Depois da série The Loudest Voice , os bastidores da Fox News de Roger Ailes (1940-2017) chegam ao grande ecrã. E a mensagem é destemida. Se nessa produção de sete episódios transmitidos pela HBO, com Russell Crowe na pele de Ailes, o centro da história era a ascensão deste homem e o modo como geriu politicamente a carreira até à sua queda, por sua vez, Bombshell - O Escândalo pressiona bem o dedo na ferida dessa última fase do seu percurso como CEO do canal de notícias americano. A saber: o momento em que vieram à tona os casos de assédio sexual que derrubaram o magnata, um ano antes da sua morte..Reunindo um elenco irrepreensível, com Charlize Theron (entretanto nomeada para o Óscar de melhor atriz), Nicole Kidman e Margot Robbie (também indicada como atriz secundária), o filme de Jay Roach faz um exercício relativamente simples e em jeito de parangona: mostrar a arquitetura de situações que levaram as mulheres na órbita de Roger Ailes (interpretado por John Lithgow) a denunciá-lo na praça pública por recorrentes atitudes de assédio sexual. Numa altura em que ainda está fresco o caso de Harvey Weinstein, este é o tipo de matéria que põe o ecrã em chamas....Pelo menos é essa a intenção do realizador que nos deu comédias como Austin Powers ou Um Sogro do Pior, e que mais recentemente se voltou para as memórias de Hollywood, com Trumbo (2015), recuperando a história do argumentista Dalton Trumbo, vítima da "caça à bruxas". Para que conste, é mais desse espírito de não-deixar-morrer-a-memória que vive Bombshell, embora a linguagem tenha sobretudo tendência para os tiques televisivos..Assim, a lançar-nos no panorama e atmosfera nociva da Fox News surge, logo na abertura, a jornalista Magyn Kelly (uma quase irreconhecível Charlize Theron), espécie de anfitriã do filme, que fala para a câmara enquanto esta a persegue pelos corredores e escritórios da sede. Ela é uma autêntica estrela do canal e a primeira a criar agitação mediática ao confrontar o então candidato republicano Donald Trump com uma pergunta incómoda num debate: "Uma vez disse a uma concorrente do Celebrity Apprentice que seria uma bela imagem vê-la de joelhos. Isso soa-lhe ao temperamento de um homem que devemos eleger como presidente?" Depois disso, o Twitter ficou ao rubro, com Magyn fragilizada, e outras situações paralelas foram-se formando..É aí que entra em ação a Gretchen Carlson de Nicole Kidman (o seu caso já era destacado na série, com Naomi Watts no papel), a tomar a iniciativa de processar Roger Ailes, depois de ser despedida do canal, ao mesmo tempo que a jovem Kayla Pospisil (Robbie) salta à vista como o terceiro elemento desta equação - a mais recente vítima dos abusos de poder de Ailes, dentro das quatro paredes do seu escritório....Estamos então perante uma narrativa de vigorosa atualidade, bem alicerçada no discurso da era MeToo#, que parte do imediatismo televisivo para prender a atenção do espectador, um pouco ao estilo da própria Fox News. Aliás, subtileza é mesmo algo que não existe neste quadro, permanentemente em busca de diálogos para sublinhar ao que se vem e decalcar o recado feminista. Nesse aspeto, importa salientar o trabalho do oscarizado argumentista Charles Randolph (A Queda de Wall Street), cuja veia enérgica se sente a todo o momento. E, feitas as contas, este tom agressivo e direto de Bombshell é tanto a sua virtude como o seu defeito..** Com interesse