Assim nasceu uma estrela: Jessie Buckley!

Finalmente estreia em Portugal "Wild Rose - Rosa Selvagem", o filme que vai fazer de Jessie Buckley uma nova estrela no mundo do cinema e da...música. Um melodrama a tentar capitalizar a bizarria de uma escocesa de Glasgow cujo sonho é ser cantora de "country".
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Jessie Buckley. Os mais melómanos conhecem esta cantora através da fama conquistada depois de ter arrebatado os ingleses num show de talentos televisivo onde cantava como ninguém. Os cinéfilos descobriram-na em Besta (2017), de Michael Pearce, e, mais recentemente, em Judy, de Rupert Goold, onde era a assistente britânica de Judy Garland. Agora, depois deste drama musical, esta jovem irlandesa explode para a fama mundial. Uma interpretação espantosa onde dá a voz e alma numa personagem de uma escocesa acabada de sair da prisão e sonha ser cantora country. Trata-se de um daqueles papelões que projeta uma atriz e o efeito inclui já uma nomeação da Academia britânica e convites para uma mão cheia de papéis de protagonista em Hollywood.

O mais irónico é que Wild Rose - Rosa Selvagem não consiga, mesmo assim, ser salvo pela atriz-cantora. Sente-se que é um filme à beira de algo que não consegue ser: síntese de uma génese de musical realista mas que é, afinal, um melodrama sentimentalão sobre uma mãe solteira jovem em Glasgow a contas com um sonho (ou "pancada") em triunfar na cena country de Nashville. Segundo o lema desta rosa selvagem, a beleza deste género musical é ser apenas três acordes e a verdade, mesmo quando as prioridades da vida estão trocadas: negligencia os seus filhos pequenos e é pródiga em arranjar sarilhos.

Mas como em tudo na vida, há sempre uma oportunidade: graças à mulher para quem faz limpezas domésticas, grava uma canção que conquista Bob Clark, o famoso especialista de country (o cameo dessa lenda viva é bem esgalhado...). A partir daí o seu sonho em ser cantora profissional country aumenta, mesmo quando a realidade social da sua vida real parece bater à porta com estrondo.

Formatado em jeito de biopic musical estilizado, Wild Rose fica sempre num limbo indeciso entre a tradição do cinema social britânico e o conto de fadas para fita de domingo à tarde. A espaços tem um ritmo e energia exemplares, sobretudo nos números musicais, capazes de contagiar mesmo quem não é aficcionado pela country, especialmente por tudo aquilo que Jessie Buckley convoca.

Mas o que irrita mesmo é algum sentimentalismo à pressão, a exploração das crianças-atores "queriduchas" e toda uma quota programada de "boas intenções". Outro cineasta mais corajoso teria colocado mais veneno no dilema desta cantora dividida entre o apelo maternal e a vocação musical. Talvez Tom Harper devesse ter visto mais vezes The Rose/A Rosa (1979), de Mark Rydell, obra que era também conduzida pelo carisma de uma mulher, Bette Midler. Aliás, ainda recentemente vimos outro filme de Tom Harper, Os Aeronautas, igualmente com uma dispensável armadura de telefilme.

Outra das limitações deste melodrama menor é a sua propensão para o moralismo. E é pena pois esta cantora-empregada doméstica até tinha uma botas brancas de cowgirl que prometiam uma outra audácia...

Classificação: ** (Com interesse)

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