Bebel Gilberto em Portugal, "tentando não pirar muito"
Não deve ser fácil ser filha de João Gilberto, esse monstro da música brasileira, e de Miúcha, cantora, compositora e irmã de Chico Buarque. Não deve ser fácil pertencer a esta família e querer seguir uma carreira na música. Mas foi o que fez Bebel Gilberto que aos 9 anos já se tinha apresentado no Carnegie Hall com a mãe e Stan Getz e já tinha participado nos musicais Pirlimpimpim e Saltimbancos. Em 1986 lançou o primeiro EP em nome próprio, que incluía o tema Preciso Dizer Que Te Amo, composto em parceria com Cazua e Dé, que viria a ser incluído na coletânea Red Hot + Rio (1996) e que é, ainda hoje, depois de tantas versões, um belo tema de amor.
Aos 52 anos, a brasileira Bebel Gilberto regressa a Portugal e apresenta-se nesta segunda-feira na Casa da Música, no Porto, e na terça-feira no Teatro Tivoli, em Lisboa, para recordar este e outros temas dos seus mais de 30 anos de carreira (e, quem sabe, antecipar alguns temas do próximo disco), acompanhada unicamente pelo guitarrista Guilherme Monteiro.
Conhecida pelo estilo eletrónico que imprimiu à bossa nova, em discos como Tanto Tempo (2000) ou Momento (2007), em 2009 lançou All In One, o seu disco da maturidade, gravado com a famosa editora de jazz Verde e com a colaboração de produtores como Mark Ronson, Carlinhos Brown e Mario Caldato Jr.
Neste momento, Bebel está a fazer uma digressão pela Europa e em junho terá concertos nos EUA. Além disso, está no processo de gravação de um novo álbum, ainda sem nome definido mas que será todo cantado em português e que pretende lançar até ao final do ano: "É um disco mais maduro", explicou numa entrevista recente à Folha de S. Paulo, lembrando que em maio completa 53 anos. Será um álbum "bem eletrónico, meio moody [temperamental]. Falo muito de amor, com aquela coisa melancólica do teclado", revelou. "Este disco tem uma vibe de filme antigo, uma coisa meio noir."
Depois de mais de 20 anos a viver em Nova Iorque, nos EUA, a cidade onde nasceu, Bebel Gilberto voltou para o Rio de Janeiro em dezembro de 2018: "Para ficar perto dos meus pais", contou a cantora. Acompanhou os últimos tempos de vida da mãe, que morreu no final do ano passado, e está a tentar ajudar o pai na fase complicada que ele está a passar, com imensas dificuldades financeiras e processos pendentes na justiça.
"Lidar com a velhice não é fácil. Eu vi isso com a mamãe. Eu mesma me sinto diferente. Então a gente tem de se cuidar", comentou a cantora, que gostava de fazer um filme sobre Miúcha: "A mamãe era muito conectada com as pessoas importantes da cultura mundial. É muita história para contar", diz.
Bebel com a mãe, Miúcha, em 1976:
Com o pai, João Gilberto, nos anos 80:
Sobre a situação atual do Brasil, Bebel Gilberto diz que este é um momento "complicado": "Se você começar a avaliar muito, dá uma pirada. Então eu estou seguindo com a minha vida, literalmente com a minha, tentando não pirar muito. Tentando não começar a discutir com todo o mundo, não comprar briga com as pessoas, porque não adianta nada. E rezar for better days. É só o que a gente pode fazer. Vibrar para que momentos melhores venham, e que a gente saia dessa para uma melhor."
Para Bebel, a música é um "meio para se manifestar, dizer o que a gente pensa": "Pregar coisas boas, o amor. É o que eu faço. Fico falando de coisas bonitas, lembrando que é bom ser feliz. Que é bom namorar, se amar. Que pregando o amor, de alguma forma, você vai isolar o mal."