Cascais dá prémios a quem mais reciclar

A autarquia lança projeto pioneiro em que troca embalagens de vidro, alumínio e plástico por pontos que podem ser convertidos, por exemplo, em entradas gratuitas em museus do município e outros benefícios.
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Reciclar e ganhar. São estas as palavras-chave de um projeto pioneiro em Portugal que é lançado nesta quinta-feira pela Câmara de Cascais e que, na prática, permite aos seus munícipes usufruírem de prémios através do depósito de embalagens de vidro, alumínio e plástico em máquinas que, para já, vão estar nos principais supermercados do concelho.

O conceito é simples. É apenas preciso fazer o registo na aplicação para telemóveis CityPoints Cascais e, por cada embalagem devolvida, é atribuído um ponto (por cada recipiente com menos de meio litro) ou dois pontos (mais de meio litro) sob a forma de um talão QR Code que poderá ser lido através da aplicação. Depois disso, é só trocar esses pontos pelos prémios disponíveis nos quiosques indicados pela autarquia.

Para se ter uma ideia, um kit de sacos ecológicos vale 15 pontos e a entrada na pista de arborismo é gratuita mediante 30 pontos. Mas há mais opções, que vão desde palhinhas de aço inoxidável, escovas de dentes em bambu, passeios de burro com guia e até bilhetes diários para entrar em todos os museus do concelho de Cascais.

A vereadora da área do Ambiente Joana Pinto Balsemão explicou ao DN que o objetivo deste projeto é que se torne "mais um passo para a educação cívica da população e para a mudança de comportamentos", até porque "Portugal e Cascais, como todos os municípios, estão aquém das metas europeias para reciclar e valorizar 50% do seu lixo". "Em 2019, reciclávamos apenas 21% dos nossos resíduos, o que ficava muito aquém. E como Cascais não estava a dar o contributo necessário, queremos antecipar-nos à legislação europeia, que vai aumentar as suas metas de reciclagem em 2025", explicou. "Queremos um futuro sem desperdício, quanto menos lixo houver no aterro, mais circular será a nossa economia, que assim pode gerar mais cerca de cinco mil postos de trabalho", acrescentou.

Esta foi uma ideia inspirada em algo semelhante que já existe na Alemanha, onde foi aplicada a uma escala nacional. A autarquia de Cascais investiu qualquer coisa como 800 mil euros, embora tenha sido cofinanciada em 50% pela EEA Grants, um fundo da Islândia, Noruega e Liechtenstein que se destina a subsidiar economias circulares através da redução dos materiais e produção de resíduos. Nesse sentido, Joana Pinto Balsemão considera que o investimento realizado pela autarquia "tem apenas como retorno a mudança de comportamentos e a redução da pegada ecológica de cada cidadão", mas deixou bem claro que existe o objetivo de que seja "o início de algo maior".

E, nesse sentido, a Câmara Municipal de Cascais já foi mesmo contactada por outras autarquias do país que estão "interessadas em adotar esta ideia", mas também "por outros retalhistas que também pretendem juntar-se a este movimento". Certo é que, para já, serão dez máquinas instaladas nas grandes superfícies comerciais do município, nomeadamente em hipermercados e no Mercado da Vila, que serão uma espécie de pioneiros nesta frente de batalha, embora tenham já uma visão expansionista. "Algumas grandes superfícies pretendem alargar esta iniciativa aos seus estabelecimentos de outros concelhos. Isto significa que há um aumento da consciencialização e cada vez mais uma preocupação com o planeta", revelou a vereadora cascalense.

"As embalagens podem ser depositadas nas máquinas que para já estarão nos supermercados, que são o local natural de afluência. A grande diferença agora é que as pessoas também vão passar a chegar com os sacos cheios", frisou.

Curioso é que este projeto está a ser preparado desde junho de 2019, quando estas máquinas foram instaladas no Complexo Multiserviços da Câmara Municipal de Cascais, na Adroana, freguesia de Alcabideche. Este projeto-piloto contemplava o crédito de 10 cêntimos por cada embalagem depositada, montante que depois poderia ser descontado noutros serviços municipais, como na cafetaria, por exemplo.

Agora chegou o momento de iniciar a expansão do projeto, cujo impacto será monitorizado pela Nova SBE que, de acordo com Joana Pinto Balsemão, "vai fazer estudos sobre o impacto ambiental e económico deste projeto junto dos consumidores de Cascais". De qualquer forma, a vereadora deixou claro que "não existe uma meta estabelecida" a partir da qual ser irá considerar a instalação destas máquinas um sucesso, afinal, "o objetivo primordial é aumentar a capacidade de reciclagem" do município. Ou seja, independentemente do nível de adesão das pessoas, este projeto representará sempre um ganho para Cascais.

Ainda assim, Joana Pinto Balsemão faz questão de destacar a necessidade de alertar consciências para as questões ambientais. "É bom que as pessoas percebam que, por exemplo, a areia é o recurso utilizado para fazer garrafas e o ferro é o recurso das latas. Se nada fizermos, em última análise, os recursos podem desaparecer, pois o planeta não tem capacidade de se regenerar à mesma velocidade com que utilizamos esses recursos naturais", sublinhou.

Um outro projeto, denominado Do Velho Se Faz Novo, financiado pelo Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e da Ação Climática e gerido por três associações, está a ser implementado em Portugal com 23 máquinas de recolha de garrafas de bebidas em plástico em vários pontos do país. O conceito é semelhante ao de Cascais, uma vez que é emitido um talão de desconto cujo montante varia com a capacidade da embalagem devolvida para reciclagem, que pode ser descontado nas diversas superfícies comerciais ou doado a instituições de solidariedade social. O objetivo é igualmente incentivar os consumidores a separar as embalagens, embora aqui sejam exclusivamente de plástico, tendo sido recolhidos mais de um milhão de embalagens de bebidas de plástico entre 13 de março e 30 de junho de 2020.

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