Como um tweet sobre Hong Kong deixou a NBA em risco na China

Diretor geral dos Rockets publicou mensagem de apoio aos protestantes de Hong Kong e desatou uma polémica que está a colocar em causa o sucesso da liga no mercado chinês. Televisão estatal da China cancelou transmissões e patrocinadores afastaram-se.
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A televisão estatal da China (CCTV) afirmou nesta terça-feira que não exibirá os jogos de pré-temporada da NBA que decorrerão no país esta semana, promovendo assim uma maior pressão sobre a liga de basquetebol norte-americana após um tweet do diretor-geral dos Houston Rockets, uma das 30 equipas da liga, em apoio aos protestos de Hong Kong.

Daryl Morey apagou rapidamente a mensagem publicada na rede social Twitter e pediu desculpas, no domingo, por qualquer ofensa causada, o que não impediu entretanto que a equipa (uma das mais ligadas ao mercado chinês desde que em 2002 escolheu de forma inédita o poste Yao Ming como número 1 do draft) perdesse patrocinadores e que tivessem sido canceladas as transmissões televisivas na segunda maior economia do mundo.

"Não era minha intenção que meu tweet causasse qualquer ofensa aos adeptos dos Rockets e aos meus amigos na China", escreveu Morey na segunda-feira. "Estava meramente a expressar um pensamento, baseado numa interpretação de um evento complicado", disse, acrescentando que desde então ouviu e levou em conta outras perspetivas sobre a crise de Hong Kong.

O tweet inicial de Morey incluía uma imagem com a legenda "Lute Pela Liberdade. Fique ao Lado de Hong Kong".

A mensagem levou a marca de roupas desportivas Li-Ning e o patrocinador Centro de Cartões de Crédito do Banco de Desenvolvimento Xangai Pudong (SPD Bank) a suspenderem o patrocínio aos Rockets.

Entretanto, a NBA emitiu um comunicado a afirmar que lamentava as declarações de Morey, o que provocou críticas de vários políticos e legisladores norte-americanos, como a democrata Elizabeth Warren ou o republicano Ted Cruz, adepto de longa data dos Rockets.

Por outro lado, o comissário Adam Silver - principal dirigente da liga -, afirmou à agência Kyodo News que a NBA apoia a liberdade de expressão, uma resposta considerada inaceitável pela televisão chinesa CCTV.

"Nós opomo-nos categoricamente ao apoio de Silver a Morey na questão da liberdade de expressão e pensamos que qualquer comentário que desafie a soberania de um país e a estabilidade social não está a promover a liberdade de expressão", reagiu a CCTV nesta terça-feira numa declaração em chinês, acrescentando que tal promoverá a revisão da sua relação com a NBA.

A época regular da liga, sobre a qual a CCTV detém os direitos exclusivos da emissão chinesa, começa este mês. A gigante tecnológica Tencent Holdings, que detém os direitos exclusivos de transmissão online na China, já comunicou que não vai emitir os jogos da Rockets, temporariamente.

A decisão aumentou a pressão sobre a liga, que enfrenta diversas críticas sobre a forma como está a lidar com a controvérsia. O pedido de desculpas feito após o tweet do dirigente dos Rockets desapontou alguns que consideram a NBA como a liga mais progressiva das organizações de desporto norte-americanas, enquanto o apoio de Silver a Morey deixou a liga vulnerável na China.

490 milhões de chineses assistiram às Finais da NBA

A NBA trabalhou durante anos para se estabelecer no mercado chinês e regularmente promove jogos de exibição no país. Os jogadores de topo, incluindo o base dos Rockets James Harden, frequentemente vão à China para contactos com os fãs e para atividades promocionais dos seus patrocinadores.

Como prova do sucesso comercial da liga norte-americana de basquetebol no país asiático estão os dados mais recentes divulgados pela Tecent sobre as últimas Finais da NBA: 490 milhões de fãs chineses assistiram em julho aos jogos da NBA nas plataformas da gigante tecnológica.

Uma relação de sucesso que agora fica tremida por causa de um tweet, ameaçando fazer da NBA a mais recente vítima na tensão diplomática e comercial entre EUA e China.

"Entre os valores que têm feito parte desta liga está a liberdade de expressão", disse o comissário Adam Silver à Reuters. "Mas também aceito que é um direito do Governo da China e das suas empresas reagir a estas palavras [de Morey]. Dos meus anos de experiência na NBA, acho que levará algum tempo curar algumas estas questões", acrescentou, admitindo que o impacto desta polémica no negócio da liga "é já uma evidência".

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