No Reino Unido, as eleições locais, agendadas para maio, foram adiadas um ano. Nos Estados Unidos, as primárias democratas no Luisiana, que iriam decorrer no dia 4 de abril, passaram para junho. Num e noutro caso devido ao covid-19, assunto que domina as atenções de meio mundo, pelo perigo de saúde pública, e que, além disso, deixa a economia global em risco. Em França, a solução foi outra e as eleições municipais vão decorrer nas datas previstas, neste domingo e no seguinte. Isto apesar da solenidade com que o presidente se dirigiu aos compatriotas: "É a mais grave crise sanitária no espaço de um século. Com gravidade, mas lucidez, digo-vos que ainda estamos no início da epidemia.".A decisão foi tomada na quinta-feira, depois de presidente e ministros se terem reunido com especialistas de saúde. No dia anterior, o eurodeputado François-Xavier Bellamy, do partido de centro-direita Os Republicanos, desvalorizou o perigo. "Não é mais perigoso ir votar do que passar pelas pessoas na rua ou do que ir à padaria." Uma opinião que até há dias tinha o respaldo da maioria dos franceses: 68% consideravam que o risco de ir votar era fraco, enquanto 32% tinham ideia oposta, como diz o Le Figaro . Mas com o aumento do número de pessoas infetadas com o novo coronavírus, aliado ao anúncio de Emmanuel Macron, que incluiu a ordem de encerramento de todas as escolas, deu-se uma corrida aos supermercados - um sinal de inquietação social..Além da taxa de participação eleitoral poder bater um recorde negativo num escrutínio bastante popular em França, há quem tema inclusive pela organização das mesas de voto, em especial nos municípios afetados pelo surto. "As pessoas não querem propriamente tocar em centenas de boletins de voto neste momento", disse à AFP um membro habitual das assembleias de voto..Medidas de prevenção.Uma circular do Ministério da Administração Interna, com data de dia 9, impõe medidas de higiene e prevenção: os eleitores têm de manter uma distância mínima de um metro, seguindo uma marcação no chão; podem usar caneta própria e usar máscara, desde que a removam para efeitos de identificação. A assembleia de voto deve ter ao dispor gel alcoólico, e as mesas e cabinas de voto devem ser limpas "várias vezes ao dia". Nos poucos locais onde o voto é eletrónico, as máquinas devem ser limpas a cada 30 minutos. Além disso, as cortinas das cabinas devem estar instaladas de forma que os eleitores não lhes toquem..Com as atenções viradas para o covid-19, o teste das municipais a Emmanuel Macron passa para segundo plano. Algo que o próprio já no início do ano tentara fazer: "Não vou pressupor que as pessoas votem neste ou naquele candidato porque apoiam ou não o presidente, acredito que isso não é verdade, e não vou tirar automaticamente consequências nacionais disso." Mas não será, obviamente, o que a oposição e os comentadores irão dizer em caso de desaire do partido do presidente, La République en Marche (LREM)..O partido de Macron, que beneficiou da deserção de políticos à esquerda e à direita quando surgiu, encontra-se em fragilidade. Resultado da dificuldade em recrutar candidatos, a LREM apresentou listas em apenas uma em cada quatro cidades com dez mil ou mais habitantes. Ainda assim, o secretário-geral do movimento fundado em 2016, Stanislas Guerini, estabeleceu a meta da eleição de dez mil conselheiros municipais, num total de 500 mil eleitos..Três anos depois de o mais jovem presidente de sempre ter chegado ao Palácio do Eliseu com a promessa de uma revolução, a larguíssima maioria do eleitorado não aprova a sua gestão. Segundo uma sondagem da Elabe, do início do mês, a gestão de Macron é bem vista por 29% dos eleitores. Primeiro foi a revolta da França rural, com os coletes amarelos, ao que se seguiu a greve geral contra a reforma do sistema de pensões, que acabou por ser aprovada por decreto..A aposta de Macron e dos seus partidários é em grandes cidades como Paris, Lyon e Estrasburgo, para poder contrabalançar a previsível derrota em números absolutos e nas zonas rurais. "Este escrutínio será um indicador bastante precioso para se conhecer a penetração do macronismo ao nível local", comentou o diretor do Cevipof (centro de estudos da vida política francesa), Martial Foucault..Na capital francesa a campanha do partido no poder viu o seu candidato, o ex-porta-voz de Macron, Benjamin Griveaux, a desistir depois de ter sido divulgado um vídeo de sexo. O presidente lançou a ministra da Saúde, Agnès Buzyn, que segue atrás quer da atual autarca, a socialista Anne Hidalgo, como da conservadora Rachida Dati. Há mais cinco candidatos, entre os quais um militante da LREM que concorre como independente, o matemático Cédric Villani..A surpresa Dati.A ex-ministra da Justiça e maire do 7.º distrito de Paris desde 2008 é a sensação da campanha. Na segunda-feira à noite, contou com o apoio do antigo presidente Nicolas Sarkozy. Um momento de grande simbolismo: desde a sua derrota nas primárias de direita, em 2016, que o ex-chefe de Estado não falava em público. E, para uma parte significativa do eleitorado de centro-direita, Sarkozy continua a ser uma referência.."Estamos a ser levados por uma onda que está a subir de dia para dia", disse Rachida Dati no comício. Na quinta-feira, a média de quatro institutos de sondagens atribuía uma vantagem de dois pontos percentuais a Hidalgo, quando no dia anterior Dati recolhia 25% de intenções de voto e a autarca 24%. A candidata do partido Os Republicanos lembrou que em novembro ninguém acreditava que podia disputar a edilidade. "Estavam certos de que a primeira volta seria jogada como um duelo no qual dois arrogantes lutavam pelo palco", disse em alusão a Anne Hidalgo e ao ex-candidato Benjamin Griveaux..Tal como Sarkozy ganhou popularidade com um discurso em que a segurança era prioridade, Dati seguiu o mesmo compêndio. Se a segunda volta for a três, as sondagens dão neste momento uma vantagem confortável para Hidalgo..Referência ainda para dois partidos que podem lucrar com a crise do partido de Macron. Os Verdes poderão manter a dinâmica das eleições europeias (13,5%) graças aos novos e ativistas eleitores. E a União Nacional, o partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, que espera reforçar o número de municípios que detém e conquistar Perpignan, a primeira cidade com uma população superior a cem mil habitantes..Como decorrem as eleições municipais.Em que diferem as eleições municipais em França das autárquicas em Portugal?.Em França há eleições locais em três níveis: por região, por departamento e por município. Nas municipais, que decorrem em duas voltas, são eleitos mais de 500 mil conselheiros municipais, que têm de concorrer em listas equilibradas em termos de género. Depois, os conselheiros designam os 34.970 presidentes (maires) das respetivas câmaras. O mandato é de seis anos..Quem vai à segunda volta?.Em teoria até podem concorrer todos. Claro que se uma candidatura obtiver mais de 50% dos votos não há necessidade de segunda volta. Se não houver um vencedor imediato, as candidaturas que obtiveram pelo menos 10% dos votos defrontam-se numa segunda volta. Na prática, isso pode levar a desafios a três (triangulares), a quatro (quadrangulares) ou mesmo a cinco (pentagulares) na segunda ronda. Além disso, aqueles que obtiveram pelo menos 5% na primeira volta podem unir-se aos que se qualificaram para a segunda volta..As regras são iguais em todas as localidades?.Não. Cada uma das três maiores cidades francesas - Paris, Marselha e Lyon - está dividida administrativamente em arrondissements (distritos). Por exemplo, na capital há 20 arrondissements e 17 eleições separadas: uma para os primeiros quatro distritos, e outra em cada um dos restantes 16. Nas três cidades, um terço dos eleitos tem assento na Câmara e o restante tem assento nos conselhos de cada distrito. Ao escolherem o presidente da Câmara de forma indireta, os conselheiros municipais podem designar um candidato que teve menos votos que o adversário, Isso já aconteceu em 2001, com os derrotados no sufrágio popular Bertrand Delanoë, em Paris, e Gérard Collomb, em Lyon.
No Reino Unido, as eleições locais, agendadas para maio, foram adiadas um ano. Nos Estados Unidos, as primárias democratas no Luisiana, que iriam decorrer no dia 4 de abril, passaram para junho. Num e noutro caso devido ao covid-19, assunto que domina as atenções de meio mundo, pelo perigo de saúde pública, e que, além disso, deixa a economia global em risco. Em França, a solução foi outra e as eleições municipais vão decorrer nas datas previstas, neste domingo e no seguinte. Isto apesar da solenidade com que o presidente se dirigiu aos compatriotas: "É a mais grave crise sanitária no espaço de um século. Com gravidade, mas lucidez, digo-vos que ainda estamos no início da epidemia.".A decisão foi tomada na quinta-feira, depois de presidente e ministros se terem reunido com especialistas de saúde. No dia anterior, o eurodeputado François-Xavier Bellamy, do partido de centro-direita Os Republicanos, desvalorizou o perigo. "Não é mais perigoso ir votar do que passar pelas pessoas na rua ou do que ir à padaria." Uma opinião que até há dias tinha o respaldo da maioria dos franceses: 68% consideravam que o risco de ir votar era fraco, enquanto 32% tinham ideia oposta, como diz o Le Figaro . Mas com o aumento do número de pessoas infetadas com o novo coronavírus, aliado ao anúncio de Emmanuel Macron, que incluiu a ordem de encerramento de todas as escolas, deu-se uma corrida aos supermercados - um sinal de inquietação social..Além da taxa de participação eleitoral poder bater um recorde negativo num escrutínio bastante popular em França, há quem tema inclusive pela organização das mesas de voto, em especial nos municípios afetados pelo surto. "As pessoas não querem propriamente tocar em centenas de boletins de voto neste momento", disse à AFP um membro habitual das assembleias de voto..Medidas de prevenção.Uma circular do Ministério da Administração Interna, com data de dia 9, impõe medidas de higiene e prevenção: os eleitores têm de manter uma distância mínima de um metro, seguindo uma marcação no chão; podem usar caneta própria e usar máscara, desde que a removam para efeitos de identificação. A assembleia de voto deve ter ao dispor gel alcoólico, e as mesas e cabinas de voto devem ser limpas "várias vezes ao dia". Nos poucos locais onde o voto é eletrónico, as máquinas devem ser limpas a cada 30 minutos. Além disso, as cortinas das cabinas devem estar instaladas de forma que os eleitores não lhes toquem..Com as atenções viradas para o covid-19, o teste das municipais a Emmanuel Macron passa para segundo plano. Algo que o próprio já no início do ano tentara fazer: "Não vou pressupor que as pessoas votem neste ou naquele candidato porque apoiam ou não o presidente, acredito que isso não é verdade, e não vou tirar automaticamente consequências nacionais disso." Mas não será, obviamente, o que a oposição e os comentadores irão dizer em caso de desaire do partido do presidente, La République en Marche (LREM)..O partido de Macron, que beneficiou da deserção de políticos à esquerda e à direita quando surgiu, encontra-se em fragilidade. Resultado da dificuldade em recrutar candidatos, a LREM apresentou listas em apenas uma em cada quatro cidades com dez mil ou mais habitantes. Ainda assim, o secretário-geral do movimento fundado em 2016, Stanislas Guerini, estabeleceu a meta da eleição de dez mil conselheiros municipais, num total de 500 mil eleitos..Três anos depois de o mais jovem presidente de sempre ter chegado ao Palácio do Eliseu com a promessa de uma revolução, a larguíssima maioria do eleitorado não aprova a sua gestão. Segundo uma sondagem da Elabe, do início do mês, a gestão de Macron é bem vista por 29% dos eleitores. Primeiro foi a revolta da França rural, com os coletes amarelos, ao que se seguiu a greve geral contra a reforma do sistema de pensões, que acabou por ser aprovada por decreto..A aposta de Macron e dos seus partidários é em grandes cidades como Paris, Lyon e Estrasburgo, para poder contrabalançar a previsível derrota em números absolutos e nas zonas rurais. "Este escrutínio será um indicador bastante precioso para se conhecer a penetração do macronismo ao nível local", comentou o diretor do Cevipof (centro de estudos da vida política francesa), Martial Foucault..Na capital francesa a campanha do partido no poder viu o seu candidato, o ex-porta-voz de Macron, Benjamin Griveaux, a desistir depois de ter sido divulgado um vídeo de sexo. O presidente lançou a ministra da Saúde, Agnès Buzyn, que segue atrás quer da atual autarca, a socialista Anne Hidalgo, como da conservadora Rachida Dati. Há mais cinco candidatos, entre os quais um militante da LREM que concorre como independente, o matemático Cédric Villani..A surpresa Dati.A ex-ministra da Justiça e maire do 7.º distrito de Paris desde 2008 é a sensação da campanha. Na segunda-feira à noite, contou com o apoio do antigo presidente Nicolas Sarkozy. Um momento de grande simbolismo: desde a sua derrota nas primárias de direita, em 2016, que o ex-chefe de Estado não falava em público. E, para uma parte significativa do eleitorado de centro-direita, Sarkozy continua a ser uma referência.."Estamos a ser levados por uma onda que está a subir de dia para dia", disse Rachida Dati no comício. Na quinta-feira, a média de quatro institutos de sondagens atribuía uma vantagem de dois pontos percentuais a Hidalgo, quando no dia anterior Dati recolhia 25% de intenções de voto e a autarca 24%. A candidata do partido Os Republicanos lembrou que em novembro ninguém acreditava que podia disputar a edilidade. "Estavam certos de que a primeira volta seria jogada como um duelo no qual dois arrogantes lutavam pelo palco", disse em alusão a Anne Hidalgo e ao ex-candidato Benjamin Griveaux..Tal como Sarkozy ganhou popularidade com um discurso em que a segurança era prioridade, Dati seguiu o mesmo compêndio. Se a segunda volta for a três, as sondagens dão neste momento uma vantagem confortável para Hidalgo..Referência ainda para dois partidos que podem lucrar com a crise do partido de Macron. Os Verdes poderão manter a dinâmica das eleições europeias (13,5%) graças aos novos e ativistas eleitores. E a União Nacional, o partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, que espera reforçar o número de municípios que detém e conquistar Perpignan, a primeira cidade com uma população superior a cem mil habitantes..Como decorrem as eleições municipais.Em que diferem as eleições municipais em França das autárquicas em Portugal?.Em França há eleições locais em três níveis: por região, por departamento e por município. Nas municipais, que decorrem em duas voltas, são eleitos mais de 500 mil conselheiros municipais, que têm de concorrer em listas equilibradas em termos de género. Depois, os conselheiros designam os 34.970 presidentes (maires) das respetivas câmaras. O mandato é de seis anos..Quem vai à segunda volta?.Em teoria até podem concorrer todos. Claro que se uma candidatura obtiver mais de 50% dos votos não há necessidade de segunda volta. Se não houver um vencedor imediato, as candidaturas que obtiveram pelo menos 10% dos votos defrontam-se numa segunda volta. Na prática, isso pode levar a desafios a três (triangulares), a quatro (quadrangulares) ou mesmo a cinco (pentagulares) na segunda ronda. Além disso, aqueles que obtiveram pelo menos 5% na primeira volta podem unir-se aos que se qualificaram para a segunda volta..As regras são iguais em todas as localidades?.Não. Cada uma das três maiores cidades francesas - Paris, Marselha e Lyon - está dividida administrativamente em arrondissements (distritos). Por exemplo, na capital há 20 arrondissements e 17 eleições separadas: uma para os primeiros quatro distritos, e outra em cada um dos restantes 16. Nas três cidades, um terço dos eleitos tem assento na Câmara e o restante tem assento nos conselhos de cada distrito. Ao escolherem o presidente da Câmara de forma indireta, os conselheiros municipais podem designar um candidato que teve menos votos que o adversário, Isso já aconteceu em 2001, com os derrotados no sufrágio popular Bertrand Delanoë, em Paris, e Gérard Collomb, em Lyon.