"Fiquei surpreendido com a curiosidade muito abrangente de Leonardo da Vinci" - foi a primeira grande conclusão do ex-presidente da CNN e editor da revista Time, Walter Isaacson, enquanto investigava Leonardo da Vinci para escrever a biografia sobre o artista. Em seguida, ao ler 7200 páginas de cadernos com muitos apontamentos, escritos e desenhos, diz: "Fiquei maravilhado com a forma como ele queria saber tudo o que pudesse sobre cada assunto que fosse interpretável, da anatomia à arte, da música à matemática e à zoologia." Conclui, na entrevista ao DN, sem dificuldade que Da Vinci tinha "essa capacidade de apreciar os padrões da natureza em diferentes tópicos, o que o ajudou a tornar-se o génio mais criativo da história da humanidade"..Isaacson considera que Da Vinci é o melhor exemplo do homem renascentista, no entanto coloca reticências no que respeita ao seu entendimento enquanto génio. A razão é simples: "Ele foi um génio criativo, mas se usarmos apenas a palavra génio sobre a sua mente, dá a ideia de ter sido tocado por criador com alguns poderes sobre-humanos. O que contraria a realidade, porque o génio resulta da sua vontade e da dedicação ao esforçar-se para ser mais observador e curioso e trabalhando exaustivamente para aprender tudo o que pudesse.".Quando se questiona Isaacson sobre como é que alguém que tinha pouca formação, que sabia pouco de latim e de matemática menos do que se pensa, chegou às premissas e às conclusões que nos legou, o biógrafo aponta para o facto de Da Vinci ser um autodidata: "Ele disse sobre si próprio que era um discípulo de experiência e experimentações. Sendo autodidata, em vez de aprender com o que lhe era transmitido, optava por fazer experiências e observar as coisas por conta própria.".Para Walter Isaacson, Leonardo da Vinci só peca por uma situação: "Uma das falhas de Da Vinci foi não terminar os seu projetos frequentemente. Há muitas pinturas que deixou por terminar, ensaios que nunca publicou e invenções que jamais materializou. Na minha opinião, o momento que ele mais gostava era o da conceção, a conclusão nem tanto. Se essa forma de ser fez dele um perfeccionista, trouxe também essa desvantagem, tanto que só deixou cerca de uma dúzia de pinturas totalmente acabadas..O material principal para este trabalho foram as 7200 páginas de anotações e rabiscos de Da Vinci. Conseguiu compreender a dimensão de Da Vinci na totalidade ou ainda haverá muito por explicar? Acho que os seus cadernos dão uma grande visão do seu pensamento. Vemos a sua mente numa dança de pensamentos nestas páginas, preenchidas com esboços de arte e rabiscos para matemática ao lado de listas de compras ou de perguntas a que queria responder. Daí que seja impossível entender por completo todas as suas emoções internas, no entanto tomamos conhecimento do que está a pensar a cada dia que passa..Biografias como a de Vasari serviram-lhe de base para a sua, ou precisou de ter um olhar mais contemporâneo? Sei que haverá sempre mais para aprender sobre Leonardo, mais insights que vêm da leitura que se faz dos seus cadernos de notas e em muitas mais maneiras de o ligar nos dias contemporâneos..Houve mais alguém que combinasse arte, ciência, tecnologia e imaginação desde Da Vinci? Ele era o exemplo do homem da Renascença, mas havia outros como ele na sua época: que eram apaixonados pela arte e pela ciência, pelas humanidades e a engenharia. Faz-me lembrar outras pessoas sobre as quais escrevi e que compartilhavam essas paixões, como é o caso de Benjamin Franklin e Steve Jobs..Considera como condições para a sua genialidade o ser inadaptado: ilegítimo, vegetariano, canhoto, distraído e, ocasionalmente, herético. Só em Florença se sobreviveria com esse conjunto de qualidades? Estou certo de que a tolerância de Florença e a disposição de conviver com alguém diferente foi a chave para que essa cidade se tornasse tão criativa e tenha ajudado a criar o Renascimento. Para Leonardo, ser um estranho, desde que aceite, era a chave para sua criatividade..Destaca a orientação gay. Se esta biografia tivesse sido publicada há 30 anos, daria destaque a essa componente do artista que gostava de usar uma capa cor-de-rosa pelos joelhos, ou seria um tema sem importância? Acho que Da Vinci estava perfeitamente confortável (ao contrário de Miguel Ângelo) em ser claro sobre a sua homossexualidade, que fazia parte de quem ele era. Os biógrafos que me antecederam cometeram um erro ao ignorar esse aspeto da sua vida. Dito isso, não considero que isso o tornasse assim tão diferente, era simplesmente uma parte da sua vida..Após a leitura desta biografia parece que não conseguiu fugir ao fascínio de Mona Lisa. É verdade? O sorriso da Mona Lisa é interativo e misterioso. Ele muda conforme o olhamos sob diferentes ângulos. Acho isso muito importante e direi mesmo que é uma das maiores conquistas artísticas da história..Se tiver de escolher a investigação que o identificaria como biógrafo, qual seria: Albert Einstein, Benjamin Franklin, Ada Lovelace, Steve Jobs ou Da Vinci? Leonardo da Vinci. Ele é o melhor entre aqueles que combinam artes e ciências, humanidades e tecnologia..Leonardo da Vinci.Walter Isaacson.Porto Editora.671 páginas