"Ataques de lobos solitários são impossíveis de evitar"

Entrevista a Philipp Rotmann, politólogo e diretor-adjuntono Global Public Policy Institute, em Berlim
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A Alemanha viveu em poucos dias quatro atentados. Dois deles reclamados pelo autoproclamado Estado Islâmico. Há alguma explicação para o que está a acontecer?

É preciso separar os casos. Por exemplo, em Reutlingen (no sul da Alemanha), o que aconteceu foi um homicídio - um sírio de 21 anos matou à facada uma colega. Isto só foi notícia porque o jovem é do Médio Oriente. Já em Munique (um jovem matou a tiro nove pessoas) e em Ansbach (um bombista suicida fez-se explodir perto de um festival), os dois autores sofriam de problemas mentais e os casos acabam por ser postos de lado quando não existe um interesse político. O facto de este último ser um refugiado torna-o, obviamente, um caso politicamente explosivo.

É precisamente da classe política que têm chegado mais reações.

As primeiras reações justificaram-se. Mas agora, até as alas da direita mais conservadora e da esquerda radical estão a responder de forma exagerada. Há lutas internas dentro do partido de Angela Merkel (CDU), e políticos populistas que estão a usar estes acontecimentos para mobilizar a luta contra os refugiados e contra a imigração. Claro que isto não está provado, os refugiados não são mais propensos a cometer crimes ou ataques terroristas do que os restantes cidadãos. Ataques perpetrados por "lobos solitários" são praticamente impossíveis de evitar.

E a sociedade alemã, de que forma está a reagir?

Em Berlim a vida continua normalmente e vários indicadores confirmam que o mesmo acontece nos locais onde aconteceram os ataques. Vai demorar algum tempo para perceber se as pessoas vão ou não mudar os seus comportamentos.

Angela Merkel interrompeu as férias para sublinhar que não vai alterar a política de acolhimento de refugiados na Alemanha. As consequências já são visíveis?

Uma grande parte da população já não vê a chanceler da mesma forma, mas se a apoiam ou não isso continua a ser uma questão em aberto. A verdade é que ainda não apareceu nenhum concorrente que possa ser levado "a sério" para as eleições legislativas do próximo ano na Alemanha.

Berlim

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