamento da União para 2021-2027.
A fasquia é alta: aprovar o Quadro Financeiro Plurianual, o orçamento da UE para 2021-2027, de 1,07 biliões de euros, e o Fundo de Recuperação pós-pandemia que lhe está associado, de 750 mil milhões de euros.
Parece haver acordo entre todos os 27 quanto à necessidade de uma resposta urgente à crise, mas as posições quanto às modalidades dessa resposta estão afastadas e, admitem vários dirigentes europeus, o consenso exigido está longe de adquirido e esta pode não ser a cimeira que aprova o orçamento.
Isto porque persistem grandes divergências quanto à distribuição das verbas do fundo de recuperação, que a proposta da Comissão Europeia prevê sejam canalizados em dois terços (500 mil milhões de euros) através de subvenções e um terço (250 mil milhões de euros) de empréstimos em condições muito favoráveis.
Os chamados "países frugais" -- Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia e, em menor grau, a Finlândia - opõem-se à proporção de verbas canalizadas sob a forma de subvenções, defendendo uma maior proporção de verbas por empréstimo e que os fundos sejam condicionados à realização de reformas, que permitam aos países em pior situação fazer face a futuras crises sem ajuda europeia.
A cimeira deve prolongar-se pelo fim de semana.