Marega relançou o campeonato e trouxe o racismo no futebol português à ordem do dia
O FC Porto ficou neste domingo a um ponto do Benfica na classificação da I Liga, depois de vencer o Vit. Guimarães (2-1). Mas há jogos em que "o futebol passa para segundo plano", como lembrou Sérgio Conceição no final do jogo, em que Marega decidiu abandonar o relvado devido a insultos racistas. "O que tenho a dizer, perdoem-me de eu não falar do jogo, da dinâmica, das substituições... O jogo passa para segundo plano. Estamos completamente indignados com aquilo que se passou. Sei da paixão que existe aqui no Vitória pelo clube e que a maior parte dos adeptos não se revê na atitude de algumas pessoas que estavam hoje na bancada a insultar, desde o aquecimento, o Moussa (Marega). Nós somos uma família independentemente da nacionalidade, da cor da pele, da altura, da cor do cabelo. Nós somos uma família. Somos humanos. Merecemos respeito. O que se passou aqui é lamentável. Lamentável", atirou o treinador dos dragões, que decidiu não fazer mais declarações e falhou a conferência de imprensa.
Um caso que envergonha o futebol português e que marcou um jogo interessante entre duas boas equipas no D. Afonso Henriques.
Sem o castigado Soares, Sérgio Conceição deu a titularidade a Zé Luís, numa equipa em que Mbemba volta a ser opção perante a lesão de Pepe e com Corona de regresso à lateral direita. Os dragões variavam de um 4x4x2 para um 4x3x3 durante o jogo. Já Ivo Vieira praticamente repetiu a fórmula da robusta vitória sobre o Famalicão (7-0), com exceção de Lucas Evangelista, que entrou para o lugar de João Carlos Teixeira (teve um problema físico de última hora e nem no banco se sentou). O que levou Ola John a jogar na esquerda e Bruno Duarte no centro do ataque.
O FC Porto sabia que dependia de si próprio para se aproximar do Benfica, depois da derrota do líder com o Sp. Braga, no sábado, e entrou a todo o gás na partida, confundindo o Vit. Guimarães e canalizando o jogo pelo lado direito de Corona. A bola chegava assim em melhores condições a Zé Luís do que a Marega. Foi assim que surgiu o golo do FC Porto aos dez minutos de jogo: cruzamento de Zé Luís para Sérgio Oliveira, que surge na área para atirar à trave. A bola a bateu depois nas costas de Douglas e entrou.
O golo não desorganizou os vimaranenses nem lhes tirou o discernimento ofensivo. A equipa de Ivo Vieira reagiu com três oportunidades de golo em três minutos. Primeiro foi Marcano a tirar a bola em cima da linha de golo, depois de um remate de Marcus Edwards, depois foi Marchesín que se impôs com categoria a um espetacular remate de Pêpê Rodrigues e depois foi Bruno Duarte a aparecer sozinho na cara do guarda-redes portista. E embora o árbitro tenha anulado o lance por fora de jogo, ficou o susto para os dragões.
Os vitorianos estavam melhor no jogo. A estratégia da equipa de Ivo Vieira passava por explorar as subidas de Corona, mas os dragões conseguiram arrefecer o ímpeto ofensivo do adversário com longas troca de bolas e algumas faltas cirúrgicas. Mas Sérgio pedia mais à equipa, que só por uma vez chegou à baliza de Douglas em ataque apoiado. Numa jogada conduzida por Otávio, o brasileiro serviu Marega, que, já na área, rematou ao lado e desperdiçou uma excelente oportunidade de fazer o segundo para os portistas. O FC Porto chegou assim ao intervalo em vantagem sem fazer um remate enquadrado com a baliza.
Para a segunda parte havia um dado a ter em conta. O Vit. Guimarães nunca conseguiu uma reviravolta no D. Afonso Henriques depois de estar em desvantagem ao intervalo frente ao FC Porto em 35 jogos. Apesar disso, a equipa de Ivo Vieira entrou determinada em contrariar as estatísticas e, depois de um aviso de Florent Hanin (quase obrigou Mbemba a fazer um autogolo), Bruno Duarte teve cabeça para fazer o empate aos 49 minutos. Ola John apanhou a defensiva portista em contrapé e colocou a bola na cabeça do médio vitoriano, que mergulhou para bater Marchesín.
Ainda faltava muito para jogar. Os dragões careciam de mais dinâmica ofensiva e começaram a esticar mais o jogo, dando-lhe mais profundidade. Aos 60 minutos Mbemba encontrou Marega, que teve arte e engenho para picar a bola sobre Douglas e adiantar de novo o dragão no jogo. Há nove jogos que o maliano não marcava.
Depois o jogo perdeu interesse. A situação de Marega, que abandonou o relvado devido a insultos racistas vindos das bancadas, desconcentrou os jogadores. O FC Porto acabou o jogo a segurar o resultado face a um Vitória que nunca deixou de ser ameaçador (Davidson ficou muito perto do empate já depois dos 90 minutos).
E assim, em apenas duas jornadas, uma desvantagem de sete pontos foi diluída para apenas um. O FC Porto tem agora 53 pontos, menos um do que o Benfica (54).
FIGURA: Marega
Além de ser a figura do jogo, é também o destaque desportivo. Decidiu o jogo num lance de classe ao picar a bola sobre o guarda-redes e deixou o FC Porto a apenas um ponto da liderança do Benfica.
VEJA OS GOLOS
FICHA DE JOGO
Jogo no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães
Vitória de Guimarães - FC Porto, 1-2
Marcadores: 0-1, Douglas, 10 minutos (própria baliza); 1-1, Bruno Duarte, 49'; 1-2, Marega, 60'
Equipas:
Vitória de Guimarães: Douglas, Sacko, Pedro Henrique, Venâncio (João Pedro, 83), Florent, Pêpê, André André, Lucas Evangelista (Bonatini, 75), Marcus Edwards, Ola John (Davidson, 76) e Bruno Duarte
Treinador: Ivo Vieira
FC Porto: Marchesín, Corona (Nakajima, 83), Mbemba, Marcano, Alex Telles, Otávio (Diogo Leite, 88), Uribe, Sérgio Oliveira, Luis Díaz, Marega (Manafá, 71) e Zé Luís
Treinador: Sérgio Conceição
Árbitro: Luís Godinho (AF Évora)
Ação disciplinar: cartão amarelo para Zé Luís (44), Marega (61)
Assistência: 23 896 espetadores