Os relvados onde as equipas portuguesas costumam treinar estão vazios. Os jogadores foram mandados para casa depois de na quinta-feira a Liga Portugal ter anunciado a suspensão dos campeonatos por tempo indeterminado. Têm sido recorrentes as publicações nas redes sociais dos atletas a trabalhar em casa, seguindo à risca o plano de treinos atribuído pelas respetivas equipas técnicas. Mas será esse trabalho suficiente para manter a forma até que seja decretado o retomar das competições?.José Soares, professor de Fisiologia na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto que trabalhou no Boavista e na seleção nacional, garante ao DN que "esta não é uma situação dramática para os clubes, sobretudo para os grandes, porque conseguem monitorizar tudo à distância"..A situação pela qual atletas e treinadores estão a passar não é estranha. "Os clubes estão a fazer aquilo que normalmente designamos por taper, que não é mais dos que a redução da intensidade do treino por forma a não sobrecarregar tanto os músculos", revela o fisiologista José Soares..O taper é na prática uma estratégia aplicada num período de uma a três semanas antes de uma competição. É muito utilizada, por exemplo, nos atletas que correm distâncias longas e visa reduzir a intensidade do treino antes de grandes competições por forma a diminuir o impacto da fadiga do trabalho diário no rendimento, sem afetar aquilo que foi potenciado pelos treinos intensos..Na prática, diz José Soares, este período de menor sobrecarga "pode trazer vantagens" para os jogadores e, consequentemente, para as equipas, pois "permite a alguns atletas recuperarem de lesões ou de pequenas mazelas que vêm agudizando com a competição e, ao mesmo tempo, mantêm um bom nível físico".."É fundamental fazer uma nova pré-temporada".Se tivermos em conta que ainda não é certo quando é que as competições serão retomadas, o que dependerá sempre da evolução da pandemia em Portugal, José Soares alerta para a necessidade de dar um tempo de duas semanas entre o anúncio do regresso da competição e o seu início. "Quinze dias é o período aceitável para qualquer pessoa readquirir a condição física necessária para entrar em competição", frisou, deixando um aviso para aqueles que quiserem apressar o reinício das provas por falta de datas: "Depois não venham queixar-se de que há lesões!".Ou seja, o risco de lesão existe se não for dado às equipas o tempo necessário para aumentar os níveis físicos para se chegar a um ritmo ideal para voltar a jogar. "É fundamental fazer uma nova pré-temporada", frisou o fisiologista que esteve no Mundial 2002, realizado no Japão e na Coreia do Sul, ao serviço da equipa das quinas, reforçando a ideia de que é preciso "o maior cuidado no regresso ao campeonato" por forma a "reduzir o risco de lesões"..Ainda assim, José Soares está convencido de que o regresso dos campeonatos não está para breve, uma vez que "a própria Direção-Geral da Saúde diz que o pico deste surto será em maio, como tal será sempre depois dessa data"..Até lá, os jogadores vão ter de trabalhar à distância, em suas casas, e de forma individualizada, algo que o professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto diz ser acompanhado à distância por todo o staff dos clubes que "têm em tempo real todos os dados dos jogadores, como a frequência cardíaca, os parâmetros físicos, a monitorização do sono, além de terem o controlo da alimentação". "Acredito até que seja mais fácil avaliar o grau de empenho dos jogadores à distância do que no dia-a-dia do treino em grupo", sublinhou..O grande problema é, de acordo com José Soares, a gestão do trabalho nos clubes ditos mais pequenos, que "não têm essa capacidade tecnológica". "Têm a tarefa mais complicada, pois não conseguem monitorizar o treino individualizado e aí entra a responsabilidade dos atletas", frisa, acrescentando que "é possível que haja clubes na I Liga nessa situação"..Linha telefónica privada e refeições ao domicílio.Neste período, os principais clubes anunciaram essas medidas de trabalho específico para fazer face ao regime de isolamento domiciliário a que os jogadores estão sujeitos. Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, disse numa nota publicada no site oficial do clube que os atletas da equipa principal estão sujeitos a "um exigente plano específico pormenorizado de forma a mitigar os efeitos desta paragem e garantir a manutenção dos necessários níveis físicos para atletas de alta competição"..Aliás, o médico Ricardo Antunes, em declarações à BTV, revelou mesmo que o próprio Benfica criou uma linha telefónica própria (Linha Covid-19 SLB) para apoio 24 horas aos atletas e ao staff..Por sua vez, Nélson Puga, médico do FC Porto, revelou em declarações ao Porto Canal, na passada sexta-feira, que os jogadores estão a ser "monitorizados à distância" e que o clube disponibilizou "um serviço para poder fazer chegar refeições" para que os atletas evitem, o mais possível, os riscos de contágio"..E, nesse sentido, o clínico dos dragões explicou que "a retoma terá de acontecer quando se entrar numa fase recessiva e quando as notícias do combate à pandemia começarem a ser mais positivas, mais de acordo com o que forem as recomendações da Direção-Geral da Saúde".