O Ministério Público (MP) sustenta que o ex-ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, soube de todo o plano ilegal da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR para recuperar o material de guerra furtado em Tancos, através de um acordo com um dos suspeitos..Para o Ministério Público, o comportamento de Azeredo "é extremamente grave" . Além de ter exercido os seus poderes de ministro " contra os fins que lhe foram atribuídos", beneficiando criminosos, ainda violou a "fidelidade reclamada pela sua qualidade" de MDN..O Ministério Público aponta e descreve vários encontros entre o diretor da PJM, Luís Vieira, e Azeredo, na casa deste último e no ministério, nos quais ia sendo informado do desenrolar dos acontecimentos..Segundo o MP, 15 dias antes do ''achamento' o ministro sabia que estava prestes a acontecer e que tudo tinha sido feito em acordo com um dos suspeitos, em troca da sua proteção..Azeredo nunca informou o MP, nem a PJ..Ministério Público quer ouvir deputado socialista devido a troca de SMS com ex-ministro.Outra situação a comprometer o ex-ministro é uma troca de SMS com o deputado socialista, Tiago Barbosa Ribeiro, no dia 18 de outubro, quando as armas foram localizadas. Aliás, o Ministério Público quer ouvir o deputado a propósito desta troca de mensagens. Os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal referem que a inquirição do deputado carece de autorização do presidente da Assembleia da República.."Tiago Barbosa Ribeiro, deputado, inquirição cuja autorização deve ser requerida ao Presidente da Assembleia da República, o que se requer", lê-se no despacho de acusação do caso de Tancos..Perto das 16 horas, o deputado enviou a seguinte SMS a Azeredo: "Parabéns pela recuperação do armamento, grande alívio...!".O ministro responde, dois minutos depois: "Foi bom: pela primeira vez se recuperou armamento furtado. Eu sabia, mas tive que aguentar calado a porrada que levei. Mas, como é claro, não sabia que ia ser hoje"..Se dúvidas houvesse, para os procuradores fica claro que Azeredo sabia mesmo com antecipação que estava em curso um plano para recuperar as armas..A confirmação que o ministro tinha algo a esconder, na opinião no MP, vem a seguir. Tiago Barbosa Ribeiro pergunta então a Azeredo se ele vai à Assembleia da República "explicar" o que aconteceu. E o ministro responde: "Venho, mas não poderei dizer o que te estou a contar. Ainda assim, foi uma bomba.".E fez mais. Segundo a acusação, o ex-ministro aprovou os louvores a militares da PJM, que tinham sido propostos por Vasco Brazão, em reconhecimento desde trabalho..Reencaminhou ao ministro da Administração Interna a proposta para louvar os militares da GNR que apoiaram a operação, o que Eduardo Cabrita subscreveu..Informado erradamente por Azeredo, no dia do 'achamento', o primeiro-ministro António Costa elogiou o trabalho da PJM e da GNR..O MP sublinha que a recuperação do material assumia um papel muito importante na imagem do Governo, numa altura em que se estava na agenda a tragédia dos incêndios e as consequências políticas, que levaram à demissão da Ministra da Administração Interna"..Para o MP toda a conduta de Azeredo Lopes, permitiu à PJM executar o plano ilegal, não informando a prática de crimes e de ilícitos disciplinares, dando cobertura ao acordo que tinha sido feito com o suspeito do assalto, garantindo a sua impunidade..O MP caracteriza assim o comportamento de Azeredo Lopes:.1 - Sabia que comprometia a investigação da PJ e do MP e beneficiava os suspeitos do assalto, impedindo e encobrindo a responsabilização criminal dos mesmos;.2 - Exerceu os poderes de ministro contra os fins do cargo, sabendo que estava a proteger criminosos - uma conduta de extrema gravidade punida pela lei;.3 -Infringiu as regras de legalidade, objetividade, imparcialidade e independência que devem nortear o exercício de altas funções públicas.