Azeredo Lopes ponderou chamar Marcelo Rebelo de Sousa como testemunha
O ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes é esta segunda-feira interrogado, a seu pedido, na fase de instrução do processo de Tancos, no qual é acusado de denegação de justiça, prevaricação, favorecimento pessoal praticado por funcionário e abuso de poder.
À entrada do tribunal, na manhã desta segunda-feira, o antigo governante não quis responder às perguntas dos jornalistas, afirmando que irá responder e "esclarecer" todas as dúvidas do juiz de instrução, Carlos Alexandre.
"Vou dizer aquilo que me for perguntado e o que eu puder esclarecer. Vou dizê-lo lá dentro e não perante vós", disse Azeredo Lopes.
Germano Marques da Silva, o advogado do ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes revelou também que ponderou chamar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a depor como testemunha do processo Tancos.
"Ponderei e só não o fiz por ser uma alta figura de Estado com direito a imunidade e com possibilidade de não responder", afirmou Germano Marques da Silva.
O defensor do ex-ministro da Defesa disse ainda aos jornalistas que só chamou o primeiro-ministro, António Costa, a depor como testemunha, "por ter havido notícias de que o Ministério Público quis chamá-lo, mas [que] foi impedido de o fazer".
Para a defesa de Azeredo Lopes, "os factos que lhe são imputados não passam de meras conjeturas, gravemente infundadas, não são suportadas em provas juridicamente relevantes", lê-se no Requerimento de Abertura de Instrução (RAI) do processo sobre o furto e a recuperação do armamento militar dos paióis de Tancos.
O ex-ministro irá depor a seu pedido perante o juiz de instrução Carlos Alexandre com a convicção de que é "vítima de uma grave injustiça" e que o "tribunal há de reconhecê-lo".
No RAI, um documento com 250 páginas, o advogado Germano Marques da Silva refere que "procurou mostrar neste longo requerimento como é absolutamente infundada a acusação" deduzida pelo Ministério Público.
Opinião oposta tem o Ministério Público (MP) ao considerar que o ex-ministro da Defesa desrespeitou deveres funcionais como a isenção, imparcialidade, zelo e lealdade, classificando de "extrema gravidade" os crimes que lhe são imputados.
Segundo a acusação do MP, a recuperação do armamento furtado dos paióis de Tancos, em junho de 2017, deve-se a um "verdadeiro pacto de silêncio entre Azeredo Lopes e os arguidos da GNR, Polícia Judiciária Militar e que todos criaram sérios obstáculos à descoberta da verdade material".
Azeredo Lopes demitiu-se do cargo a 12 de outubro de 2018.
Nove dos 23 arguidos do processo de Tancos são acusados de planear e executar o furto do material militar e aos restantes 14, entre os quais Azeredo Lopes, é-lhes imputada a participação na encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
O inquérito de Tancos investigou o furto, em 28 de junho de 2017, e as circunstâncias em que aconteceu a recuperação de grande parte do material militar, em 18 de outubro do mesmo ano.
(Notícia atualizada às 10:28).