Benfica visita o PAOK. O clube do presidente armado onde Sérgio Conceição pendurou as botas
O PAOK Salónica é a primeira de duas barreiras que o Benfica terá de ultrapassar para chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões e ao prémio de mais de 40 milhões de euros. Quis o sorteio que esta terceira pré-eliminatória - só terá uma mão - se realize a 15 de setembro no Estádio Toumba, outrora um autêntico inferno protagonizado por adeptos fanáticos, mas que desta vez estará vazio devido à pandemia.
Trata-se de um clube que foi fundado em 1926 por habitantes de Constantinopla (atual Istambul) que se mudaram para Salónica, depois da derrota da Grécia na guerra com a Turquia, entre 1919 e 1922.
Com três títulos de campeão grego (1976, 1985 e 2019), o PAOK esteve nas bocas do mundo em 2018 por causa do seu presidente, Ivan Savvidis, que entrou em campo com uma arma à cintura, quando o árbitro anulou um golo à sua equipa na partida com o AEK Atenas. Durante duas horas, o jogo esteve parado com o milionário grego nascido na Geórgia - amigo pessoal de Vladimir Putin - a exigir aos jogadores que abandonassem o relvado em protesto pela anulação do golo que impedia a sua equipa de chegar ao primeiro lugar da Liga grega.
As imagens correram mundo, com a federação grega a suspender o campeonato durante duas semanas, tendo depois dado a vitória no jogo a AEK Atenas, equipa que conquistaria o título. Quanto a Savvidis, foi impedido de entrar em estádios durante três anos, razão pela qual não esteve presente nas bancadas nos dois últimos jogos com o Benfica, na Luz e no Toumba, em agosto de 2018 para o playoff de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões. Em Lisboa registou-se um empate 1-1, tendo os encarnados treinados por Rui Vitória garantido o apuramento em Salónica com um triunfo por 4-1.
Estes foram dois dos seis jogos entre as duas equipas na história das competições da UEFA. O saldo tem sido favorável ao Benfica, que conseguiu sempre o apuramento tendo apenas empatado uma vez e perdido outra, ambas na Luz.
Tudo começou na segunda eliminatória da Taça UEFA de 1999-2000, uma edição de má memória para os encarnados, afinal, depois de afastarem o PAOK, sofreram a maior goleada da sua história: os famosos 7-0 de Vigo, com o Celta.
Mas a 21 de outubro de 1999 tudo corria bem ao Benfica, que foi ao inferno de Toumba vencer por 2-1, com golos de Nuno Gomes e do defesa brasileiro Ronaldo Guiaro. Estavam abertas as portas do apuramento, mas na Luz a equipa então treinada pelo alemão Jupp Heynckes, depois de ter estado em vantagem (golo de Kandaurov), viu os gregos darem a volta ao marcador, empatando a eliminatória. No desempate por penáltis o Benfica foi mais feliz, vencendo por 4-1.
Este duplo confronto fez que o Benfica se enamorasse por dois jogadores do PAOK, o médio grego Machairidis e o extremo egípcio Sabry. Ambos assinaram contrato e mudaram-se para a Luz em janeiro, sem grande sucesso, diga-se, embora Sabry ainda tenha tido alguns jogos interessantes (nove golos em 42 jogos), como que justificando os 800 mil euros que custou o seu passe. Menos sorte teve Machairidis, que apenas fez 16 jogos de águia ao peito.
No Estádio Toumba, um golo de Lima permita à equipa treinada por Jorge Jesus abrir as portas do apuramento, que acabou por ser consumado em Lisboa com um triunfo por 3-0, com golos nos últimos 20 minutos da autoria de Gaitán, Lima (penálti) e Lazar Markovic. Do lado dos gregos, destaque para o regresso azarado de Katsouranis à Luz, médio que tinha representado os encarnados durante três épocas (2006 a 2009), e que seria expulso ainda com o resultado em 0-0.
O último duelo entre estes dois emblemas realizou-se há duas épocas, para o playoff da Champions. A 21 de agosto, na Luz, um penálti marcado por Pizzi não chegou para evitar o empate 1-1, numa partida marcada pela estreia de João Félix nas provas da UEFA.
Do lado dos gregos alinhou Vieirinha, que dos sete portugueses que vestiram a camisola do PAOK é aquele que mais jogos disputou (217). Seguem-se o defesa Miguel Vítor (116), formado no Benfica; o guarda-redes Daniel Fernandes (95); o atual treinador do FC Porto, Sérgio Conceição (47), que ali fez as últimas três épocas como futebolista profissional; o defesa Ricardo Costa (37), o avançado Edinho (16) e Sérgio Oliveira (15), que atualmente representa os dragões.
Refira-se ainda que o treinador do PAOK Salonica é Abel Ferreira, que no início da época passada largou o Sp. Braga para abraçar a primeira aventura no estrangeiro, não conseguindo melhor do que o segundo lugar no campeonato e as meias-finais da Taça da Grécia. Agora, procura algo que o clube nunca conseguiu: chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões.
Curiosamente, Abel Ferreira nunca venceu o Benfica enquanto treinador, tendo perdido quatro jogos para a I Liga e empatado outro para a Taça da Liga, na Luz, sempre enquanto treinador do Sporting de Braga. O técnico do PAOK foi um antigo jogador de Jorge Jesus no V. Guimarães. No entanto, ambos já se defrontaram enquanto técnicos, com vantagem para Abel, que venceu dois jogos, empatou um e perdeu outro sempre frente ao Sporting de Jesus.
Abel Ferreira é o segundo treinador português a representar o PAOK, depois de Fernando Santos, atual selecionador nacional, que se sentou no banco da equipa de Salónica entre 2007 e 2010.
Além do Benfica, o PAOK Salonica apenas defrontou outra equipa portuguesa. Foi o Leixões, em 2002, na primeira eliminatória da Taça UEFA. Os matosinhenses eram treinados por Carlos Carvalhal, militavam na II Divisão B e chegaram à Europa por terem sido finalistas vencidos da Taça de Portugal na época anterior. Apesar de militar no terceiro escalão do futebol nacional, o Leixões venceu por 2-1 em casa, mas na Grécia acabou eliminado devido a uma derrota por 4-1.
Agora o PAOK vai voltar a enfrentar o Benfica, num duelo que já começa a ser tradição, algo que foi devidamente sublinhado pelo clube grego nas redes sociais. "O dia tem 24 horas, o sol nasce de manhã, a água ferve a 100 graus e jogamos contra o SL Benfica ou o AFC Ajax no verão", escreverem os gregos, como que dizendo mal à sua sorte.
O Benfica respondeu a esta espécie de lamento com uma imagem de Adel Taarabt, como que a dizer... lá terá de ser.