Camané: "Celeste Rodrigues tinha a tristeza boa do fado"
"Não me sai da cabeça um dos fados que eu acho que é dos mais incríveis da carreira da Celeste, Praia de Outono. É um poema lindíssimo do David Mourão Ferreira", diz-nos Camané ao telefone, antes de descrever a fadista que conheceu ainda muito jovem, tinha ele 10 anos. Celeste Rodrigues morreu nesta quarta-feira aos 95, depois de uma carreira de mais de 70.
"Cantou até morrer. Ainda aqui há dias, na festa de anos dela [14 de março], sentou-se numa cadeira e cantou. Há pouco tempo cantou em Nova Iorque com o Carlos do Carmo. Tinha uma juventude, uma alegria de viver incrível. E estava sempre rodeada de gente jovem. Conseguiu influenciar uma série de gente no fado. Foi uma pessoa muito especial", continua.
O fadista de 50 anos chama a atenção para a dificuldade extrema de, sendo irmã de Amália, "conseguir fazer uma carreira, quando se tem uma irmã daquela dimensão. Mas ela conseguiu, conseguiu criar um estilo próprio, fez uma carreira fantástica, com um reportório genial".
Camané, que se tornou amigo de Celeste Rodrigues, bem como da sua família, descreve-a como uma mulher "muito inteligente". "Aprendeu sozinha a falar sueco, francês, italiano, espanhol, inglês. Tinha uma capacidade de aprender muito fora do normal."
"Tinha a tristeza boa do fado, que nos faz exorcizar a tristeza. Acho que uma das coisas bonitas no fado, e na música em geral, é que a alegria não se questiona, a tristeza é que é cantada em quase todas as línguas. Ela tinha esse lado, de quem consegue sorrir com a tristeza, que a Amália também tinha e que os grandes fadistas têm."
Quanto ao resto, diz Camané, "é importante que as pessoas oiçam".