Os concelhos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra, em parceria com a Tratolixo, empresa detida por estes quatro municípios e responsável pelo tratamento dos seus resíduos urbanos, estão desde há um ano a testar a recolha de biorresíduos com projetos-piloto, que serão alargados a toda a população a partir deste mês de setembro. Para que esta recolha seja feita, as autarquias vão entregar aos seus munícipes um pequeno caixote castanho e sacos verdes, que depois serão colocados pelas pessoas nos contentores de lixo indiferenciado. A partir de janeiro de 2024, a recolha de lixo orgânico será obrigatória no nosso país..Este projeto de recolha é pioneiro em Portugal, mas já está a ser implementado em países como Noruega, Suécia ou França, e foi escolhido por Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra - em detrimento de opções como a recolha porta a porta ou através de contentores na rua específicos para biorresíduos - devido à sua sustentabilidade e baixo custo. "As pessoas têm em sua casa o caixote e os sacos verdes que são fornecidos por cada município, só têm que pôr o resíduo orgânico dentro do saco, fechá-lo e colocá-lo no mesmo contentor de rua onde mete o lixo indiferenciado. Será o mesmo carro de recolha que fará o transporte dos resíduos, que quando chegar à nossa fábrica, em Trajouce, vai passar por um conjunto de máquinas que irá separar esses sacos dos outros. Depois, todos os sacos verdes serão encaminhados para a unidade de Mafra", explica Ricardo Castro, diretor do EcoParque da Abrunheira (Mafra) da Tratolixo, ao DN..O projeto-piloto em Cascais decorreu em Carcavelos, onde já estava implementado o projeto Waste4Think, que foi pioneiro de todo este sistema de recolha, em Sintra tem decorrido na zona do Cacém e Casal de São Marcos, enquanto em Oeiras foi nas freguesias de Queijas e Algés, ao passo que em Mafra decorreu na Ericeira. Estes projetos-piloto abrangeram, em cada município, uma média de cinco mil alojamentos, o que corresponde a cerca de 12 mil habitantes. Setembro marca agora o arranque da expansão desta recolha de biorresíduos nos quatro concelhos. "Sintra já começou a fazer, Cascais e Mafra vão começar agora e Oeiras também deve estar a começar", adianta Cristiana Santos, diretora de Planeamento Estratégico da Tratolixo, explicando que Sintra tem a particularidade de, neste momento, a adesão ser feita voluntariamente pelos moradores, que se podem inscrever através do telefone.."O sistema começa com o fornecimento de um pequeno contentor castanho de sete litros para as pessoas terem na sua cozinha e onde colocarão um saco verde de 12 litros que é fornecido pela respetiva câmara. Nesse saco deverão pôr todos os restos alimentares que sobram da preparação da comida ou das refeições, podem pôr borras do café, sacos de chá, folhas de plantas, guardanapos de papel. Tudo o que seja orgânico", enumera Ricardo Castro, sublinhando que o próprio contentor tem impresso o que se pode lá pôr. Quando o sistema estiver a funcionar na sua plenitude, a previsão de recolha de biorresíduos é de 70% tendo em conta o total dos resíduos recolhidos pelos habitantes dos quatro concelhos, o que representa 120 mil toneladas por ano..A distribuição dos sacos verdes também estará a cargo das autarquias e deverá ser feita entre uma a duas vezes por mês, sendo que os sacos serão colocados nas caixas do correio. "A periodicidade depende dos municípios", diz o responsável do EcoParque da Abrunheira. O mesmo se passa com a forma como são entregues. "Por exemplo, Sintra tem um protocolo com os CTT. É uma rota que já está feita e os carteiros quase todos os dias passam na casa das pessoas. É uma forma de não criar mais emissões de CO2, nem gastar mais combustível", refere Cristiana Santos. "No caso de outros municípios, são os cantoneiros ou as pessoas da fiscalização que já fazem aquelas rotas que vão passar nas casas e colocar no correio. Não é preciso pedir os sacos", reforça Ricardo Castro..Este último ano serviu para perceber que o principal problema é que muitas pessoas colocam o saco verde dentro do seu saco de lixo indiferenciado e não diretamente no contentor da rua. Outros problemas, mas em menor percentagem, estão relacionados com o facto de os sacos não estarem bem fechados ou de conterem resíduos não orgânicos, o que neste caso, ronda os 10%..Depois de colocado o saco no contentor de lixo indiferenciado, o conteúdo do contentor é recolhido como habitualmente pelos camiões e levado para as instalações da Tratolixo em Trajouce, onde é processado através de tratamento mecânico no qual, graças a um equipamento novo com leitor ótico, os sacos verdes são identificados e colocados de parte. De referir que devido ao aumento de processamento de resíduos orgânico que se avizinha, a Tratolixo está a construir naquele local uma nova fábrica. "Uma vez separados, os sacos verdes vão para Mafra, onde temos uma central de digestão anaeróbia, que vai ser ampliada para uma capacidade de 120 mil toneladas por ano de tratamento de resíduos orgânicos", explica Ricardo Castro..Os processos de "digestão" pelos quais estes resíduos orgânicos passam, no EcoParque da Abrunheira, permitem depois que com eles seja produzido biogás - que depois é usado como combustível para produzir energia elétrica vendida à rede nacional, sendo que a atual produção de 22 GW/ano irá passar para 30 GW com os biorresíduos -, mas também composto orgânico, que atualmente é vendido na sua maioria à indústria vinhateira e que irá passar de uma produção de 10 mil para 15 mil toneladas, e ainda água, que depois de tratada é reutilizada na fábrica, representando 70% do consumo de água deste ecoparque.."Em Portugal, este projeto é pioneiro e temos tido contactos de muitos municípios, da Grande Lisboa e de todo o país, que querem saber como é que funciona o nosso sistema. E sabemos que Braga também já está a tentar implementá-lo", desvenda Ricardo Castro..ana.meireles@dn.pt