Como um fadista descobriu a Amália da Roménia
Numa fase difícil da sua vida, Paulo Bragança ouviu um dia Lume Lume num pub londrino e, encantado pela voz de Maria Tanase, pôs na cabeça que tinha de ir à Roménia desse por onde desse. Acabou por chegar lá à boleia, viver uns tempos em Bucareste, acolhido por uma família cigana, pouco a pouco contactando com outros romenos e aprendendo a língua dos chamados latinos do Leste. Contou-me isto numa entrevista de vida ao DN, em janeiro, e hoje canta Maria Tanase num concerto no Capitólio, em Lisboa. Música no contexto da Festa da Francofonia, pois o francês é tradicionalmente a língua da grande cultura na Roménia, país que deve à ferocidade de Trajano contra os dácios uma romanização que outras partes também longínquas do império não conheceram.
Para quem tenta perceber o valor de Maria Tanase, digo só uma coisa: Paulo Bragança vai cantá-la e também a Amália Rodrigues e a Edith Piaf. Um concerto Edith-Amália-Maria, assim, só com o primeiro nome, como muitos poucos, muitas poucas, chegam a eternizar-se. A beleza da voz do fadista garante que haverá magia dentro de horas no coração de Lisboa, ali no Parque Mayer.
Julgo não cometer nenhuma inconfidência ao sublinhar que Paulo Bragança não só cantará Maria mas sentirá cada uma das palavras. É que ele anda há muito a aprender romeno. Aliás, foi por causa dessa ligação à Roménia que conheci este português extraordinário, tanto pela voz como pela cultura. Que depois de tempos duros - e aconselho lerem a tal entrevista - refez a sua carreira para felicidade de muita gente.
Eu cá agradeço aos nossos amigos comuns romenos, a Ioana Bivolaru e o Gelu Savonea, terem-nos apresentado. E só não estarei hoje à noite no Capitólio por o trabalho me ter feito sair de Lisboa. Não percam. Ainda por cima a Festa da Francofonia é de entrada livre. E vão já ao YouTube ouvir Lume Lume.