Há quatro mil e quinhentos anos, os povos neolíticos que construíram Stonehenge, uma obra-prima da engenharia, também cavaram uma série de covas alinhadas para formar um círculo com 2 quilómetros de diâmetro. A estrutura parece delimitar um percurso que levava as pessoas a uma área sagrada porque as antigas Muralhas de Durrington, um dos maiores monumentos pré-históricos da Grã-Bretanha, estão localizadas precisamente no centro. O local fica a 3 quilómetros a nordeste de Stonehenge, na planície de Salisbury, em Wiltshire, no Reino Unido.O professor Vincent Gaffney, um dos principais arqueólogos do projeto, disse ao jornal The Guardian: "Esta é uma descoberta sem precedentes, de grande importância no Reino Unido. Os investigadores de Stonehenge e da sua paisagem foram surpreendidos pela escala da estrutura e pelo facto de ela não ter sido descoberta até agora, apesar de estar tão perto de Stonehenge.".A descoberta, anunciada na segunda-feira, é ainda mais extraordinária porque oferece a primeira evidência de que os primeiros habitantes da Grã-Bretanha, principalmente comunidades agrícolas, desenvolveram uma maneira de contar. Construir uma estrutura deste tamanho e com um posicionamento tão cuidadoso só poderia ter sido feito contando centenas de passos. Cada um dos poços tem mais de 5 metros de profundidade e 10 metros de diâmetro. Foram encontrados aproximadamente 20 poços mas pode haver mais de 30..Gaffney afirmou: "O tamanho das covas e circuitos ao redor das Durrington Walls é único. Isso demonstra o significado daquele local, a complexidade das estruturas monumentais na paisagem de Stonehenge e a capacidade e o desejo das comunidades neolíticas de registar os seus sistemas de crenças cosmológicas de maneiras e em uma escala que não conhecíamos. " E acrescentou: "Stonehenge tem uma ligação clara com as estações e a passagem do tempo, através do solstício de verão. Mas, com os poços de Durrington, não é a passagem do tempo mas a delimitação de um círculo com significado cosmológico. ".Como a área de Stonehenge está entre as paisagens arqueológicas mais estudadas do mundo, a descoberta é ainda mais inesperada. Tendo enchido naturalmente ao longo de milénios, as flechas - embora enormes - foram vistas como furos naturais e lagoas de orvalho. A tecnologia mais recente - incluindo prospeção geofísica, radar de penetração no solo e magnetometria - mostrou-as como anomalias geofísicas e revelou o seu verdadeiro significado..Gaffney, professor da Universidade de Bradford e principal investigador do projeto Stonehenge Hidden Landscape, que tem pesquisado dezenas de quilómetros de paisagem em Salisbury Plain, concluiu disse: "Começamos a ver coisas que nunca poderíamos ver através da arqueologia tradicional, coisas que não podíamos imaginar"..À BBC, o investigador Richard Bates, da Escola de Ciências da Terra e do Meio Ambiente de St. Andrews, confirmou que as novas tecnologias permitem aos cientistas ter "uma visão do passado que mostra uma sociedade ainda mais complexa do que poderíamos imaginar.".O monumento de Stonehenge encontra-se encerrado devido à pandemia de covid-19 e só deverá reabrir a 4 de julho.