Oprazo de validade dos blockbusters está em risco. Neste ano, de Hollywood vão sobretudo surgir superproduções de 2020, a extensa lista dos filmes que foram adiados. As palavras "adiados" e "blockbuster" juntas não dão propriamente uma fórmula atraente em termos de marketing. Filmes como Free Guy ou mesmo Velocidade Furiosa 9 poderão sair algo prejudicados pelo efeito de espera. Será então o verão do escoamento de uma safra de blockbusters que muitos acreditam que funcionam como teste para perceber como a indústria do cinema poderá reagir às consequências da pandemia..Na América os sinais da retoma parecem animadores, em especial depois dos números bem simpáticos de Godzilla vs Kong. No fim de semana passado, Um Lugar Silencioso 2 também animou as bilheteiras com quase 50 milhões de receitas, mostrando que há público a voltar às salas, mesmo com algumas delas ainda a abrir lentamente e com restrições na lotação. São os tais sinais positivos que os analistas diziam ser essenciais. Na China, os lucros chegam mesmo a níveis antes de toda esta situação, tal como no Reino Unido em que as receitas já não andam longe dos números de 2019. Por cá, mesmo com a campanha #váaocinema, as salas dos centros comerciais ainda estão com números muito aquém do desejado, já para não falar que as pipocas continuam interditas. Filmes como Godzilla vs Kong ou Um Homem Furioso foram prejudicados pela ausência das sessões mais noctívagas (até dia 13 não há ordem para alívio nas restrições de horários e a nobre sessão das 21h30 continua proibida). Ainda assim, os chamados bulldozers de verão estão aí prontos para ir à guerra, mesmo contra o apelo da praia, das esplanadas, dos filmes em streaming em simultâneo e do Europeu de futebol. Aliás, a própria vaga de sessões de cinema ao ar livre pode também ser uma nova realidade neste contexto..A época terá começado oficialmente na semana passada com dois blockbusters potentes, Cruella e Um Lugar Silencioso 2, mas The Conjuring: The Devil Made Me Do It tem tudo para poder ser um dos filmes com maior capacidade de juntar multidões - com distância - nas salas de cinema. Trata-se de mais um dos filmes desta franquia de terror, um filão da Warner pensado por James Wan a partir de supostas histórias verídicas em torno de fenómenos do paranormal. Os detetives de casos de possessão e entidades do além, Lorraine e Ed Warren, tornaram-se personagens empáticas muito sólidas e os dois filmes anteriores tinham um nível de realismo que realmente assustava. Em Portugal (e em todo o mundo), os resultados surpreenderam os mais otimistas e o nome Conjuring é já por si motivo de muita expectativa. O único problema agora é perceber se Michael Chaves é cineasta à altura da herança - o seu anterior A Maldição da Mulher Que Chora era muito fraco....Eis a sequela de O Guarda-Costas e o Assassino, projeto que juntava Salma Hayek, Samuel L. Jackson e Ryan Reynolds. O primeiro filme foi um sucesso inesperado e rentabilizava uma fórmula de cinema de ação em modo de farsa com a dupla Jackson/Reynolds em sequências de ação sempre em espiral de fantasia. Desta vez, o assassino contratado e o relutante guarda-costas têm a ajuda da mulher do assassino, interpretada por Salma Hayek. Nesta altura em que está na moda colocar mulheres como heroínas esta continuação acerta no timing. Morgan Freeman e Antonio Banderas também dão uma ajudinha. Em breve, o DN publica uma reportagem em rigorosíssimo exclusivo nacional da rodagem em Trieste..Pensar que os dados do ICA (instituto que regula o cinema) mostram que milhões de portugueses já pagaram para ver filmes desta saga é pensar que este F9 tem tudo para ser um dos campeões desta temporada. Não há que ser génio para perceber que o gangue destes aceleras comandados por Vin Diesel são o ai-jesus do público-alvo dos multiplexes. Se há filme que pode retirar o medo do espectador em voltar às salas é este. O único sarilho em Portugal com esta sequela realizada por Justin Lin é o diferendo da Universal com as salas da NOS. Até hoje ainda nada foi resolvido e este braço-de-ferro entre o estúdio americano e as salas da NOS obrigará a estreia mais limitada. E logo agora que era tão necessário. Ainda para mais, o elenco volta a ter Helen Mirren, Charlize Theron e um novo vilão, John Cena. Pelo hype nos EUA, diz-se que este pode ser o mais conseguido da franquia..Curioso perceber como o público da Marvel reage a este primeiro filme pós-covid. Importa realçar se o facto de poder ser também visto na Disney + Premium poderá também ter efeitos...Isto para um filme que se assume como "prequela", ou seja, mostra-nos as aventuras de Natacha Romanoff antes da sua morte, isto é, antes dos dois últimos Vingadores..Black Widow poderá marcar a despedida de Scarlett Johnsson de um papel que a tornou a atriz com maior cachet de Hollywood. E estamos na presença de um conceito de super-heróis no feminino: a realização está a cargo de Cate Shortand (Lore) e a outra heroína do filme é Florence Pugh..Pode estar aqui o maior risco da Disney nesta temporada: uma história original e com personagens novos, sem sequelas ou spin-ofs. Jungle Cruise, de Jaume Collet-Serra, é apenas baseado numa atração da Disneylândia, tal como já era Piratas das Caraíbas. E aqui o tom é o mesmo: um cruzeiro na selva com criaturas e surpresas sobrenaturais. Uma aventura para a família com os efeitos visuais topo de gama e a atração de um elenco que inclui Dwayne Johnson, Emily Blunt e Paul Giamatti. Em Portugal, a Disney vai igualmente apostar numa versão com vozes nacionais..Esquadrão Suicida e O Esquadrão Suicida. A diferença entre os dois filmes tem cinco anos. O de 2016, sem artigo, teve muitos problemas e não foi o sucesso que se esperava na adaptação do material original da DC sobre um grupo de super-heróis renegados agrupado pelo governo para combater Joker. Pois bem, a Warner, sem medos, arriscou e toca a fazer de novo com um dos maiores magos do entretenimento popular atual, James Gunn. O realizador de Guardiões da Galáxia manteve alguns dos atores e trouxe novos rostos (da portuguesa Daniela Melchior a John Cena). Supõe-se que o tom mude por completo. É seguramente o único filme deste género que pode ter algo verdadeiramente refrescante..Depois de O Guarda-Costas e a Mulher do Assassino, Ryan Reynolds será visto neste Free Guy, de Shawn Levy, uma comédia que imagina o que acontece quando um empregado bancário percebe que está dentro de um jogo de computador. Eternamente adiado, muitos são os que duvidam do impacto de um filme que é pensado para um público essencialmente juvenil. Resta saber se a lógica repetitiva do videojogo anula ou não a linguagem cinematográfica.. dnot@dn.pt