O presidente da Junta de Freguesia de São Teotónio, no concelho de Odemira, em Beja, culpou esta sexta-feira o Governo pela necessidade de criação de uma cerca sanitária na sua freguesia, mostrando "consternação e surpresa" com o anúncio do primeiro-ministro.."São Teotónio está neste momento a ser uma vítima da incompetência deste Governo, porque parece só agora ter acordado para esta realidade. A situação não tem sido acompanhada e não foi devidamente acautelada, mas o Governo sabe há muito tempo o que se passa nesta freguesia", afirmou Dário Guerreiro (PS)..As freguesias de São Teotónio e Almograve-Longueira estão desde as 8.00 horas em cerca sanitária, com seis pontos de passagem controlados pela GNR, estando interditada a circulação por via rodoviária de e para aquelas duas freguesias, assim como a permanência na via pública, exceto nas situações detalhadas num diploma publicado na quinta-feira..Na quinta-feira, em conferência de imprensa após a reunião semanal do executivo, o primeiro-ministro indicou que todos os resultados dos inquéritos de saúde pública realizados no concelho de Odemira permitiram verificar que os casos de covid-19 se concentram naquelas duas freguesias "e, claramente, associados à população migrante que trabalha no setor agrícola"..António Costa sublinhou também que "alguma população vive em situações de insalubridade habitacional inadmissível, com hipersobrelotação das habitações", relatando situações de "risco enorme para a saúde pública, para além de uma violação gritante dos direitos humanos"..O autarca mostrou-se "surpreendido" com as declarações do primeiro-ministro, que só agora diz estar preocupado com a "sobrelotação das habitações, no que isso representa para a saúde pública e a violação gritante dos direitos humanos"..Segundo Dário Guerreiro, a Junta de Freguesia tem "ao longo dos últimos anos participado em reuniões com membros deste Governo, onde tem feito o retrato do que se passa na freguesia", o que sugere, diz, que António Costa "não fala com os seus ministros e secretários de Estado".."É uma fatura demasiado pesada para população de São Teotónio que tem vindo a sofrer, como todo o país, confinamentos atrás de confinamentos, com uma fatura ainda mais pesada para aqueles que, mais uma vez, estão impedidos de abrir as portas dos seus negócios, nomeadamente, no turismo, restauração e pequeno comércio", lamentou..O autarca queixa-se de ter pouca, ou nenhuma, informação oficial e que a única que recebe é através do presidente da Câmara de Odemira, que o vai "convidando" para reuniões. "Até ao momento, não tenho um único telefonema do Governo ou das autoridades de saúde", afirmou..Dário Guerreiro sublinhou que a cerca é uma "realidade" e que há que ter "coragem e força para a ultrapassar", mostrando-se disponível para "ajudar a encontrar soluções" para "eliminar esta situação" e para que "não volte a acontece no futuro".."O Governo tem agora as portas abertas para, definitivamente, revolver a situação que existe na freguesia e não pode continuar a fechar os olhos, tem que agir e imediatamente", advertiu..O autarca aproveitou para questionar o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, sobre o que tem feito para resolver a questão da subvenção estatal anual que a freguesia recebe e que não inclui a população migrante, mas a quem a freguesia "tem de prestar serviços"..Deixou ainda perguntas à atual ministra e ao ex-ministro da Agricultura sobre o que foi feito ou está previsto fazer para que "este problema [de habitação dos migrantes] nunca mais venha a acontecer", já que a pandemia "pode ir embora, mas este problema vai cá ficar"..Dário Guerreiro questiona também o que se pretende fazer com a população que vai ser colocada no empreendimento ZMar Eco Experience requisitada pelo Governo para alojar alguns dos trabalhadores rurais.."Quando a pandemia acabar estão a pensar colocá-los onde? Nas casas? É que temos aqui casas com 40, 50, 60 pessoas. Se agora são um problema de saúde pública, como é quando a pandemia acabar? Vai continuar tudo na mesma?", questionou..Na sequência da situação verificada em Odemira, o Governo aprovou na quinta-feira um decreto-lei que determina que as empresas que empreguem 10 ou mais trabalhadores em explorações agrícolas e estaleiros temporários ou móveis da construção civil estão obrigadas a fazer um registo diário dos seus trabalhadores, com efeitos a partir de hoje.