Na estrutura das malas de viagem, na roupa, em objetos transportados no interior das bagagens. Ou no corpo. São várias as estratégias usadas por quem tenta transportar droga do Brasil e usa os aeroportos nacionais como porta de entrada na Europa, onde estão a ser ultrapassados os valores de apreensões e detenções do ano passado..Foi o caso de uma operação contada ao DN. Era uma ação de rotina no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Na mala de um homem de 67 anos, que viajava desde o Brasil, foram encontrados vários pacotes de cocaína dissimulados em objetos. Enquanto a bagagem era revistada por elementos da Autoridade Tributária, permaneceu sempre calmo, mesmo depois de ter sido encontrada a droga. Uma detenção entre as várias que têm acontecido no aeroporto de Lisboa nos últimos dias. No espaço de uma semana, as autoridades apreenderam 13 quilos de cocaína com um valor nas ruas estimado em mais de meio milhão de euros..Entre janeiro e agosto foram detidas por tráfico de droga nos aeroportos nacionais 72 pessoas - nos 12 meses de 2018 foram cerca de cem - e as apreensões até setembro já ultrapassaram as do ano passado: 320 quilos contra 312.."Não há apreensões diárias, mas quase. Fizemos várias detenções nos últimos dias relacionadas com o tráfico de droga por via aérea, mas às vezes acontece que as investigações culminam na mesma altura", explica ao DN Rui Sousa, coordenador da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da Polícia Judiciária..É a droga mais traficada por via aérea, à frente da heroína, do haxixe e das drogas sintéticas, as últimas um desafio constante para as polícias, pois há sempre novos químicos a surgir, muitos deles ainda nem constam nas tabelas do Laboratório da Polícia Científica. Mas o coordenador deixa uma certeza: "Em horas conseguimos saber do que se trata.".A cocaína intercetada nos últimos dias vinha escondida nas próprias estruturas das malas de viagem, em roupa e outros objetos no interior das bagagens. Com os 13 quilos apreendidos, os traficantes poderiam lucrar mais de meio milhão de euros - um quilo pode valer entre 30 mil e 40 mil euros..Das sete detenções realizadas nas últimas duas semanas no maior aeroporto português, quatro pessoas estarão ligadas a uma rede de tráfico de droga - são três estrangeiros e um português. Os outros três casos são correios de droga que partilham a mesma nacionalidade - a brasileira..Voos com origem no Brasil na mira das autoridades."Em dois dos casos as detenções resultaram de uma investigação. Tínhamos uma forte suspeita de que essas pessoas estivessem a traficar droga e estávamos preparados para as receber", conta o coordenador da unidade de combate ao tráfico da PJ. Que é taxativo: "Se há mais cocaína a chegar é porque há mais cocaína a ser consumida.".O Brasil é um dos pontos principais de saída da cocaína da América do Sul para a Europa, África e Ásia. "É natural que as redes de tráfico utilizem companhias aéreas portuguesas", salienta Rui Sousa. É por isso que a Polícia Judiciária recebe diariamente a lista de voos que chegam a Lisboa originários de aeroportos brasileiros.."Portugal tem muitos voos que, em teoria, podem ser considerados de risco e que levam a que as autoridades [Polícia Judiciária, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e Autoridade Tributária] os acompanhem com mais atenção", refere..As "mulas", ou correios de droga, como os investigadores preferem chamar, contam sempre a mesma história: vinham de férias e não sabiam que havia droga na sua bagagem. "A maioria sabe o que está a fazer, conhece todas as implicações legais", sublinha Rui Sousa..Os casos - muito raros - em que não o sabem também são facilmente detetados. Aconteceu recentemente e a convicção da polícia é de que o detido não sabia que estava a transportar cocaína. Mas é um caso apenas entre as mais de cem detenções registadas em 2018 nos aeroportos portugueses. Neste ano, e só até ao final de agosto, já foram apanhadas mais 72 pessoas por suspeita de tráfico de droga e estes ainda são apenas números provisórios.