A escolha do representante português na Eurovisão vai ser feita nesta noite na Portimão Arena. Além da sensação que Conan Osíris causou nas redes sociais - tendo já alcançado quatro milhões de visualizações no YouTube - as duas semifinais partilham o facto de entre a votação do júri e do público os dois primeiros lugares terem sido distribuídos entre Matay e NBC (mais clássicos) e Conan Osíris e Surma (mais alternativos). A prova de que esta edição do Festival da Canção "representa aquilo que somos hoje em dia em vários espaços musicais: do mais alternativo ao mainstream", como descreveu na apresentação dos compositores Nuno Galopim, consultor do evento. Uma marca para manter. "É assim que tem de ser o Festival da Canção", sublinhou na ocasião..Para Bernardo Pereira, correspondente português do Wiwibloggs (uma das maiores fontes sobre a Eurovisão, com 24 milhões de visitas e 70 correspondentes em todo o mundo), "os fãs mais acérrimos do Festival já entenderam o percurso que a RTP quer fazer e aprenderam nos últimos três anos a abraçar aquilo que mais foge ao mainstream e que, no nosso caso, pode potenciar bons resultados na Eurovisão"..Assim se justifica "a vitória de Conan Osíris no televoto", acredita Bernardo Pereira..Uma aposta ganha.O Festival da Canção renasceu em 2017, ano em que Salvador Sobral foi o vencedor e que resultou na primeira conquista portuguesa da Eurovisão. O modelo de convidar artistas já reconhecidos no meio musical para compor músicas para o Festival é para continuar. E Bernardo Pereira acredita que este é o melhor caminho: "Nos últimos anos, o Festival tem vindo a demarcar-se de uma degradação que era visível em termos de qualidade musical e produção de produto televisivo.".Foi na melhoria destes dois aspetos que o projeto se tornou "algo mais apetecível a autores e cantores, e foi isso que a RTP conseguiu", acrescenta o fã e seguidor dos festivais e da Eurovisão. Tal como o fim gradual de "rótulos que a própria sociedade pôs no Festival, que tinha de ser música pop/dance ou power ballads"..Depois de anos de degradação, o Festival teve o seu renascimento. "Fomos do oito ao oitenta. Inevitavelmente, este renascer implicaria alterar a 100% a premissa do Festival. Se antes era um produto televisivo mais conservador que muitos apelidavam de "mofo", a nova realidade tinha claramente de ser uma abertura à diversidade. Um chamamento do género: "Venham, tudo é aceite aqui, estão todos convidados"..Além disso, "este novo formato foi estabelecido numa ideia de continuidade e recuperação da confiança dos melhores compositores e artistas do nosso país". "Enquanto essa confiança não for defraudada, o formato atual tem tudo para singrar", sendo de esperar a continuidade desta nova forma de organizar o Festival da Canção..É neste mote que chegamos a Portimão com Conan Osíris, Matay, NBC e Surma na frente (pelo menos de acordo com as pontuações das respetivas semifinais). Artistas que foram descritos por Nuno Galopim na apresentação dos 16 compositores como representantes da diversidade. Conan Osíris é uma "figura da identidade" e a prova de que "se pode ir a espaços de nicho"; Surma mostra como "com ferramentas globais se consegue mostrar identidade"; NBC é "um nome-chave importantíssimo da música urbana e do hip hop"; e Tiago Machado (compositor da música Perfeito interpretada por Matay) tem "o desafio de mostrar que há muitas canções noutros géneros que podem habitar o seu território". O que não impede que os dois mais alternativos - Conan e Surma - se tenham mostrado surpreendidos pelas votações conseguidas..Chamar a atenção da Eurovisão.A revitalização do Festival da Canção teve impacto também lá fora. "O facto de a RTP ter olhado para o Festival da Canção de uma maneira diferente fez que, como consequência, os estrangeiros olhassem para a nossa seleção com mais respeito e admiração", admite Álvaro Aragonez, seguidor do evento e que esteve nas três últimas edições, tendo também acompanhado as mais recentes da Eurovisão..É por isso que, apesar de Portugal não ter ainda representante escolhido, já está em 11.º lugar nas tabelas de apostas como favorito à vitória, com a mesma possibilidade de vencer que é atribuída a países como França ou Bélgica.."Portugal está no sério caminho para voltar a estar no topo da próxima edição da Eurovisão. Acompanhei de perto todo o processo que envolveu a participação de Salvador Sobral no Festival da Canção e depois na Eurovisão, e o que está a acontecer com Conan Osíris, tanto nacional como internacionalmente, segue traços muito semelhantes", aponta Álvaro Aragonez..Também Bernardo Pereira reconhece que Portugal pode voltar a ser feliz na Eurovisão. "Existe, a meu ver, apenas uma canção com potencial na Eurovisão - Telemóveis, de Conan Osíris. A Eurovisão é como um jogo de apostas. Quanto mais dinheiro se investe, mais retorno temos. É exatamente o mesmo com as canções. Quanto mais riscos corremos, maior poderá ser o retorno. Vejo a canção a qualificar-se para a final com relativa facilidade. Na final, é necessário as estrelas estarem todas alinhadas para vencer, mas antevejo um resultado digno.".Álvaro Aragonez também admite o favoritismo e só não está mais convicto de que o país é "favorito a ganhar a Eurovisão deste ano porque mais de metade das músicas que vão a concurso estão ainda para ser divulgadas". Neste momento, é a Rússia a liderar as apostas para vencer em Telavive. Mas ainda falta conhecer 11 canções, entre as quais a portuguesa..No lançamento da edição deste ano do Festival da Canção, o próprio presidente do conselho de administração da RTP, Gonçalo Reis, colocou a fasquia alta, dizendo que o objetivo deste ano é a vitória em Telavive. Recordando que a própria EBU (União Europeia de Radiodifusão, responsável pela organização da Eurovisão) classificou a organização portuguesa, em 2018, a melhor dos últimos dez anos e que deseja repetir esse feito em 2020..Israel acolhe a Eurovisão 2019.Israel foi o grande vencedor da edição de 2018 da Eurovisão que aconteceu em Lisboa. Depois de alguma discussão sobre que cidade iria acolher um dos maiores eventos televisivos mundiais, que chega a uma audiência de quase 200 milhões de pessoas em todo o mundo, Israel acabou por definir Telavive. Para isso contribuiu a pressão da EBU, que se mostrou contrária à decisão de que fosse em Jerusalém. Cada país faz a eleição do seu representante. Muitos deles são escolhidos em talent show, mas em alguns países existem os concursos como o português Festival da Canção ou o italiano Festival de Sanremo. Até ao momento, dos 41 países ainda falta conhecer os artistas e as músicas de 11. Em alguns casos, como na Holanda, já se sabe quem vai representar o país, faltando decidir qual vai ser a música. As semifinais estão marcadas para 14 e 16 de maio (Portugal está na primeira) e a final para 18 de maio.