Nuno Gomes

Integrou a primeira equipa de infantis do clube de Amarante, cidade onde nasceu, participou em provas de canoagem, no Tâmega e é vedeta do Benfica<br />
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Despertou para a luz da ribalta nos infantis do Amarante FC. Jamais se deixou inebriar pela fama. Quando volta à cidade do Tâmega esconde o carro para não dar nas vistas.Com os amigos de escola saboreia cabrito assado e pão de Padronelo, cozido em fornos de lenha

Amarante está em festa e não somente pela tradição das romarias, do ribombar do foguetório, das maçanetas, vigorosas, desancando os bombos, do pochim!, pochim! das filarmónicas. O Mundial marca o compasso da respiração, dá o tom das cavaqueiras, serve de clarinete para os mais macambúzios. Bandeiras nacionais dependuradas de janelas e varandas, esferas armilares transformadas em bolas de futebol saúdam uma verde esperança que se quer celebrada com canecas e malgas de verde tinto, "sangue de galo", comenta Carlos Vitória.

Na histórica ponte, junto a S. Gonçalo, ora a respirar os aromas das famosas pastelarias dos papos-de-anjo, o povo exulta com a véspera da competição, há quem rogue por ajudas divinas e faça promessas, inclusivamente. Também no município à beira do Tâmega que corre tranquilamente a expectativa remoinha entre gabinetes e corredores, chamadas telefónicas e homenagens a programar.

"A coisa não é para menos", assim se exprime um cidadão da terra escorado a um candeeiro, à fresca. "São daqui o Nuno Gomes , o Ricardo Carvalho, bons rapazes de Amarante. Ali está a casa do Nuno , frente ao Hospital de S. Gonçalo. Lá estão as bandeiras nacionais."

Aqui, adiante, falam, falam com familiaridade dos craques, do Nuno , "o mocito parecia que não partia um prato e vai-se a ver tem cá uma força dentro do campo!..." Não tem que espantar, atalha outro amarantino: "Já nos infantis regalava a vista. Só um ceguinho não via que tinha futuro", sorri pela espontaneidade da frase, muito a calhar a quem se autoproclama mestre de trocadilhos com acordeão Paolo Sopranini a tiracolo.

Técnico de desporto, um outro Nuno , este Nuno Queirós de seu nome, conhecido por Cafu. Amigo do Nuno , do Nuno Gomes desde tenra idade, diz que ambos integraram os infantis no primeiro ano em que o Amarante FC criou o escalão. "Até no Verão jogávamos futebol pelos Armazéns do Marão, empresa de bicicletas patrocinadora dos torneios. Era só ganhar, ganhar."

Nuno Queirós, companheiro de bola e de aventuras de Nuno Gomes , assegura que o benfiquista sempre se revelou um ponta-de-lança nato, notava-se que o moço tinha pernas para andar. Até porque "o sonho dele era ser jogador de futebol. Lutou, lutou muito por isso". Os pais, reformados, "incentivaram-no a seguir a carreira. Bem, mais o pai". Genes familiares, ou o irmão Tiago não tivesse também enveredado pela modalidade, acabando recentemente com o vínculo contratual que o ligava ao Marco.

Tinha o quarto decorado com posters de jogadores e a fibra de um atleta disciplinado, dado ao companheirismo. Novamente o amigo: "Quando regressa, comemos cabrito assado no forno e trigo de cantos", o pão de Padronelo. Ah, pelo estômago também se robustece a alma.

O roubo de maçãs e os calções rasgados

Diz quem o conhece: "Certa gente tem uma ideia errada do ser e do estar de Nuno Gomes ." Menino e moço quando despertou para o futebol, coleccionou vitórias e amigos. Fica triste quando, de volta à terra, os antigos e companheiros de brincadeiras o tratam por você - muito usado na Foz e em Cascais, mas não em Amarante. Ainda no relato de Nuno Queirós, ele não se sente bem a dar autógrafos. "A fama, para o Nuno , nunca foi importante. Chega a esconder o carro para não dar nas vistas". A 23 de Dezembro, o calendário ordena que se reúnam num jantar os antigos jogadores do Amarante. Nuno Gomes alinha, lembra os velhos tempos, a participação em provas de canoagem, no Tâmega. Pior foi quando, nessa altura, o pai lhe deu uns calções de banho que a publicidade garantia mudarem de cor quando molhados. Após treinar, o Nuno trepou às árvores, roubou maçãs e rasgou os calções. Foram tais os raspanetes em casa que os calções até coraram.


Perfil

Nuno Gomes, Avançado do Benfica

Nasceu a 5 de Julho de 1976

Começou nos infantis do Amarante FC

Ingressou no Boavista, ao lado de João Pinto

Vencedor da Taça de Portugal, pelos "axadrezados", ingressou no Benfica, tendo representado a Fiorentina, que conquistou a Taça Itália. Na Luz ganhou a Taça de Portugal e um título nacional na época de 2004-2005

Nuno Miguel Soares Pereira Ribeiro mudou o último nome em homenagem a Fernando Gomes , o seu ídolo de infância. Nasceu em Amarante, Hospital de S. Gonçalo, e, para o futebol, veio à luz nos infantis do Amarante FC, precisamente no primeiro ano em que a colectividade criou essa categoria. No palmarés não faltam triunfos nacionais e internacionais, ao serviço do Boavista, Benfica e Fiorentina. Semifinalista no Euro 2000, vice-campeão no Euro 2004, terceiro lugar no Mundial sub-20, quarto nos Jogos Olímpicos de Atalanta 96. Apontado como um dos melhores pontas-de-lança portugueses, desde cedo revelou ter pernas para andar e... marcar. Destacou-se no Bessa, mas foi no Benfica que ganhou projecção internacional. Após a passagem pela Fiorentina, regressou à Luz para ajudar os encarnados a reconquistar o título 11 anos depois. Mostra grande parte do seu potencial na recepção de bola de costas para a baliza e rápida rotação. Para o remate mortífero ou para servir um colega de equipa.

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