São fantasias de sonho, trabalhadas ao longo de milhares de anos, nalguns casos menos, noutros talvez um pouco mais. E há-as de todas as formas e feitios e em vários tons. Há as cores berrantes que até podem mudar consoante a circunstância e o cenário, há-as também enfadonhas, e por isso mesmo eficientes no seu cenário monocromático, há a forma do corpo, conjugada com padrões diversos, riscados, às bolinhas, coloridos, há texturas a imitar a areia ou as rochas, formatos vários a lembrar folhas, alguns com requintes de pormenor e recorte perfeito..A natureza é um prodígio de imaginação a inventar soluções no jogo da vida entre presas e predadores, que se nos oferece à contemplação se soubermos olhar. À vista desta profusão imensa de máscaras, os disfarces que nós humanos vamos criando para nos relacionar uns com os outros, para lidar com os mistérios da vida e da morte, ou tão simplesmente para nos divertirmos um pouco, não passam de pálida imitação..São muitas as estratégias e os exemplos conhecidos de camuflagem ou de mimetismo que podemos observar na natureza, e que os naturalistas e os biólogos há muito conhecem e estudam. Entre os mais familiares estará talvez o urso-polar, que, com a sua inconfundível pelagem branca, se funde no cenário-alvo do seu habitat natural. E o mesmo acontece com a menos conhecida raposa-do-ártico, que no inverno veste-se de branco mas na estação estival consegue mudar a pelagem, ganhando então os tons castanhos da estepe, para manter em dia a sua vantagem adaptativa..Mas estes são apenas dois exemplos, há muitos mais. Para não ir mais longe, é também o caso dos veados, cuja cor de terra lhes permite, até certo ponto, passar despercebidos na savana, onde aquela é justamente a cor dominante - e o mesmo é verdade para os leões, seus predadores naturais, que naquele cenário gozam igualmente da vantagem de a sua cor roçar o ruivo. Também eles conseguem passar despercebidos ao olhar das presas, quase até ao último momento.. No jogo permanente entre predadores e presas, a camuflagem, que a todos permite confundirem-se na paisagem, é uma das estratégias mais frequentes e disseminadas na natureza, e tanto ocorre em pequenos mamíferos e grandes carnívoros como nos grupos menos populares dos invertebrados. Nos insetos, o bicho-pau, com o seu feitio (e cor) de galho, patinhas quase impercetíveis e uma lentidão a condizer, é um desses casos exemplares. Mas há muitos mais. A lista é imensa. Aqui ficam alguns: os esquilos, pela sua cor terrosa, confundem-se facilmente com os troncos e os ramos das árvores; os tubarões, vistos de cima, têm a cor azul-forte que torna difícil distingui-los do próprio mar e, vistos de baixo, passam despercebidos na claridade da superfície; insetos vários, pela sua forma e cor, mais parecem folhas de plantas em todos os seus detalhes, da cor à forma e ao recorte, incluindo a locomoção, que se assemelha nestes casos a uma espécie de ondulação ao vento..Em todos estes casos, os animais nada podem fazer para alterar o seu aspeto exterior. A seleção natural favoreceu aquelas características por serem vantagens adaptativas, e elas foram passadas à geração seguinte. Na prática, os indivíduos com aquelas características, que lhes conferiam mais oportunidades de sobrevivência, foram os que proliferaram..Este processo observado em borboletas, cuja forma e cor imitavam folhas de plantas na perfeição, foi um dos que mais contribuíram para que o naturalista Alfred Wallace, que a par de Darwin fez observações da natureza e independentemente dele teorizou também a ideia da evolução das espécies, ficasse convencido da importância da seleção natural nos processos da vida..Mas se naqueles casos os animais não têm capacidade para controlar e alterar a sua camuflagem, há muitos outros que o fazem, mudando de cor à medida que o cenário também se altera, quando passam por exemplo das árvores para o chão, ou para uma outra superfície. O exemplo mais conhecido é o do camaleão, que tem na pele umas células chamadas cromatóforos que sintetizam e armazenam pigmentos. Estes animais, e muitos outros como rãs, polvos, alguns insetos e lagartos, têm a capacidade de controlar os pigmentos no interior das células, alterando assim a sua própria cor. É uma espécie de camuflagem ativa, para imitar a cor ambiente, de forma a passarem despercebidos, quer dos predadores naturais quer das presas de que se alimentam..Numa derivação subtil destes mecanismos, há ainda espécies que sendo inofensivas assumem a aparência ou têm padrões e colorações idênticos aos de outras que são venenosas para os seus predadores, o que lhes serve para eventuais predadores que prefiram jogar pelo seguro e as deixem em paz. O polvo é um dos que, face a um eventual perigo, conseguem mascarar-se de serpente-marinha..Recentemente, os cientistas confirmaram que estas estratégias adaptativas não são exclusivas dos animais. Com efeito, há inúmeras plantas que na luta pela sobrevivência dispõem desta mesma possibilidade de se confundirem com um ambiente rochoso, por exemplo. Mas o papel exato deste processo nas plantas ainda não é bem conhecido.