De Bill Condon nunca sabemos o que esperar: tanto pode ser cinema com latitude cinéfila como Deuses e Monstros (1998) ou produtos sem alma como as sequelas de Twilight ou a biografia de Julian Assange, O Quinto Poder (2013). Em A Mentira Perfeita /The Perfect Liar, ao menos, não se estampa. Estamos na presença de um funcional thriller de indústria que, entre outros méritos, entretém com dignidade e sabe-se valer dos talentos de Sir Ian McKellen e Dame Helen Mirren..Não é todos os dias que um estúdio de Hollywood como a Warner aposta num objeto protagonizado por veteranos... E o que se pode realçar é que a química entre ambos é um programa à parte. As cenas entre McKellen e Mirren são de uma delícia intrinsecamente de "velha escola"..A trama policial não tenta agradar a públicos adolescentes nem a algoritmos demográficos, é apenas um conto de vigaros e mascaradas onde quanto menos se souber melhor, embora não seja "spoiler" revelar que tudo começa quando um veterano criminoso charmoso, Roy (McKellen), tenta golpear uma recém viúva londrina, Betty (Mirren). A intriga, cheia de fintas e segredos, só nos diz que a pobre coitada parece cair no conto do vigário, mesmo quando o neto faz trinta por uma linha para evitar a desgraça da avó. Uma intriga que estará sempre a trocar-nos as voltas e a fazer jus à fama de "estar à frente do espetador", mesmo quando em "flashback", uma outra "sub-intriga", atira-nos para traumas nazis do passado..Baseado no romance de Nicholas Searle, The Good Liar é sobre mentiras de "clichés" e se entrarmos no jogo tem um piadão enorme, sobretudo quando parece ser uma celebração das nossas lembranças de espetadores com tudo o que já vimos na categoria do "quem engana quem". O "nada é o que parece" é levado a um ponto que roça a comédia cruel de burlesco. Ou seja, o excesso de "twists" e um tom melodramático ruidoso é parte de um esquema declarado. Mesmo sendo algo rebuscado, é um filme que se equilibra entre as incoerências do material "bestseller", não refutando todos os contornos da crónica de bons malandros..Bill Condon filma tudo em bicos de pé para equilibrar o humor cínico com os deveres do suspense e é particularmente eficaz em tirar proveito dos pequenos detalhes do golpe. Em justa verdade, importa realçar a segurança classicista de uma ideia de "thriller de chá das cinco" que aqui se encena. Por tudo isto dá muito prazer ficarmos presos nas areias movediças desta história de enganos.A Mentira Perfeita não quer inventar a pólvora mas só com muito pé atrás podemos dizer não a esta reunião entre Mirren e McKellen. Atores com manha e perfeitos a dar uma malícia tão britânica a tudo isto..*** Bom.trailer:.https://www.youtube.com/watch?v=gEWL1XIPTqI